Capítulo 8

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O momento não poderia ser mais romântico. Quem diria que a jovem e encabulada Letícia tomaria a iniciativa daquele beijo.

Em sua mente, nada além do fulgor do primeiro beijo, que na verdade não passou de um selinho.

— Ai, meu Deus... O que eu... — Ela interrompeu o quase beijo, deixando ser tomada pela vergonha, companheira de sempre.

— Por favor, não diga que se arrependeu. — Ele a encara com uma expressão que não dá para saber se é de brincadeira ou é séria.

— Não! — diz apressada. — Não é isso, é que... ai, meu Deus. — Ela cobriu o rosto com as duas mãos. — O que vai achar de mim? Eu não sou esse tipo, eu nunca... nunca fiz... — Tirou as mãos, olhando séria para ele.

— Você nunca beijou um cara? — pergunta divertido, com a intenção de provocá-la, até perceber que a expressão dela mudou. — Sério? Você nunca...?

Letícia apenas balança a cabeça para os lados, confirmando a pergunta de Augusto e agora é ele que fica constrangido.

Primeiro beijo. Selinho, para ser mais exato!

Então... o clima muda outra vez. Augusto coloca a mão no rosto de Letícia, resvalando até o pescoço da jovem, que não resiste ao toque e fecha os olhos, cedendo à carícia. Com os dedos acariciando a nuca de Letícia, ele a puxa para si, tomando seus lábios em um beijo.

Um beijo de verdade é o que eles estão experimentando agora. Letícia não resiste e coloca as duas mãos no rosto de Augusto, acariciando sua barba. Fazendo com que o beijo fique mais intenso, e ele passa a outra mão pela cintura de Letícia até tocar em suas costas e a puxar para um abraço.

Completamente sem fôlego, ela interrompe o beijo e esconde o rosto no ombro dele. Que não desfaz o contato, mas aproveita para beijar o pescoço e o ombro de Letícia.

— A gente precisa parar! — Ela se afasta e ele a encara. — Eu nunca...

— Não precisa falar nada, eu já entendi.

Augusto também está confuso. Excitado, mas muito confuso.

Ele é um homem de trinta e cinco anos, ora! É o que as pessoas vão dizer. Mas, nas condições que se encontrava sua vida, ele pendurou a chuteira há alguns anos, quando a Sandra, sua antiga psicóloga, aquela que fez com que ele enxergasse a vida de uma outra maneira, decidiu colocar um ponto final no relacionamento deles.

Sandra era uma mulher jovem, muito competente em sua área de atuação — psicologia —, dona de uma beleza excepcional. Aquele tipo de mulher que se cuida ao extremo. O problema, é que após passar por um casamento complicado, ela viveu um momento de carência e acabou se envolvendo com Augusto.

Para ele, aquele relacionamento o fez perceber que não estava morto, que havia uma solução para cada barreira imposta pelo acidente. Eles namoraram, curtiram a companhia um do outro e avançaram no relacionamento. Sandra foi a primeira experiência sexual de Augusto após o acidente. Ela o conduziu a uma situação nunca explorada. Eles conversavam bastante sobre o funcionamento do corpo e da mente durante o ato sexual. Augusto curtiu, até que ela caiu em si, percebendo que seu comportamento foi errado, antiético, como ela costumava dizer. E essas palavras reverberaram por muito tempo na cabeça de Augusto.

Ele aceitou. Ela se afastou. Agora ele está vivendo tudo de novo e com medo de se machucar outra vez. Medo de sentir demais e se decepcionar.

Letícia ainda é inexperiente em todos os sentidos. Augusto é sua primeira ligação, seu primeiro bate-papo, seu primeiro beijo e seu primeiro sentimento estranho ou seriam borboletas no estômago, como algumas pessoas afirmam sentir?

O clima esquentou, revelou desejos nunca experimentados, batimentos frenéticos de um coração que parecia querer fugir pela boca.

— Acho melhor eu voltar para casa. — Ela se ajeitou no sofá, passando as mãos por seus cabelos e por sua blusa, que estava um pouco torta, devido ao contato deles dois.

— Vou levar você, só preciso fazer uma ligação. — Ele puxou a cadeira para se sentar.

— Quer ajuda? — Ela se ofereceu, já se levantando, mas ele respondeu:

— Não precisa, eu me viro sozinho.

Letícia não disse mais nada. O clima de segundos atrás havia se esvaído totalmente. Ela não entendia que Augusto estava nesta vida há dez anos. Ele sabia se virar muito bem sozinho, era independente, e era sua qualidade mais forte.

O motorista foi acionado e Augusto desceu com Letícia, após a jovem se despedir da empregada, com outro abraço e mais um agradecimento pela refeição maravilhosa, segundo ela.

No carro, a caminho da residência de Letícia, eles ficaram em silêncio. Ela não sabia o que dizer depois do quase amasso protagonizado por eles dois. Augusto também estava sem coragem de proferir qualquer coisa.

O carro parou.

— Chegamos! — disse André, o motorista de Augusto.

— Obrigada pelo jantar, foi maravilhoso. — Ela se aproximou e beijou o rosto dele, demorando alguns segundos.

— Eu que agradeço. — Ele respondeu, com seus rostos próximos demais, e olhando para os lábios de Letícia, desejando prová-los mais uma vez.

— Eu... preciso... ir — sussurrou, fazendo um enorme esforço para não o beijar também. Ela jamais faria tal cena na frente de um estranho e ele compreendeu.

Em casa, Letícia estava tão feliz, que não percebeu o olhar de Lucas, o irmão "mais velho", que a observava sorrir sem motivos.

— Onde estava a essa hora?

— Ai, Lucas, que susto. — Surpreendida por uma voz que mais parecia um trovão, ela colocou a mão no peito.

— Isso são horas de uma moça chegar em casa?

— Como? — Ela o encarou desacreditada.

— Ela estava com o namorado. — Sua madrinha apareceu, piorando ainda mais a situação de Letícia.

— Madrinha!

— Que namorado? — Foi a vez de Túlio, o marido de Eduarda, padrinho de Letícia e pai do ciumento Lucas.

— Por favor... — Letícia passou correndo por todos eles, nitidamente envergonhada, indo se trancar em seu quarto.

— Que história é essa...

Ela ainda conseguiu ouvir o irmão, que clamava por uma resposta, a qual ela não pretendia dar.

No quarto, ela sentou na cama, tirou o sapato feito sob medida e se jogou em seu colchão. Seus pensamentos foram direto para o beijo quente que ela deu em Augusto e nas mãos dele apertando suas costas.

— Perdão, Senhor, eu cometi um pecado!

***

EITA QUE A COISA FICOU QUENTE.

NO PESCOÇO É GOLPE BAIXO, VOCÊS NÃO ACHAM?

BORA SEGUIR COM A HISTÓRIA PORQUE AINDA TEM MUITO MAIS.

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Duas Vidas. Um Destino. [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora