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O processo de divórcio foi a coisa mais ridícula que já presenciei. O advogado de Roberto fez parecer que a culpa de tudo era minha e que eu estava louca. E o mais chocante foi que o juiz acreditou nessa história. Não me deu permissão para ver meus filhos e concedeu a guarda total para Roberto, sem visitas ou contato com eles para mim. O dinheiro dá poder às pessoas, e nesse caso o juiz, mesmo sem nenhuma prova de loucura, cedeu à tentação. Fiquei sem nada, e meu coração partido virou pó. 

Meu mundo desabou, e entrei em pânico com aquele veredicto. Comecei a gritar e tentei atacar Roberto, mas acabei sendo presa por desacato e fiquei na cela por 48 horas. Isso só prejudicou ainda mais o meu pedido de apelação, pois comprovava minha instabilidade emocional. A frase "tudo pode e será usado contra você" se encaixa perfeitamente aqui. 

Tudo o que pensei foi por que Deus me abandonou dessa forma. O que eu havia feito para merecer tudo isso? Será que ofendi alguém? Não ajudei quem precisava? Será que tudo o que fiz durante todos esses anos estava errado?Perdi tudo. Não tinha mais nada, e nem mesmo queria viver. Até que recebi uma ligação que fez meu coração disparar.


— Mãe! 

— Ana, meu amor, como você está? 

— Estou bem, mãe. O que aconteceu? Onde você está? 

Ouvir a voz da minha filha fez com que as lágrimas começassem a escorrer. 

— Meu amor, estou na casa da tia Sabrina. 

— Você não parece bem, mãe. 

— Vou ficar bem, meu amor. Assim que puder, irei buscá-los. 

— Papai disse que você nos abandonou e foi embora. 

Eu sempre evitei xingar as pessoas ou desejar o mal, mas, nesse caso, desejei que ele sofresse as piores consequências. 

— Eu jamais abandonaria vocês, meu amor. Você sabe disso. 

— Mãe, por que você foi embora? 

Embora eu quisesse dizer a verdade, não queria destruir a imagem que eles tinham do pai. Mesmo com nossos problemas, ele ainda era o pai deles. Sem saber o que haviam lhes contado, decidi não revelar nada. 

— Seu pai e eu tivemos alguns problemas, mas logo irei resolver tudo para poder vê-los. 

Ao fundo da ligação, escuto a voz de Roberto. 

— Com quem você está falando, Ana? 

Por favor, não diga a verdade, pensei desesperadamente. 

— Com a mamãe. 

— Me dê o telefone agora. 

Ouço o som de uma porta sendo fechada. 

— Você não pode falar com eles, foi a escolha que você fez. 

— Você não pode me afastar dos meus filhos para sempre. 

— Acho que já fiz isso. 

E a ligação é encerrada. Tento ligar novamente, mas não consigo. Nos dias seguintes, vou até a frente da casa na esperança de ver meus filhos pelo menos através de uma fenda no muro, mas tudo é em vão. Não consigo nada. Em um desses dias, vejo Maria, a cozinheira, saindo pelo portão. Ela me vê e tento disfarçar, pois sei que não deveria estar ali por ordem judicial, e não tenho dinheiro para pagar fiança. 

— Senhora Raquel! 

Respiro fundo, claro que ela me reconheceria. Maria era uma pessoa astuta disfarçada de cozinheira. 

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