Despiértate

Capítulo 39 - Pés no chão

Anahí

— Eu ainda não acredito que ela não me contou... — Eu disse, tomando um gole do meu chá.

— Olha, Any, você precisa conversar com ela... — Dulce respondeu, colocando a xícara dela em cima da mesa. – Tenho certeza que Mai deve ter tido seus motivos na época.

Assenti em silêncio, sabendo que ela tinha razão.

Depois da conversa com Alfonso, cheguei em casa e Christopher não estava. Dulce me disse que ele havia ido jantar com seus pais e que ela havia chegado há pouco das reuniões que tinha marcado. A ex-ruiva teria que ficar mais alguns dias em Monterrey, resolvendo outras funções da abertura da filial da Verochi.

Depois de jantarmos, decidi tomar um chá de camomila para me ajudar a dormir e a morena aceitou um também. Contei a ela sobre a conversa que havia tido com Alfonso e tudo o que tínhamos descoberto.

— Mas uma coisa é certa. — Ela disse e eu voltei meu olhar para ela novamente. — O fato de Poncho ter visto você e Christopher dormindo na mesma cama e ter ouvido meu comentário depois faz muito mais sentido para ele ter fugido do que só ter ouvido o que eu disse, naquela época.

— Verdade... — Comentei, mordendo o lábio inferior.

— Ainda mais depois de todo o contexto que ele te deu hoje, sobre a família dele e tudo o mais.

— Sabe o que é mais doido? — Eu questionei, olhando para minha xícara que ainda estava em minhas mãos. — A dona Ruth sempre trata o Christopher muito bem nas reuniões familiares... — Falei, franzindo o cenho. — Tão bem que chega a ser babação de ovo.

Dulce fez um barulho com a boca, estalando os lábios, mostrando sua insatisfação com essa informação. Contudo, a morena não fez nenhum comentário. Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que desisti de esperar pelo meu esposo.

— Amiga, acho que vou tomar um banho e deitar. — Eu disse, levantando da cadeira e deixando a xícara na pia. — O dia foi intenso...

— Eu também vou para cama. — Ela respondeu, ficando de pé também.

Despedimo-nos, desejando uma a outra boa noite, e cada uma foi para seu quarto. Fui direto para o closet, pegando um pijama rosa com blusa de alcinha e uma calça comprida e uma calcinha da mesma cor. Saí em direção ao banheiro, preparando um banho relaxante na banheira.

Eu me sentia praticamente zonza com o turbilhão de pensamentos que aquela conversa a tarde tinha me deixado. Assim que a banheira encheu, desliguei a torneira e tirei a roupa, mergulhando na água morna com espuma, dos sais de banho que eu havia colocado. Fechei os olhos, desfrutando da sensação de relaxamento físico.

Enquanto massageava minhas pernas suavemente, ouvi um barulho no quarto e apurei os ouvidos, tentando identificar se era Christopher, sem deixar de continuar a massagem. Escutei farfalhar de roupas e sapatos sendo retirados, além de passos abafados pelo tapete. Achei que ele viria até o banheiro a fim de conversarmos, mas depois de uns segundos em silêncio ouvi ele se afastando da porta.

A porta do quarto fechou e eu decidi fazer algo que nunca havia feito. Saí lentamente da banheira, peguei minha toalha e enxuguei os pés, amarrando-a no corpo e indo até o quarto de forma silenciosa. Abri apenas um pequeno vão da porta, no intuito de escutar a movimentação de meu esposo. Não enxergava nenhum outro ambiente a não ser a parede do corredor, mas era possível ver as luzes da sala e cozinha acesas.

Notei algum armário da cozinha se abrindo e fechando, além de barulho de vidro sendo colocado na bancada com um baque razoável. A geladeira foi aberta e o som inconfundível de gelo sendo colocado em um copo ressoou até onde eu estava. Franzi o cenho, percebendo o que Christopher estava fazendo. Escutei mais passos e então o líquido sendo derramado no copo.