12. O escritório

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𝚁𝚒𝚌𝚑𝚊𝚛𝚍 𝚎 𝙹𝚊𝚔𝚎 𝚙𝚊𝚛𝚊𝚕𝚒𝚜𝚊𝚛𝚊𝚖, limitando-se apenas a observar com um terror crescente os dois pontos vermelhos que aumentavam cada vez mais na escuridão, conforme a criatura ia chegando mais perto. Em nenhum momento sequer, os olhos dela tinham desviado do alvo. 

Os dois rapazes estavam encurralados. Não havia saída. Ou pelo menos, assim pensavam.

 — A porta – Mia sussurrou, apontando com o que restava de sua cauda mecânica em uma direção – atrás de mim. 

 Jake permaneceu estático, como se não tivesse ouvido, e, assim como seu caçador, também se recusou a desviar o olhar. No fim das contas, talvez ele realmente não tivesse escutado Mia devido à presença daquele ser que drenava toda a sua atenção.

 Quanto a Richard, ele estava tão tenso quanto o colega, mas graças a sua personalidade mais prática, não se deixou congelar pelo medo. Arriscou olhar para a direção no qual a mascote tinha apontado. Franziu a testa quando o fez, porque avistou somente um amontoado de caixas. Mia por sua vez, repetiu o gesto freneticamente, até que ele entendesse que a porta estava atrás das quinquilharias.

 – Jake, rápido! – O vigia disse em um tom baixo, puxando em seguida o colega pelo braço, o tirando do transe.

 O mais rápido que podiam, os dois rapazes começaram a retirar as caixas uma por uma. Foi necessário remover apenas a primeira delas para comprovar a palavra de Mia: uma superfície de madeira, típica de uma porta, fora exposta. 

A dupla se entre olhou, se permitindo, mesmo que por breves segundos, algum alívio. Mas isso, é claro, só até os guinchos robóticos do monstro alcançarem seus ouvidos, os relembrando do grande perigo que corriam.

 Assim que a última caixa tocou no chão, a figura aterrorizante, alcançou a soleira da porta, saindo das sombras. 

 Era um monstro. Definitivamente um monstro. Nenhum dos dois rapazes jamais tinha se deparado com uma verdadeira máquina assassina como aquela. Nem mesmo Blueberry, ou Ônix, os mascotes que eles mais temiam até alguns momentos atrás, chegavam aos pés daquela figura. 

 O maquinário da criatura era ainda mais exposto que o de Mia, encontrando-se quase totalmente em ferro bruto, como se tivesse sido modificado diversas vezes, tudo com um único propósito: matar. Estava claro como vidro que suas peças não haviam sido removidas e substituídas aleatoriamente, com a exceção da orelha esquerda, que faltava sem motivo aparente. Outro detalhe terrível era a longa fenda que atravessava o seu rosto da testa ao focinho, como um ferimento de batalha. Richard não demorou a perceber que os poucos resquícios de pelo que sobraram no mascote eram de cor acinzentada, e sua única orelha, arredondada. O lembrava um rato, ainda que fosse muito diferente de um, mas ele também não tinha um chute melhor para adivinhar que animal seria aquele. Quanto as garras do animatrônico, se tratavam de verdadeiras lâminas afiadas. Talvez, um pouco semelhantes com as da guaxinim, mas, ao mesmo tempo, muito piores e dez vezes mais mortais. Se as de Blueberry cortaram metal como papel… Quem saberia dizer o estrago que essas poderiam causar? O vigia engoliu seco só de pensar nessa possibilidade. Seria esse o seu destino e o de seu amigo, ser rasgado em tiras? 

 Antes que Richard pudesse se perguntar mais alguma coisa, Jake o puxou pela manga da jaqueta, forçando-o a passar pela porta. Dessa vez, foi ele quem se deixara levar pelos pensamentos na pior hora possível. 

 Uma vez estando do outro lado da passagem, o ex-guarda-noturno usou as suas chaves para trancar a porta. Ele sabia muito bem que aquela barreira não seria capaz de segurar aquela besta, mas, qualquer medida que pudesse atrasá-la, já era de grande ajuda. 

Blueberry's Oz Park: Double Quest [PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora