Precisa de mim

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Todoroki pov

Tenho pesadelos com aquele dia até hoje. Vê-la completamente inconsciente, sem se mexer, consumida pela dor, destrói me. Sinto um fogo que me queima de dentro para fora e só me dá vontade de matar todos aqueles que lhe fizeram mal, ou pelo menos aqueles que restaram.

Fazem algumas semanas que resgatamos a S/n. Nina e Uraraka dizem que ela está a recuperar, pouco a pouco, e que quando estiver totalmente recuperada eu posso ir vê-la. Das primeiras vezes quase entrei pela porta do quarto da s/n a dentro, até elas dizerem que ela não me queria ver. Ou melhor, ela não queria que eu a visse naquele estado. E eu, embora não compreendendo, respeito. Por que se esperei tanto para que a missão de salvamento tenha sido bem feita, também espero para que ela se sinta pronta para me ver. É isso que sinto que devo fazer. É isso que acho que é amar alguém, é viver com este desconforto de não a ver até que ela queira.

As aulas não começaram desde que a S/n voltou. Estamos mais unidos que nunca para que tal ataque não volte a acontecer. Descobrimos que a S/n era uma peça fundamental para o esquema de Shigaraki. Vamos não só protegê-la como a nós também.

– Ela já está melhor?
– Bem... – Uraraka troca olhares com Nina– Sim, está melhor. Ela já anda a comer melhor e a sorrir até.– eu sorrio com aquela imagem– mas...
– Eu entendo...– Talvez não, mas respeito
– Não fiques assim Todoroki– Nina tenta animar me– Ela só não quer que o namora...– ela para e retoma envergonhada– Tu a vejas assim...

Eu concordo com a cabeça. Embora à uns dias para cá desconfio que não é só isso. São muitos olhares cúmplices entre elas as duas e não só. Todos parecem estar estranhos desde que S/n voltou. Sinto que há algo atrás disto, mas não sei o quê.

– Só mais um pouco– murmuro quando volto a treinar a minha habilidade

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– Só mais um pouco– murmuro quando volto a treinar a minha habilidade.

Quero estar mais forte que nunca e com o controlo total sobre a minha habilidade. Parte de mim continua a achar que tudo aquilo aconteceu por minha causa. Tenho de ser forte o suficiente para merecer estar com a S/n. Não posso voltar a deixar que ela corra perigo, não enquanto eu ainda respirar.

Sinto alguém a passar por mim, mas não ligo. Mantenho-me focado no meu treino até que ouço a voz irritante.

– Quanta covardia...–  A voz e Shinso sai quase como um sussurro.
– Covardia?– Perco a paciência e confronto-o de uma vez 
– Não tentes fingir ser um herói. Isso funcionou para os outros quando vieste com um plano todo politicamente correto. 
– Estás a falar do plano que realmente salvou a S/N? Que era seguro e que ao invés de perder mais do que uma vida, salvá-mos uma? É desse plano que estamos a falar?–  Eu aproximo-me dele lentamente sem perceber.
– Achas mesmo que és um máximo, não achas?– Ele solta uma gargalhada seca–  Pobre menino... Decide seguir as pegadas do papá, afinal, não teve a atenção dele na infância, teria de a ter em algum momento na vida. –Eu serro os punhos enquanto sinto uma chama fervente a subir até à cabeça.
– Não sabes do que estás a falar– remato
–  Na verdade, nem me interessa a tua infância nem de onde vieste.–  Ele revira os olhos e volta a falar, agora mais sério e menos sarcástico–  Mas interessa-me o facto de tu–  Ele coloca o indicador com força no meu peito em forma de julgamento– deixares essa mania toda subir-te a cabeça de tal forma que metes quem eu mais gosto em perigo.

Não digo nada. O silêncio cai sobre nós. Não deixo cair a cabeça, isso seria deixar cair a honra também, mas o meu olhar agora está apático. Arrependido talvez. Ele tem razão. 

– Não dizes nada...–  O sarcasmo volta –  Nós tínhamos um plano, nós sabíamos o que iríamos fazer, nós íamos conseguir e bem em breve. Mas não. Tinhas de vir tu com um plano seguro, seguríssimo, mas que demorou mais de um mês para ser totalmente executado. Espero que estejas a sofrer agora com as consequências, tal como eu estou.–  Ele vira as costas e vai para a outra ponta da sala até que eu o impeço já furioso.

–  Eu fiz a merda, eu sei– a minha voz sai mais alta do que deveria, mas eu já não ligo– Mas tentei concertar isso. Tu não fazes ideia do quanto me sacrifiquei, e sacrificaria infinitas vezes se isso implicasse que ela estivesse bem– Sinto um tremor dentro de mim que me faz perder a voz momentaneamente– Eu daria a minha vida se fosse possível, e já não estamos a falar de atos heróicos.

–  Tu não a mereces, espero que saibas disso– Ele fala num tom baixo e cruel– Se um dia ela voltar a ter a memória, espero que ela veja o quão fútil és.
–  Memória?–  Um ar frio contrasa com a minha ira fervente. Agora todo o meu corpo está gélido.

– Não me digas – Ele ri agora. A gargalhada é demorada. Mas ainda mais seca que a anterior–  O menino do Endeavor não teve coragem de ver a amiga que ele preferiu usar como troféu do seu grande calculismo inútil?

– Do que estás a falar? Disseram-me para não ir vê-la porque ela não queria que eu a visse. Opção dela.
–  Então não te contaram de todo...– sério, agora, ele olha-me nos olhos com algum sentimento que não sei descrever.– A S/N perdeu a memória. Não se lembra de nada até entrar na academia. Não se lembra de como controlar os poderes, dos amigos, de mim...– Uma certa mágoa prefura-o– e felizmente de ti também não... E espero que nessa parte continue.

Eu saio do recinto num ápice. Como assim ela não me reconhece? Talvez fosse só Shinso a tentar provocar-me mais uma vez. Agora não me vão prender, eu quero vê-la. Quero pereber se é real ou não. Já não se trata de violar o desejo da S/N, tudo está estranho e eu espero que não seja verdade....

–Todoroki, onde vais? –  Momo tenta acompanhar-me, mas eu não respondo–  Espera... Vais ver a S/N? Mas tu não podes...

–  E porque não?

– Ham... A Uraraka deve ter explicado... Vamos dar uma volta vem–  Ela tenta segurar-me o braço, mas eu solto-o abrutamente.

– Eu tenho cara de otário?–  A minha voz ressoa por todo o corredor– Eu quero vê-la agora e ninguém me vai impedir– Eu volto me para a direção do quarto da S/N mais uma vez, quando Nina e Uraraka chegam cansadas, parecia que tinham corrido uma maratona.

– Todoroki, espera– A voz de Uraraka é ignorada.

Continuo até ao quarto dela. Nada nem ninguém me podia parar. Quero ver pelos meus proprios olhos. 

Eu abro a porta abrutamente. Estava Tokoyami numa cadeira junto a cama de S/N que agora tinha acordado com o barulho da porta.

–Todoroki, por favor espera. Isto tem uma explicação.– Uraraka tenta explicar, mas já era tarde demais. 

– Quem és tu?–  Os olhos perdidos da S/N vagueiam pelo semblate de Tokoyami que tentava arranjar as melhores palavras.

– S/N... Sou eu...–  Eu ajoelho-me junto a cama dela– Meia chama... Lembraste?

– Eu não sei quem és–  ela afasta-se de mim como se eu fosse um louco–  Desculpa... 

Sinto a água a escorrer-me pelos olhos. Duas mãos agarram-me pelos braços e metem-me lá fora. 

– Para de chorar–  Bakugo ordena friamente–  Queres que ela se lembre de algo não é a chorar que vais conseguir.

– Vocês mentiram-me–  Eu cerro os punhos agora prontos para socar a cara do loiro, se ele não me tivesse agarrado primeiro

–  Adorava esta batalha, acredita meio merda–  ele diz numa mistura de fúria e pena– Mas se estivesses normal e não a chorar como uma criança. Eu não concordei em te mentirem, eu não te menti. Mas agora estás a dar-lhes razão. Estás a agir como um fraco. A tua namorada precisa de ti porra, acorda– Ele abana o meu corpo exausto e imóvel.

Ela precisa de mim... Agora é a hora de lutar.

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⏰ Última atualização: Jul 01, 2023 ⏰

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