Capítulo 3

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Na cafeteria...

— Pode pedir o que quiser — tentava ser cavalheiro.

— Vou querer apenas um suco de laranja.

— Não está na hora do seu almoço?

— Ah! Não! Ainda falta mais um pouquinho.

— Dois sucos de laranja, por favor.

A moça que atendia na lanchonete observava a interação entre eles e sorria discretamente. Ela registou os dois sucos de laranja e aguardou que o pagamento em pix fosse concluído por ele. Depois de tudo certo, ela encheu dois copos de vidro, colocou os dois sobre uma bandeja pequena, acompanhados de alguns sachês de açúcares.

Letícia agradeceu, pegou a pequena bandeja e caminhou até uma das mesas. Ela apoiou as bebidas sobre a mesa e se virou para retirar uma das cadeiras, liberando uma vaga para a cadeira de rodas de Augusto se encaixar. Ele a agradeceu e, após dispensar o canudo, levou o copo com o suco até os lábios e tomou todo o líquido de uma única vez.

— Você não gosta de açúcar? — Ela o questionou com os olhos arregalados, após o observar tomar o suco de laranja puro.

— Açúcar industrializado faz mal para o organismo.

Assim que ele concluiu, ela olhou para a bandeja, onde repousavam os cinco envelopes vazios de açúcar cristal.

— Hã... é... esse açúcar não adoça nada — constrangida, foi a única resposta que lhe veio à mente, em sua defesa.

— Mas isso não anula o fato de que vai te fazer mal. Você não acha?

— Hum...

Apenas um barulho qualquer, sem nenhuma pretensão de concordar ou discordar, enquanto ela degustava sua bebida altamente glicosada.

Um pouco de silêncio não fazia mal nenhum, mas ambos estavam incomodados.

— "Você..."

Disseram juntos e pararam.

— Você primeiro. — Ela falou.

— Pelo seu uniforme, você não é da área de saúde.

— Não. Eu estudo Serviço Social.

— Interessante!

Uma conversa amistosa sobre o que cada um fazia da vida, profissionalmente. Os minutos avançaram, adentrando o horário de almoço de Letícia, que nada pedia para comer. Ela estava tão envolvida na história que não pensava na comida. E quanto ao Augusto, estava mais falante do que de costume.

— Eu não sou muito fã dos heróis da Marvel. Acho uma perda de tempo e dinheiro.

— Como assim? — questionou chocada. — Eles são recordes de bilheteria. Não acredito que não seja fã de ao menos um.

— Gosto de pessoas reais.

— O Homem de Ferro é real. — Ela deu um sorriso brincalhão.

— Você só pode estar brincando. — Ele sorriu de maneira genuína, nada forçado ou desinteressado.

— Fica tão bonito quando sorri — disse e se arrependeu em seguida. — Ai, meu Deus... olha a hora. — Foi a desculpa que ela arrumou para se levantar e tentar correr daquele instante de constrangimento.

— Espera... — tentou Augusto, ele queria saber ao menos mais uma informação.

— Nos vemos por aí... — Ela virou rapidamente e após deixar um beijo no rosto dele, saiu a passos apressados.

— Eu só queria seu número... — sussurros...

Alguém conseguiu entender o que de fato aconteceu? Eu também não!

O Augusto de dez anos atrás não teria levado aquela conversa tão longe assim, principalmente com uma jovem simples como a Letícia. Não que ela fosse de se jogar fora. Não era isso. Mas, o jovem Augusto de outros carnavais se importava muito com a beleza exterior das mulheres. Sua preferência sempre foi as morenas de curvas bem distribuídas e comissão de frente avantajada. Letícia fazia um tipo mais simples. Não muito alta e nem baixa, nem magra e nem gorda, seios normais, cabelos escuros e alisamento artificial. Talvez o rosto fosse seu maior aliado. Mas, era uma mulher comum.

Todavia, a questão é que ele teria ido direto ao ponto. Teria pego o número do telefone dela logo de cara, procurado se informar sobre seu horário de saída, se ela curtia um barzinho na sexta-feira depois do expediente.

Quanto ao novo Augusto, esse ficou perdido em um bate-papo bem comum, sobre formação profissional, planos para o futuro próximo e gostos para filmes e seriados.

Sem outra alternativa, ele se viu obrigado a sair do hospital e voltar para sua casa. Contudo, no carro, ele ficou pensando no início de tarde superagradável que ele teve na companhia da jovem.

— Espera! — solicitou ao seu motorista. — Leve-me de volta ao hospital.

— Sente-se mal, Augusto? — O motorista lhe perguntou preocupado.

— Não. Eu estou bem. Apenas preciso de uma informação.

— Ok!

No estacionamento do hospital, ele aguardou por mais alguns minutos e depois saiu. Enquanto se locomovia sobre as rodas, a caminho do interior do hospital, ele se questionava sobre o que estaria fazendo. Como ele faria para conseguir a informação de que tanto precisava sem parecer uma pessoa anormal.

Nem precisou muito. Assim que ele entrou, assim que passou pelas portas automáticas, Letícia foi em sua direção.

— Esqueceu alguma coisa? — perguntou ela.

— Acho que sim. — Ele coçou a própria barba. — Eu acho!

— Posso te ajudar. Basta me dizer o que foi.

— Seu telefone.

Letícia ficou olhando para ele por alguns segundos. Ela parecia não ter compreendido de verdade. Até que ele esclareceu a dúvida.

— Não peguei o número do seu telefone e eu gostaria de conversar com você, antes da próxima consulta, de preferência. — Ele apenas a encarava após dizer essas palavras.

— Hã... sim... claro. Espere aqui!

A coragem parecia estar abandonando Augusto, já que ele se contorcia por dentro e se questionava sobre o que acabara de fazer. Ele se sentia, de alguma forma, o homem mais estranho do mundo.

Em outros tempos, ele nunca precisou se esforçar tanto para conseguir um encontro. Bastava se aproximar do alvo, lançar sua rede e puxar seu prêmio para si. Mas, aos trinta e cinco anos e com sua vida totalmente reestruturada, ele parecia estar mais perdido que uma agulha dentro de um palheiro.

Letícia apareceu com seu sorriso meigo e o entregou um cartão do hospital com seu telefone anotado à caneta na parte branca de trás. Ele pegou, olhou por um instante e agradeceu.

— Acho melhor eu ir. Eu vou te ligar e você poderá... — pausou, observando mais uma vez aqueles números gravados. — É um telefone convencional?

— É, sim!

— Você tem algum outro número?

— Não, apenas esse mesmo.

— É da sua casa?

— Sim.

Ele não disse mais nada. Apenas guardou aquele pequeno cartão personalizado do hospital em seu bolso da camisa e saiu.

Quem diria? Ainda existem pessoas com telefones convencionais? Interessante!

***

PELO JEITO, VAI SER À MODA ANTIGA MESMO. SE É QUE ELE VAI MESMO LIGAR PARA A MOÇA.

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Duas Vidas. Um Destino. [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora