2. Dear Ex First Love

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Quando você chega perto, eu simplesmente tremo
E toda vez, toda vez que você se vai
É como se uma faca cortasse bem na minha alma
Só o amor, só o amor pode machucar assim

- Only Love Can Hurt Like This, Paloma Faith

Obs: Escutem a música do fix a partir do momento em que for marcado com 🎵

Passado

1. Que passou ou decorreu.

2. Que precede imediatamente o momento presente; que acabou de passar, que está mais próximo de alguém num tempo decorrido.

Passado enterra sentimentos, constrói vidas, oferece perdas.

Enquanto alguns argumentam que o passado é fundamental para a construção de um futuro sólido, outros acreditam que é possível esquecê-lo e seguir em frente.

Quebra-cabeças construídos podem se perder, barreiras levantadas podem se quebrar como vidros rachados e delicados. Em uma linha tênue entre o passado e o futuro, a delicadeza e sensibilidade do passado está propensa a infringir qualquer tempo, afetando-os de forma irreversível, uma vez que fora realizado.

Heráclito via o passado como constante mudança, onde todos os detalhes fluem e nada permanece o mesmo. Sendo o passado uma sucessão de momentos que se desvanecem com rapidez, impossibilitando qualquer compreensão ou captura definitiva deste absoleto.

A esse patamar, a filosofia assemelhava-se a uma completa besteira. Palavras desconexas com sentidos vazios. Frases usuais para enfeitar cadernetas e cartões de boas-vindas. Aliás, do que adiantava palavras sábias, uma boa explicação e dialetos difíceis?

Nenhuma dessas características poderiam trazer o passado de volta, muito menos uma poção mágica para a volta no tempo.

Louis sentia-se perdido em suas lembranças. A cabeça avoada estara impossibilitada de pensar em alguma solução para suturar pedaços de uma vida quebrada.

Uma vida quebrada, uma família desatrelada e um desejo de ceifar seus próprios sentimentos.

Nem mesmo o clima da primavera ajudava. Londres aparentava estar mais sombria, o céu lúgrebe ameaçava chuvas fortes, as árvores balançavam mansamente, a grama era gelada e orvalhada. Os encaixes perfeitos para os pés descalços sentindo a aspereza das folhas na derme quente, e para o corpo rígido sentado no banco velho de madeira que já estara consumido pelo tempo.

O presente era demasiadamente solitário sem o passado.

Louis era solitário mesmo cercado de pessoas, vivendo acompanhado apenas de histórias passadas que o construiu.

Naquela tarde, seu corpo apenas chegou ali. Ele deixou as crianças na casa de Harry, sabendo que ela ainda estaria trabalhando. Entrou um pouco, apenas para ver algumas mudanças acontecendo na sala. Os quadros com seu rosto já não estavam mais ali, a não ser uma pequena moldura de vidro com flores queimadas e um chaveiro velho de joaninha em seu interior.

Deitado na estante, era possível reconhecer apenas as bordas desgastadas da madeira. O vidro estava superficialmente empoeirado, como se não fizesse importância a presença ou ausência daquela lembrança.

Foi triste para Louis. Dilacerante, na verdade. E ele soube que era a hora de dar meia volta e entrar em seu carro.

Harry não era justo com ele.

Não parecia ser justo, muito menos empático.

Apesar do final de tarde escuro, era possível ver os raios solares pintando o céu. Laranjas, frios e reservados. Os olhos azuis observavam com clareza até mesmo o movimentar discreto das nuvens, enquanto seus ouvidos captavam o som que vinha de longe, subindo aquela colina com o ronco do Porsche Cayman. Louis estara mais perto do céu naquele topo, mas não acreditava que Deus estava disposto a fazê-lo se jogar dali.

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