CAPITULO 6

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Thomas Black


  Me lembro de quando era criança.

  Costumava olhar para os meus pais e pensar que queria ser assim quando crescesse.

  Ter um bom emprego e uma família feliz.

  Costumava querer ter no mínimo cinco filhos. —isso foi até eu descobrir como os bebês nascem e ficar com dó das mulheres. Nunca que eu iria fazer minha mulher passar por algo tão doloroso tantas vezes por um mero capricho meu.

  Ao longo do tempo em que fui crescendo, fui aprendendo algumas coisas.
  Coisas como:

• Raças/espécies: existem inúmeros tipos de pessoas.

  Existem lobos, existem sereias, existem fadas, existem metamorfos, existem vampiros, existem dragões e tudo que puder imaginar.

  No meu caso, eu sou um dragão. Meus pais também.

  E não! Eu não sou uma criatura gigante cheia de escamas e que ruge e cospe fogo.

  Mas posso me transformar.

  Exceto pela parte do fogo, esquece isso!

  Meu poder é a sombra.

  Posso controlar as sombras. Posso guiá-las, me comunicar com elas e até materializá-las tornando em algo físico e palpável.

  Todo dragão tem um poder.

  Geralmente é por herança familiar, eu mesmo, tenho os poderes da minha mãe.

  Meu pai tem habilidades de cura, herdei isso dele de uma forma bem controversa.

  Posso me curar usando minhas sombras.

  Os dragões são parecidos com os lobos em alguns aspectos. —estou os usando como exemplo porque eles são os mais famosos.

  Somos organizados de forma monárquica.

  Temos um rei, rainha e temos os nobres aristocratas, que são um grupo de pessoas velhas cheias de "experiências" dando palpite na vida alheia.

  Essas são algumas das nomenclaturas, o restante das pessoas vivem normalmente, assim como os humanos.

  Essa é outra coisa que aprendi com o tempo: meus pais são o rei e a rainha dos dragões.

  Quando eu descobri, pensei que era incrível. Que eu como filho mais velho herdaria tudo e viveria bem para sempre.

  Errado.

  Viver bem?

  Não estou reclamando da minha vida, até porque seria errado para caralho fazer isso.

  Tenho uma casa grande, pais amorosos, amigos leais e recentemente uma parceira.

  O problema é que não posso viver minha vida como bem entender.

  Aqueles velhos que vivem dando palpite na vida dos outros, lembram?

  Então! O trabalho deles é literalmente cuidar da vida da minha família.

  Eu não posso nem escolher a roupa que quero vestir. Tem alguém da confiança deles para julgar o que é “apropriado" ou não.

  Por isso acredito que vir para Crowland foi a melhor coisa que fiz.

  Aqui tenho liberdade.

  Não tem ninguém dizendo o que posso ou não fazer —pelo menos não da forma como era, até porque isso é uma escola, é normal que tenha regras!— e ainda encontrei minha parceira.

  O que me leva a outro tópico.

• Parceiros: são pessoas destinadas a nos completar. São como os companheiros/mates dos lobos.

  Um parceiro é alguém que você pode confiar, alguém que vai estar ali para você para o resto de suas vidas.

  E normalmente no sentido romântico.

  Porém nem sempre.

  Quero que o meu seja.

  Algum tempo atrás eu cheguei a pensar que Jackson seria meu parceiro.

  Ele tem literalmente todas as “exigências" para isso.

  Mas não tem as faíscas, não tem o cheiro, não tem aquela presença que dá para sentir a quilômetros. —Quero dizer, a presença ele tem. O que ajuda muito quando estou bravo com ele. Mas não é essa a presença que quero dizer.

  Ela tem! E isso me fascina!

  Ela tem cheiro de cereja, e consigo sentir as faíscas todas as vezes que nos tocamos. —o que infelizmente não foram muitas vezes.—minha demonstração de afeto é o contato físico.

  Me sinto viciado em sua presença e na sua doce voz.

  Tem um fato curioso.

  Quando era criança e me imaginava com uma parceira e com filhos, ela era ruiva —e uma das crianças também. A menina mais nova para ser específico— o que é estranho já que até então eu nem sabia de sua existência.

  Venho tentando me aproximar dela lentamente— tão lento que me incomoda — para me tornar seu amigo.

  Seria mentira dizer que esse é meu propósito. Mas irei me conformar com isso se for o que ela desejar.

  Estou conseguindo. Ela parece confortável comigo.

  Hoje mesmo ela apoiou a cabeça no meu peito. Fiquei tentado em abraçá-la.

  Fiquei com dó dela, depois de ver o susto que levou comigo. Não pensei que iria.

  Quero dizer, até então eu não sabia o que ela era, pensei que talvez seria uma loba que é a raça mais comum —ou um vampiro, considerando quão branca ela é. Vou garantir que ela tome um sol às vezes— e me perceberia chegando.

  Hannah disse que é uma mestiça. O que significa que ela é praticamente um híbrido.

  Não sei como as pessoas têm a tratado até agora, mas eu espero que seja bem, não quero me meter em brigas por não tratarem alguém bem.

  Seria um absurdo.

  Eles têm a obrigação de tratar as pessoas bem, isso se chama educação.

  A verdade é que a miscigenação é como um tabu na nossa sociedade.

  Os mais velhos, principalmente, odeiam mestiços. E por causa deles, que ficam envenenando a cabeça dos jovens, os adolescentes praticam o que é chamado bullying.

  Acho que esse não é o caso da Hannah, é quase imperceptível sua mistura de espécies. Eu diria que se assemelha a um humano já que não há um cheiro predominante.

  Quando ela olhou em meus olhos e levantou a cabeça mostrando que não havia nada a esconder, minha fera entendeu de outra forma.

  Nós, criaturas que provêm de outra —como dragões, lobos, metamorfos, etc — temos um "lado animal". Onde nossas feras ficam. Elas são guiadas pelos instintos animalescos na maioria das vezes.

  A verdade é que para um alfa — ou qualquer criatura de natureza dominante — o movimento de olhar nos olhos e mostrar o pescoço é um ato de submissão.

  No caso de parceiros, é como se desse permissão para selar o laço de parceria.

  Como se permitisse que a fera a tomasse para si.

  Foi o que a minha entendeu…

  E foi difícil fazer ela entender que não.

  Hannah se quer sabe que somos parceiros.

  E eu não vejo a hora de ela descobrir — porque não! Eu não vou contar!

  Vamos ver quanto tempo demora para ela perceber e quanto tempo demora para que eu sucumba a minha fera.

Illusion {Em Edição}Onde histórias criam vida. Descubra agora