𝐁𝐑𝐎𝐊𝐄𝐍. bangchan

14.

Ele ficou lá quase olhando para mim, sua boca em uma expressão que parecia quase irreconhecível. Eu deveria ter esperado isso, concluí que ele tinha mais de duas personalidades, mas estava me perguntando por que elas não haviam aparecido.

— Quem sou eu? — Ele perguntou quase zombeteiramente antes de se levantar de sua posição no assento do balcão do café da manhã quase cambaleando em minha direção. — Quem diabos é você?

A expressão em seu rosto permaneceu furiosa, agressiva mesmo como se ele fosse perigoso. Mas tudo o que minha mente conseguia focar eram as palavras que ele tinha acabado de perguntar. Ele não sabia quem eu era. Isso só poderia significar uma coisa, e era o fato de que essa personalidade estava trancada por muito tempo. Mas eu tinha quase certeza de que havia conversado com Chan ou Chris momentos antes. Era como se quando eu perguntasse quem ele era, ele tivesse mudado. Eu tinha certeza disso.

Eu queria saber o que diabos o acordou, especialmente desde que foi mantido longe por tanto tempo. Lentamente, ele começou a andar em minha direção e continuou piscando como se estivesse tentando acordar completamente e absorver o mundo ao seu redor mais uma vez. Quando permaneci em silêncio, ele continuou olhando ao redor da sala como se estivesse tentando encontrar alguma familiaridade. Ele olhou para mim mais de perto e quase congelou.

— Você parece familiar...

Meus lábios se separaram ligeiramente, enquanto meus olhos se enterravam em meu rosto quase confusos. Talvez as outras personalidades permitam que ele tenha uma familiaridade comigo.

— Hyunjin. — Ele murmurou, mas não falou mais sobre o assunto e me deixou mais confusa. Ele quis dizer Hyunjin... meu outro paciente? — Já se passaram quatro longos anos, estive fora por muito tempo, preso. — Sua voz tornou-se repentinamente mais agressiva, quase me fazendo recuar um pouco. Mas quando ele se aproximou de mim, ele simplesmente passou por mim procurando pela minha casa.

— Qual o seu nome? — Perguntei-lhe preocupado com o que ele iria dizer. Mas seria útil saber.

— O meu nome? — Ele fez uma pausa. — Não digo meu nome a estranhos.

— Sou sua namorada.

Ele parou de me olhar novamente, olhando-me de cima a baixo enquanto eu o ouvia estalar a língua.

— Não, você não é. Você é a namorada de duas pessoas que são um fragmento da minha imaginação.

— Não, eles não são um fragmento da sua imaginação. É uma condição séria e você é apenas uma das personalidades de Chan, porque não poderia haver apenas duas. Por que você teve que aparecer? — Ele se virou de repente para mim e seus olhos estavam penetrante e duro.

— Há facas ali. — Ele afirmou profundamente olhando para o bloco de madeira da cozinha onde as facas eram guardadas. Eu quase engasguei, mas senti minha boca secar. Uma personalidade violenta?

— Facas-? Para que você precisa de facas? Com certeza você não está pensando em me matar ou até mesmo fugir daqui, não é?

— Por que eu ficaria aqui? — Ele foi breve, ignorando meu medo e eu recuei para o sofá longe dele. Ele pegou algumas coisas da minha cozinha, incluindo algum dinheiro deixado em uma gaveta.

— Sim, você não pode pegar essas coisas, Chan, quem quer que você seja, pare com isso, por favor. — Ele ignorou minha presença e eu o vi pegar uma mochila preta que eu usava do chão. — Você vai ser pego se você sair.

— Pego? O que você quer dizer?

Embora no começo eu estivesse com medo de que ele tivesse intenções de me machucar, eu podia sentir que ele só queria sair desta casa.

— Chan acabou de escapar de um asilo psiquiátrico.

Ele parecia um pouco chocado.

— De novo?!

Ele foi até minha gaveta e pegou a maior faca que encontrou. Meu coração rapidamente acelerou e dei um passo para trás.

— Acho que devo tomar isso como proteção, então.

— Não mate ninguém. — Minha voz temida gritou.

— Você não conhece meu passado, foi assim que criei minhas outras duas personalidades.

Eu congelei de repente, quase sentindo a água arder em meus olhos com o choque de suas palavras.

— O que? — Eu perguntei com uma voz temerosa. — Você é a personalidade principal!?

Ele aparentemente sorriu quando começou a caminhar em minha direção.

— Foi quando matei minha primeira pessoa, Chan apareceu. Acho que deve ter sido porque me senti um pouco culpado e tive um colapso nervoso naquele momento da minha vida. Ele era meu lado tranquilo e mais legal. Mas então... Chris apareceu um ano depois. O... lado mais selvagem. Eles me prenderam por tanto tempo. Eles estão tentando se livrar de mim.

Fiquei chocada com as coisas que ele tinha acabado de me dizer. Eu podia ver por que eles estavam tentando se livrar desse cara, mas eu nunca poderia dizer isso em voz alta.

— Qual o seu nome? — Eu perguntei novamente.

— Caleb.

Esse nome me chocou. Foi totalmente diferente. Ele nem “tinha cara” de um Caleb. Esse nome quase não combinava com ele.

— Oh...

Ele parou de andar em minha direção e pegou uma última coisa da minha prateleira.

— Sinto muito pela questão do seu namorado, mas isso não é problema meu. Não me procure, não vou deixar Chan ou Chris sair por muito tempo.

— Espera o quê?! Você não pode simplesmente fazer isso comigo. — Eu gritei. — Eu estava tentando consertar tudo, mas você vai estragar tudo.

— Adivinhe, é o meu corpo, e os dois não são eu.

Ele bateu a porta e eu estava tentando processar o que tinha acontecido. Chan e Chris tinham ido assim. Eu não podia deixá-lo sair assim. Eu não poderia perdê-los. Eu gostava tanto de Chan quanto de Chris agora. Eu não sabia o que fazer. Eu sabia que ambos faziam parte do mesmo corpo, mas eram apenas aspectos diferentes da personalidade real desse Caleb, como se ele tivesse sido dividido em vários pedaços.