CAPÍTULO 39

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Ela não gostava muito de se masturbar, mas era algo da vida como pentear os cabelos, então, Ann Sophie introduziu um dedo em sua vagina e o vibrou. Ela já deveria ter se levantado, o sol já estava alto, ela só acabaria aquilo e se levantaria.
Kismet lhe lambeu o clitóris, Ann Sophie fechou os olhos e se lembrou da língua áspera e circulou seu clitóris com o dedo. Era bom, era gostoso. Quando Kismet fez foi mais gostoso, Ann estremeceu.
A língua dele foi enérgica, Ann friccinou o dedo em seu clitóris com os olhos bem fechados. Ela se lembrou de ter segurado nos cabelos ruivos e rebolado contra...
Ann congelou.
Os cabelos de Kismet eram negros. Negros e lisos como a asa de um corvo. Não cheios e ruivos como uma brasa incandescente.
"Porra!" Ela não gostava muito de xingar, mas...
"Querida, ainda não se levantou?"
Ann se enrolou nas cobertas, sua mãe não ligaria se ela estivesse se masturbando na cama, mas ainda assim Ann se sentia embaraçada.
Ela se sentou apertando as pernas, a porta se abriu e o queixo de Ann caiu.
"Você tem visita." Sua mãe disse com um grande sorriso.
"Eu, eu... Eu vou..." Ann nunca se sentiu tão atrapalhada na vida.
"Que tal um café, Tia? Na varanda, assim, Ann pode acabar de se levantar." Ele sugeriu.
"Sim, vamos." Sua mãe e ele saíram, Ann pulou da cama e correu para o banheiro.
Ela tomou um banho rápido, vestiu um vestido simples, penteou os cabelos e foi para a varanda.
Sua mãe ria de algo que ele disse, então, poderia não ser o outro. Ann se sentiu ficar em alerta máximo.
"Nunca imaginei que você fizesse alguém rir, Simple. Pensei que o piadista de vocês fosse... Bom, você sabe." Ela disse, Simple sorriu. Um sorriso contido, sem mostrar as presas. Como Simple sorria.
"As piadas de Cam são mais engraçadas, mas isso não significa que eu não tenha senso de humor." Ele disse com a fisionomia afável, Ann sorriu. Candid estava em Fuller, como ela pôde pensar que ele pudesse estar ali com os cabelos presos e uma camisa vermelha?
"As piadas dele não são tão engraçadas assim. Ele debocha dos outros e isso é feio na minha opinião." Ann disse.
"É seu direito não achar engraçado. Mas todos sabem que Cam os ama, então ninguém se sente ofendido com o que ele fala." Simple disse com o rosto sério, Ann suspirou. Era mesmo Simple ali.
"Bom, eu tenho de ir. Hoje será um dia importante para Robert." Sua mãe disse.
A tão sonhada convenção do partido. Ann cruzou os dois dedos, sua mãe os beijou e saiu.
"A que devo essa honra?" Ann se sentou na outra cadeira.
"Geléia?" Simple lhe mostrou um potinho e apontou para uma bandeja com panquecas.
Ann o encarou. Os mesmo olhos puxados, os cabelos cheios, ruivos e brilhantes, os lábios bem feitos. O adorável nariz delicado e achatado pelo qual ele era tão famoso. Era Simple. Infelizmente.
"Cam faz toneladas de geleia e sai distribuindo, essa aqui já tem um bom tempo, está lacrada, veja." Ele disse e abriu o lacre do vidrinho.
"A sua funcionária fez as panquecas."
"Pensei que a geléia era feita por Noah. Não era por isso que eles discutiam? Se a geléia era mais gostosa que as panquecas?" Ele sorriu.
"Não. Eles não comparavam as panquecas com a geléia, são coisas diferentes. Noah dizia que a geléia dele ia bem com qualquer coisa, Cam dizia que sem as panquecas dele ninguém conseguiria engolir a geléia de Noah." Ann Sophie sorriu.
Ela comeu as panquecas com geléia e gemeu, aquela geléia era deliciosa.
Simple apertou os lábios. Ann o olhou, ele desviou os olhos.
"Você não disse o que veio fazer aqui." Ann refez a pergunta, Simple sorriu.
"Ver você, conversar um pouco. É claro que se o que o meu irmão idiota fez ainda te chateia e você quiser que eu vá embora, é só dizer." Ele disse, Ann balançou a cabeça. Ela engoliu e sorriu.
"Não, por favor fique." Ele aumentou o sorriso e passou o polegar pelos lábios dela, Ann tremeu.
"Estava sujo." Ele disse.
Ann encheu a boca, ela não entendia como seu corpo podia ser tão volúvel. Era Simple ali, um pouco frio e observador, não o furacão quente que era Candid, mas seu corpo não parecia distinguir os dois.
"E Collin e Lunna? Acha que vão acasalar um dia?" Ela achou melhor conversar sobre uma coisa inocente.
"Eu não sei." Ele disse, Ann se aproximou dele, ele se afastou. Ann fingiu que não notou e perguntou:
"Como você não sabe?"
"Collin precisa de um corpo, Ann. Ele está bem no corpo de Doze, mas não é certo isso, então ele se questiona se deveria estar lá. Quando Cam o implantou, ele não tinha escolha, na verdade tanto eu quanto Cam estávamos tão desesperados que não pensamos direito no que estávamos fazendo. Bishop usou o corpo de Doze, nós achamos que ele tinha morrido e só, mas não era assim. Essa coisa dos Chips devia ficar encerrada em algum lugar e nunca mais mexermos nela, se quer saber."
Ann segurou no braço dele, ele lhe tocou a mão.
"Eu sei que pode soar horrível o que eu vou dizer, mas por que vocês tem de trazer Doze de volta? Ninguém fez nada, fez? Pelo que eu soube, Honest acordou naquele corpo e até então, Doze não voltou. Não é?"
Ele assentiu.
"Sim. Mas isso significa que ele pode voltar a qualquer momento. Isso não é justo com Lunna." Ann suspirou.
"Ela sempre dizia que ia ficar com você. Mas eu acho que você e ela nunca se tocaram, não é?" Ann perguntou. Ela gostava de Lunna, mas as duas eram diferentes demais quando eram crianças e agora elas tinham se afastado.
Ele sorriu, mas não respondeu.
"Meu Deus! Você e ela..." Ele riu.
"Não fizemos nada demais. Eu não quis." Ele disse, Ann apertou o braço forte.
Era engraçado que Ann nunca pensou em Simple como forte. Para ela, Candid era forte, mas isso era uma idiotice, já que Simple era idêntico a Candid. Até nos músculos.
"Eu conversei só por um minuto com ela dessa última vez que fui a Reserva. Eu fui no hospital ver os trigêmeos de Joe, quer dizer, eles são trigêmeos?" Ann perguntou.
"Sim. Eu entendo sua confusão, por que Mirth e Bliss são univitelinos e Glee é gêmeo fraterno deles, mas no fim, eles são trigêmeos." Ann terminou de comer e se levantou. Simple também se levantou, Ann estendeu sua mão para ele e só quando ele lhe se segurou a mão, só quando ela sentiu os calos dele é que ela viu o que tinha feito.
"Desculpa! Eu meio que..." Simple sorriu e beijou a palma da mão dela.
"Qual o problema de andarmos pela propriedade de seu pai de mãos dadas? Eu gostei." Ann soltou a mão dele e começou a andar.
"É que nós nunca andamos de mãos dadas. Eu sempre faço isso com John ou até com o malandro do Gift." Ela explicou.
"Isso não é nada demais." Ele disse.
Eles andaram por um tempo, Ann se sentia em paz ali com ele, sem a pressão do desejo que ela sentia quando estava perto de Candid, era algo novo.
"Falando em Gift, você soube que ele e Cam lutaram? Por você?" Ann tropeçou.
"Gift fez o quê?" Ela quase gritou, Simple colocou a mão no ouvido.
"Ele desafiou Cam e Cam voou nele. Ele levou a melhor por que a luta tinha apenas começado e ele provocou Cam de uma forma que eu e Hon tivemos de impedir."
Ann Sophie parou, Simple parou também bem a frente dela.
"Você contou para Gift sobre o convite de Cam? Na minha cabana?" Ele disse com os olhos atentos, mas ainda assim calmos.
"Não. Eu não contei para ninguém, não com detalhes."
"Ele sabia até o que Cam e você tinham conversado." Simple disse.
"Como ele poderia saber isso?" Ann jogou os braços para o alto e os deixou cair, frustrada. Gift era impossível!
"Ele tem uma capacidade, uma muito boa. Tio Brass pode fazer isso, mas nunca fez, assim como meu pai poderia ter um faro como o meu, mas nunca o desenvolveu. Ele é furtivo. Pode haver uma palavra melhor, mas como ninguém liga para isso, é assim que eu chamo."
"Furtivo? Quer dizer que ele pode... O quê, ficar invisível?" Ann riu, ele também.
"Ele bem que gostaria, aquele pau no cu." Simple sussurrou, Ann ergueu as sobrancelhas.
"Desculpa." Ele disse com um sorriso, Ann deu de ombros, era legal ele pedir desculpas, Candid falava um palavrão a cada palavra e nunca se desculpava.
"Quando você entra num ambiente você olha em volta ou inspira?" Ele perguntou, Ann respondeu de pronto.
"Eu... Sei lá, olho em volta?" Que tipo de pergunta era aquela?
Simple riu, ela também riu, mas sem entender direito.
"Você é humana! Mas que porra!"
"Simple!" Ann reclamou. Não que um palavrão ofendesse a sensibilidade dela, mas ela não era humana! Ela era tão Nova Espécie quanto ele.
Simple inspirou e sorriu, meio sem jeito.
"Desculpa de novo, não vou falar mais dessa forma deplorável perto de você."
"Eu não me importo com os palavrões, porra! Eu sou Nova Espécie! Tão Nova Espécie quanto você!" Ele se aproximou mais e ergueu o queixo dela. Ann não teve escolha a não ser mergulhar nos olhos dourados, quentes, intensos.
"Não é o que seus olhos mostram. Mesmo os primatas tem pupilas maiores que as dos humanos. Os caninos quase nunca as retraem, mesmo num dia de muito sol. Mas seus olhos..." Ele passou o polegar sobre os lábios de Ann, ela achou melhor acabar com aquilo e deu um passo para trás.
Ele apertou os lábios, quase fazendo um biquinho, algo que ela achou sexy, mas como não devia ter esses tipos de pensamentos sobre ele, Ann desviou os olhos.
"Certo. Voltando a Gift. Novas Espécies se orientam pelo nariz. Você não cresceu com a gente e sua mãe, por ter trabalhado muito tempo com Jaded entre os humanos pode ter perdido isso de inspirar sempre em qualquer situação, sem se importar muito em olhar em volta."
Ann acenou.
"Quando acorda, antes de se masturbar, você abre os olhos ou inspira?" Ele perguntou, Ann engoliu em seco.
Ela sabia que ele saberia disso, ele sabia tudo sobre todo mundo através do cheiro.
"Eu abro os olhos." Ela disse. Se masturbar era uma coisa íntima dela, ela não tocaria nesse assunto.
"Então, aí está. Você é irresistível para aquele imbecil." Ele disse e voltaram a andar.
"O imbecil é Gift?" Ela perguntou, ele riu.
"Sim, ainda que ele seja só mais um dos imbecis que são apaixonados por você." Ele disse.
"Você está dizendo que Gift não é invisível para mim por que eu olho em volta dos ambientes em que eu estou?" Ann riu.
Ele riu também, ela lhe tocou o braço.
"Mais ou menos. Você é irresistível de qualquer forma." Ele disse, Ann parou de rir.
"Por que está aqui, Simple? Sério, você e eu não somos tão amigos e eu e Candid temos visões bem diferentes das coisas, mas ele foi muito sincero quando me convidou a entrar na sua cabana."
"Você se arrependeu? De não ter entrado?" Ele perguntou e Ann se aproximou dele. Algo no rosto dela o fez abraçá-la, Ann Sophie inspirou o cheiro dele, um cheiro tão bom! Cheiro de pele limpa e dele mesmo.
Ela sentiu seu coração contra sua bochecha e o apertou mais.
"Eu não sei. Não era só por que ele disse que seria só sexo. Eu tive medo de me apaixonar, de dar meu coração a ele, Simple. Você entende?" Simple beijou o topo da cabeça dela e por uns   instantes não respondeu.
"Você acha que Candid te magoaria? Acha que dar seu coração a ele seria um erro? Acha que ele partiria seu coração?" Ele perguntou baixinho, Ann alisou as costas fortes, ele estava quente, ela se sentia confusa.
"Candid não é mal, Simple, eu sei disso. Eu vi bem quem ele é e isso só me fez gostar mais dele. Ele lutou com Sheer tentando não machucá-lo e isso deve ter doído muito. Ele ficou todo machucado, mas ainda sorriu." Ann se sentiu estranha abraçando Simple e falando do irmão dele, então se afastou.
Ele sorriu, isso a encorajou:
"Ele parecia exausto! Ele fez tudo o que podia por Honest, para trazê-lo de volta. Isso foi muito bonito."
"Ele nos ama." Simple deu de ombros.
"Sim. Ele ama vocês e eu gostaria de ser o objeto de um amor assim, acha que ele poderia me amar um dia?" Ann Sophie perguntou. Simple desviou os olhos e ela olhou para as mãos. A resposta era muito importante, tanto que dava vontade de encerrar o assunto, mas ela queria saber. Mesmo se fosse um sonoro 'não', ainda assim ela queria saber.
"Essa resposta só ele poderia te dar, Ann. Candid não é como eu ou Hon, ele se permite sentir tudo, tudo mesmo. Ele se joga de cabeça nas coisas e tenta tirar o máximo de cada experiência, de cada interação. Talvez você deva só aproveitar o momento, que tal? Sem a pressão de viver algo especial, algo importante, algo memorável. Só viver, só sentir."
Ann sorriu para ele, Simple lhe tocou o rosto.
"Pense no que eu disse e fique longe do idiota do Gift." Ela riu.
"Diferente do seu irmão, Gift vem muito aqui. E ele é meu amigo, talvez meu melhor amigo."
Ann sorriu pensando em Gift. No sorriso sarcástico, na determinação e no modo como ele a olhava maliciosamente. Ela estaria mentindo para si mesma se não admitisse que os olhares dele a aqueciam. Ele tinha o rosto de John! O rosto lindo por qual ela foi apaixonada durante a maior parte de sua vida.
"Ele não está apaixonado por você, ele te deseja. Eu o entendo, você é..." Ele sorriu, Ann ficou vermelha.
Ele limpou a garganta.
"Que tal pararmos de falar naquele arromb... Em Gift?" Ann riu.
"Quer falar sobre o quê?" Ela perguntou, eles tinham chegado a uma colina, dava para ver todo o condomínio onde a casa dela ficava. Ann inspirou o cheiro que ela aprendeu a amar.
"Você gosta daqui." Ele afirmou.
"Sim. Eu amo esse lugar. Eu gosto da Reserva e também de Homeland, mas é por causa de que lá é onde todos vocês estão, não propriamente por causa do lugar. Você entende?"
"Sim, querida, eu entendo. Você criou raízes aqui. Aposto que conhece todo mundo." Ela sorriu assentindo.
"Você falaria comigo sobre Flora?" Ele perguntou, Ann se sentou na grama, sem saber o que responder.
"Você acha que ela mudou? Você estava com ela logo que ela e... Logo que eu e ela compartilhamos sexo. Ela saiu da Reserva, foi para Homeland, ficar com você, não foi?" Ele perguntou e Ann olhou para a grama, para seus pés descalços.
"Sim. Ela estava arrasada, mas eu acho que havia algo mais acontecendo." Ann não trairia a confiança de Flora, mas há muito tempo esse incômodo estava latejando no fundo da mente dela.
"Eu fui um idiota, Ann, mas eu não acho que era para tanto. Flora não voltou mais a Reserva, ela foi para Homeland e depois sumiu. Isso é muito estranho." Ann segurou a mão dele.
"Eu sinto muito pelo bebê. Eu não sabia, eu não sou como suas irmãs, meu faro não é tão bom. Mas ela engordou muito rápido, Simple, e então, eu soube. Ela me pediu segredo e eu..."
"Você foi leal, eu não esperaria nada diferente de você." Ele sorriu tristemente, pegou uma mão de Ann e beijou.
"Você acha que ela se vinculou a Brian?" Ele perguntou e Ann chorou.
Por que era uma pena. Flora era incrível e ele também. Os dois tinham um coração imenso, os dois eram altruístas e se importavam com os outros num nível quase impossível. Simple morreria de bom grado por qualquer um, Flora também.
"Não chore, minha linda. Você não precisa sofrer por essa história, está bem? Se ela se vínculou isso é definitivo e é o que é. O Vínculo age de formas inesperadas, mas nós temos nossos pais para nos mostrar que Ele sabe o que faz. E mais cedo ou mais tarde tudo fica claro, tudo vem à luz. Eu só tenho de esperar."
Ele disse de forma tão doce que Ann se perguntou se ele falava apenas de si.




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