Niyati abriu os olhos mas não conseguiu fazer mais que isso, ela parecia morta. O teto cinza a encarava de volta, ela tinha sobrevivido? Ela se sentia fraca, inerte, sem força nem mesmo para alisar a barriga e ver se seu bebê ainda estava lá, mas ela estava paralisada.
"Niyati?" A voz suave do doutor loiro a chamou, ela movimentou seus olhos na direção da voz e abriu a boca. Pânico! O que aconteceu com ela?
Um monte de barulhinhos soou, Niyati se apavorou ainda mais.
"Calma, querida. Você precisa se acalmar. Nós sedamos você e você ainda não saiu totalmente da sedação, entendeu?" A voz da mãe de Forest a fez fechar os olhos. Niyati confiava nela, confiava no doutor.
"Olhe para mim." Niyati abriu os olhos e olhou nos olhos dela, olhos límpidos, firmes.
"Agora eu quero que você mexa alguma parte do corpo, não importa qual, está bem?" Ela disse, Niyati piscou e tentou mexer os pés. Não deu. O pânico voltou a agarrar seu coração com dedos gelados, Niyati piscou várias vezes tentando se mexer, tentando sair daquela prisão que seu corpo tinha se transformado, mas ela não tinha forças.
"Calma. Você está bem. Eu vou acelerar seu coração e preciso que você o controle depois disso, ok?" O médico disse, Niyati piscou. Ela ouviu seu coração, tudo estava bem, mas não como antes ela podia fazer. Ela precisava dizer a Gabriel que não estava se sentindo como normalmente ela se sentia, mas não tinha como falar.
De repente, seu coração começou a bater muito rápido, Niyati pulou da cama, convulsionou e o médico a segurou.
"Faça o que eu disse, Niyati. Controle seu coração, você pode." Ele disse segurando Niyati contra a cama olhando nos olhos dela. Niyati começou a regularizar sua respiração e durante um longo e extenuante tempo ela só respirou profundamente até que seu coração voltou ao normal. O doutor franziu o cenho, mas não disse nada, sorriu e a soltou, Niyati se sentou. Ela abriu e fechou as mãos, mexeu os dedos dos pés.
"Isso foi..." A mãe de Forest disse.
"O stress da dor do parto colocou o corpo dela em repouso, nossa sedação agiu como a droga paralisante."
"Entendi. Às vezes me dá um desânimo! Há muitos poucos padrões, eu estou há anos aqui, mas diagnosticar sem protocolos fixos é tão difícil!" Ela disse.
"Eu acho revigorante." Ele disse e sorriu para Niyati.
"Eu me sinto bem. Onde está Forest? E..." Ela teve medo de continuar a pergunta.
"Forest está cuidando do meu netinho. Ele está bem. Precisa de cuidados, mas está bem. Iremos te levar para onde ele está em breve." Niyati se recostou contra a cama, o alívio enchendo seu peito.
"Eu nem sei o que dizer. Eu tive tanto medo! Eu sei que não deveria ter tentado sentir a aura daquele homem, mas foi mais forte que eu." Niyati explicou.
"Não existe relação com você ter tentado fazer o que você faz com o parto prematuro, querida. Forest me disse que você sentiu dores no dia anterior. Seu parto era de risco e como eu acabei de dizer, não temos parâmetros seguros quando se trata de vocês. Você e Halfpint são diferentes, todas vocês são." A doutora segurou a mão de Niyati e sorriu.
"Quando este cientista louco veio para cá, disfarçado de médico, ele dizia que um exame detalhado de cada Nova Espécie deveria ter sido feito logo que a Reserva e Homeland foram estabelecidos. Eu e os outros fomos contra, eles tinham sido muito abusados e estudá-los não era relevante, uma vez que tinham saúde física perfeita. Bom, isso está explodindo na minha cara agora." Ela disse, Gabriel riu, Niyati se encantou. Até a risada dele era suave e polida.
"Não se deixe enganar por essa carinha linda, ele não é flor que se cheire." Trisha disse.
"Então eu tenho uma carinha linda?" Gabriel perguntou, Trisha bufou.
"Eu sinto amizade e admiração mútua entre vocês. Isso é bonito." Niyati disse, Trisha suspirou.
"Ainda me sinto estranha, conversando e rindo com você. Quando todas aquelas coisas aconteceram eu me culpei. Eu te recomendei." A mãe de Forest disse, Gabriel foi até ela e lhe segurou as mãos.
"Você pode me perdoar?" Ele disse, Niyati sentiu arrependimento vindo dele e alívio vindo dela. Nos olhos deles, não como se ela pudesse sentir em sua alma esses sentimentos. Ela estava diferente, algo estava mudado.
"Sim, é claro. Você cuidou de Niyati e do meu neto. Você tem se redimido e eu já devia ter dito isso antes. Você merece perdão, meu amigo. Você trabalhou por isso e eu estou feliz por termos tido essa conversa." Ela sorriu.
"Obrigado." Ele sorriu.
A doutora começou a tirar os fios e agulhas ligados em Niyati, o médico lhe examinou os olhos, verificou seus batimentos de novo e saiu. Niyati foi ao banheiro, tomou um banho, sua barriga estava estranha, inchada, mas vazia.
"É estranho, não é?" Trisha disse, Niyati assentiu.
Ela queria ver e pegar seu bebê no colo, é claro, mas já sentia saudade de tê-lo dentro de si.
"Eu estou sangrando." Ela disse, a doutora lhe tocou a barriga e apertou.
"Você deve ficar assim por hoje, mas amanhã já estará sem sangramento. Você teve o bebê ontem, três dias de sangramento é um bom tempo, humanas ficam muito mais, de quinze a vinte dias."
"Você ficou?" Niyati perguntou, afinal, ela tinha quatro filhos.
"De Forest sim, eu não tinha ainda compartilhado sexo com meu marido o suficiente para mudar meu DNA, mas de Sly e Sharp foram só dois dias de sangramento. Meu parto foi normal, doeu, mas foi rápido. Nem tiveram que me dar pontos." Ela sorriu e ajudou Niyati a vestir uma calcinha com um absorvente estranho, externo. Niyati nunca tinha visto um como aquele.
"Eu não posso usar um absorvente como os que eu usava? Nós os chamavamos de presente, pois era fácil de usar e muito duradouro."
"É melhor usar esse, seu canal vaginal ainda deve estar voltando ao normal." A doutora disse, Niyati sorriu.
Ela vestiu um daqueles conjuntos macios e confortáveis e a mãe de Forest a guiou para fora do quarto. Elas andaram por corredores até chegar num quarto onde Forest estava, ele a abraçou, Niyati se encheu do cheiro dele e ela finalmente conseguiu relaxar, conseguiu realmente acreditar que tudo estava bem, que ela não tinha colocado o bebê deles em risco.
"Onde está ele?" Forest sorriu e apontou para uma janela. A janela dava para uma sala fechada e nessa sala, ou quarto, seu bebê, um bebezinho pequeno, estava dentro de uma caixa de vidro. Ele parecia tão pequeno! Tão frágil! As lágrimas vieram.
"Ele está bem, Niyati. Só ainda é bem pequeno e precisa ficar aí por algum tempo. Eu acabei de sair de lá, ele tomou uma boa quantidade de leite."
Niyati arregalou os olhos.
"Leite de quem?" Forest sorriu.
"Uma fórmula." Ela não entendeu.
"O quê?" Foi Trisha quem respondeu:
"Uma fórmula é uma espécie de leite com tudo o que ele precisa para crescer e se fortalecer."
"Ele deveria mamar em mim. Eu tenho leite, meu leite é bom."
Forest alisou o rosto dela com carinho.
"Sim, é. Mas eu acho melhor irmos devagar. Todo cuidado é pouco, querida. Podemos ir dando a ele a fórmula de Candid e também um pouco do seu leite. O que acha?" Niyati poderia curar seu bebê, poderia fazê-lo crescer mais rápido que a tal fórmula, mas ela concordava que tinha de ser prudente.
"Vista isso e poderá ir lá dentro e vê-lo de perto." Forest lhe mostrou uma outra roupa, Niyati sorriu e lhe deixou vestí-la.
Quando entrou no quarto, seu coração parecia querer sair pela boca de tanta ansiedade.
Ela se aproximou da caixa de vidro, seu bebê dormia lá dentro. Ele era tão pequenino!
Havia apenas uma penugem loira em sua cabecinha, mas já era possível ver que os fios tinham duas cores.
"Os cabelinhos!" Ela disse, Forest abriu um grande sorriso.
Niyati colocou a mão na abertura que Forest indicou e ela pode segurar o minúsculo pezinho e isso foi suficiente para ela sentir a força que já havia naquele pequeno corpinho, a força de seu filho.
"Ele é forte. Vai dar tudo certo, Forest, nosso filho é forte." Ela o abraçou, ele a apertou contra seu peito, Niyati sentiu seu calor, sua essência. Havia algo diferente, porém. Ele estava distante.
"Bom, vamos para o seu apartamento, você precisa descansar." Ele disse e abriu a porta. Niyati saiu, ela não queria, mas a porta tinha de ficar fechada, tinha de isolar seu filho para protegê-lo.
Lá fora, enquanto tirava a roupa, Niyati porém segurou no braço de Forest e disse:
"Eu quero ficar aqui. Não vou me afastar do meu filho." Ele a encarou, seus olhos mostravam confusão.
"Não faz diferença ficar aqui ou em seu apartamento. O tempo em que vai entrar na sala será o mesmo.
"Eu posso ficar aqui?" Ela perguntou, ele inclinou a cabeça.
"Acho que sim, mas..." Niyati não o deixou terminar:
"Então está resolvido, vou ficar aqui." Ela disse, ele beijou a testa com carinho.
"Ficaremos então." Ele disse e só aí é que Niyati o sentiu um pouco próximo.
A percepção dela estava lenta, ela não sentia as coisas como antes, principalmente Forest. Mas seu bebê era mais importante que tudo, Forest estava ali, Niyati sempre teve de escolher, sempre teve de analisar bem suas batalhas e lutar a que lhe parecesse mais importante.
"Eu me sinto estranha, não consigo sentir as coisas como antes" Ela disse depois que ele trouxe uma grande cadeira reclinável para ela e também comida.
"Coma e fique forte. A próxima vez que alimentarmos o pequeno Slade será com seu leite. Eu quero ir devagar, mas começar logo. Sabemos o poder do seu leite, acho que..."
"Pequeno Slade?" Niyati não tinha pensado num nome para o bebê. Em seus planos ele nasceria saudável, forte e quando olhasse nos olhos dele lhe daria um nome.
"Sim. É o nome do meu pai e meu também." Ele disse, Niyati ergueu as sobrancelhas.
"Meu nome é Forest Slade North. Ele é Slade North Segundo. Tudo bem? Eu sei que não falamos disso, mas era assim que eu pensava nele na sua barriga." Ele contou, Niyati sorriu.
Era um bonito nome com um significado incomum. Niyati e Sanyia adoravam imaginar o que passou pela mente de cada um deles quando escolheu seu nome.
"Eu gostei." Ele sorriu, Niyati estendeu a mão, ele se ajoelhou e beijou a mão dela. Carinho, mas só aquilo. O coração dela deu uma apertadinha, mas Niyati respirou fundo.
Uma batida na porta a fez se virar, uma das mulheres que foi apresentada a ela no almoço e seu marido, um Nova Espécie loiro.
"Oi." A mulher disse e se aproximou, ela tinha um lindo rosto delicado e olhos escuros.
"Oi." Ela pegou a mão de Niyati e sorriu.
"Nós queríamos saber de você e ver seu filhotinho. Se pudermos, é claro." Ela olhou para Forest. Niyati aumentou seu sorriso dizendo que estava bem. Eles olharam para Forest,
Forest assentiu e os ajudou a se arrumar para entrarem onde o pequeno Slade estava.
Eles se aproximaram da caminha de vidro com reverência, Niyati sentiu o amor, o carinho e a admiração dos dois por seu filhinho e suspirou.
O macho se ajoelhou, ele, como todos era alto. Niyati não conseguiu evitar se lembrar de todos aqueles homens e mulheres que se prostraram ante ela durante todos aqueles anos. Pequeno Slade não tinha poder algum, pelo menos agora não, e um macho se ajoelhava ante ele pelo simples fato de pequeno Slade ser um bebê. Um lindo bebê, de uma espécie especial, com várias linhagens de sangue Nova Espécie correndo por suas veias, mas ainda assim, as lágrimas que a linda mulher derramou ante sua caminha de vidro fizeram sair lágrimas dos olhos de Niyati também.
Forest bateu no vidro, o casal saiu do quarto fechado e os dois abraçaram Niyati com carinho prometendo que estariam enviando toda a sua boa vontade e os melhores desejos de recuperação ao pequeno Slade. Niyati beijou a testa da mulher e mesmo depois deles terem ido embora Niyati ainda tinha a sensação da pele quente em seus lábios e dos olhos escuros em sua mente.
"Forest?" Ela olhou para a porta e Candid estava lá.
"Eu preciso dar uma saidinha e como você está aqui a toa..."
Forest rosnou.
"Que parte de 'o hospital não é o seu parquinho particular' você ainda não entendeu em todos esses anos, Candid?" Forest cruzou os braços.
"A parte que é você que fala isso e eu não respeito você." Candid disse com um sorriso, Niyati arregalou os olhos.
Forest fechou o semblante e por mais que Candid era maior e mais forte que ele, Niyati, no lugar de Candid, o temeria.
"Onde está Honest?" Forest perguntou.
Candid fez uma careta.
"Com Wee. Aparentemente, ele está empenhado em fazê-la gozar." Candid olhou maliciosamente para Niyati quando disse a palavra 'gozar'.
"E Collin?" Forest perguntou e Candid bufou.
"Por favor, Forest é importante!" Forest suspirou e Candid saiu correndo, Niyati riu.
"Eu só vou fazer uma ronda, quando voltar alimentamos ele, ok? Com o seu leite." Ele disse, Niyati sorriu, Forest estava a porta quando Niyati perguntou:
"Forest, você me ama?"
Ele se virou com os olhos fixos nela e Niyati esperou.
"Sim, é claro. Eu preciso ir." Ele saiu e o frio lhe abraçou o peito.
Niyati olhou para suas mãos. Nada entre elas. Ananyia dizia que o dom de Niyati era neurológico e magnético. Niyati nunca se preocupou em classificar ou mesmo quantificar o que ela era. Mas agora era se sentia vazia.
E isso nunca aconteceu.
O olhar que o homem loiro olhava para a mulher pequena era de amor puro, um amor que não era preciso ter dom algum para sentir, era algo forte que tomava o lugar onde estavam, denso, impossível de não ser percebido. Um amor simples e infinito, algo que contagiava a todos.
Bela, esse era o nome da mulher, era pequena e não tinha dons. Ela era bem mais nova que Niyati, tinha um rosto primata, como Niyati já tinha aprendido a diferenciar, um lindo rosto primata, delicado e perfeito. Niyati curava as pessoas, a maioria das pessoas no caso, mas a cura que Bela operou em Shadow, seu marido, não precisou de dom algum. Niyati viu nos olhos azuis dele que sua alma foi torturada e por consequência, sua alma era doente. De uma doença que o dom de Niyati não poderia curar, mas que a pequena Bela curou, sem ter dom, sem grandes capacidades, só com seu amor.
Amor, esse sentimento que não era só um sentimento ali. Era uma Entidade. O Amor vivia naquele lugar entrelaçado profundamente na vida daquelas pessoas. O Amor ali se manifestava sem influências externas, era puro e genuíno.
E Niyati não o sentia nos olhos de Forest mais. Onde isso a deixava? Ela estava aprendendo sobre esse Amor, essa Entidade que tinha sua morada naquele lugar, não o sentindo, mas sim o vendo nos olhos, palavras e ações dos outros.
Niyati queria mergulhar no amago dessa Entidade, viver sob ele, mas pela primeira vez algo parecia distante dela, algo a deixava de fora.
Niyati se abraçou, ela não sabia viver num mundo onde ela não era amada. Todas as coisas que ela sempre teve, tudo só fazia sentido por Niyati ser amada.
Por seu pai, por Sanyia e Kabir e por suas filhas. Mas então Forest apareceu em sua vida e a apresentou àquela sensação fria e vazia.
Niyati precisava conversar com alguém. Ela não saberia viver sem o amor dele. Até encontrar alguém para conversar, o coração dela só podia pedir aos deuses que aquilo fosse uma lição, um aprendizado.
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Forest
FanficAté onde uma aventura inesperada pode curar um coração partido? Até onde podemos ir para salvar quem nós amamos? Essas perguntas e outras marcarão nossa próxima história, a história do primeiro Nova Espécie de segunda geração, Forest Slade North Pri...