4

7 0 0
                                    

Era uma boate de strip. E por mais que você pense, meu Deus, ela está fazendo strip. Eu só fico no bar ou limpo os banheiros, nada demais. Além disso, as garotas que se apresentavam ali têm 10 anos a menos que eu, não têm filhos e seus corpos são espetaculares.

Tudo o que eu  não era. Talvez um dia tenha sido assim, mas hoje não chego nem aos pés delas.

Na primeira noite que trabalhei por lá, conheci a Solange. Ela tinha seus 26 anos e dava duro na academia para manter aquele corpo.

— Raquel, por que você não se junta a nós na apresentação?

— Quem me dera ter esse corpão.

— Você é linda, só precisa de um pouco de maquiagem sobre seus olhos.

Bem, era verdade. De tanto trabalhar e dormir pouco, ter pesadelos e ainda por cima não comer tão bem, eu perdi peso e adquiri olheiras que se tornaram permanentes.

— Eu tô bem aqui, além disso, não sei dançar como vocês.

— Dançar é apenas um detalhe e eu vejo às vezes alguns homens olhando seus peitos.

Outra garota chamada Cindy se junta a nós.

— Eles são lindos, na verdade. Eu queria ter peitos assim. E essa bunda também, eu ainda não acredito que você não faz academia.

— Essa bunda você consegue com uma coisa chamada filhos, mas vamos, garotas, vocês são lindas e duvido que haja algum homem que prefira olhar para mim ao invés de vocês.

O turno lá é comprido, mas está tudo bem. Ficar no bar e limpar os banheiros não é tão difícil. Pelo menos eu não preciso ficar com roupas curtas para fazer esse trabalho.

Jerry, o segurança da boate, sempre vem checar se está tudo bem. Ele se importa tanto comigo quanto com as garotas. Sempre que vou limpar o banheiro, ele está na porta para garantir que nenhum daqueles tarados entre.

Nem todos os clientes são tarados. A grande maioria é formada por homens extremamente carentes, mas alguns são bem tarados.

Ao término da noite, estou quase destruída, e só tenho 5 horas de sono antes do turno na lanchonete.

— Raquel, vem com a gente tomar um café.

Solange, Cindy e outras garotas me convidam.

— Eu preciso ir. Em pouco tempo, tenho que trabalhar no meu outro emprego, mas obrigada.

— Você trabalha demais, garota.

Eu sorrio para elas e digo:

— Vocês também.

Chego ao apartamento e vou para meu quarto, que agora tem uma TV que achei jogada no lixo, um micro-ondas e uma pequena geladeira. Coloquei no porta-retrato a foto dos meus filhos em uma das viagens que fizemos. Como éramos felizes. Meu coração até dói de saudade.

Os próximos dias passaram voando, já era sexta-feira, dia em que a boate mais enche. Estava atrás do bar, fazendo diversas bebidas, quando escuto uma voz familiar.

— Virou uma puta agora, Raquel!

Roberto estava me olhando como se eu fosse um inseto, ou pior, lixo.

— Eu estou trabalhando.

Jerry percebeu que algo não estava certo e se aproximou.

— Já fez seu pedido, senhor?

— Eu quero uma vodka pura.

Eu coloco no copo e coloco na frente dele. Ele pega umas notas e joga na minha cara.

Histórias Curtas 2Onde histórias criam vida. Descubra agora