6. Dear Savior

443 54 142
                                    

Mas estou muito cansada
Para começar uma disputa fútil
Todos os pesadelos que você esconde
Mostre-me os seus, eu te mostro os meus

Savior Complex, Phoebe Bridgers

Thich Nhat Hanh havia um pensamento filosófico sobre a salvação; ele dizia que essa redenção que tanto buscamos só pode ocorrer a partir do entendimento de que nós, seres humanos, abrigamos o sofrimento em nossa própria mente. Ela é a fonte de todo o sofrimento que reside dia após dia, possuindo-vos incessantemente, como um sugador de almas ou, talvez, como a explicação mais clara: uma pessoa autodestrutiva.

Para os religiosos, muitas vezes a salvação estara ligada à esperança de que, em algum momento, Jesus Cristo voltará a terra para salvar suas almas pecadoras e garanti-los a vida eterna.

Mas, afinal, qual a garantia de que estamos destinados a salvação?

A busca por garantias persiste como um fio de esperança, entrelaçado com dúvidas que permeiam as mentes dos que buscam compreender o mistério da redenção. É difícil, duvidoso e incerto.

Louis não se prendia a salvação divina ou filosófica. Ele não acreditava em Deus como um salvador, ou em sua própria mente como sua redenção. Suas crenças eram despejadas apenas em um ser: Harry.

A salvação de Harry vinha de modo silencioso, salvando-o de seus próprios demônios, de sua mente frágil, de seus penhascos pessoais. E com uma semelhança tão absurda aos religiosos, Louis venerava Harry, pensando que, em algum momento, além de salvar sua mente, salvaria sua alma.

De certo modo, era absurdamente errado depositar tanta dependência em Harry. Mas a quem mais Louis faria isso? Ele não confiava em si mesmo. Ele era a seca em meio ao deserto, enquanto Harry era a água abundante que emergia para matar a sede.

Às vezes, Louis desejava se afogar em Harry, ser pecador o suficiente para cometer a gula. Entretanto, mais uma maldita vez, Styles era perfeito. Porque ele proporcionava a dose certa para matar sua sede, mas não o afogar.

Ele era a vida, até mesmo quando Louis só conseguia pensar na morte. Então, amando Harry, ele obrigava-se a viver.

E em todo esse ciclo, Harry era, novamente, seu salvador.

O sono de Tomlinson não se aproximava a algumas noites, ou muitas delas. Era visível por sua expressão sempre exausta. Mas durante a manhã em que acordou ao lado de Harry, todo o cansaço pareceu se esvair de seu corpo. Ele não se recordava do momento em que caiu no sono, muito menos do momento em que conseguiu relaxar a ponto de acordar apenas no dia seguinte.

Não havia chá para relaxar, músicas que acalmassem os ânimos ou cartelas de remédio para insônia. Havia apenas Harry em seus braços, ressonando baixinho enquanto seu rosto era coberto parcialmente pelos cachos desgrenhados. Suas mãos estavam juntas na frente do corpo de Styles, entrelaçadas de uma maneira em que não havia como fugir.

De toda forma, Louis nunca fugiria. Ele jamais fugiria do seu antídoto que o levava a um mundo perfeito.

O quarto era invadido somente pelos raios solares alaranjados, denunciando que ainda estara amanhecendo. Apesar das janelas embaçadas por conta do frio que atuava ao lado de fora, o quarto era quente e confortável. Era o lugar onde, ao fechar os olhos, não havia mundo algum lá fora, muito menos contratempos. Ali, em meio aos cobertores, em meio aos cachos com cheiro adocicado e a flama que os corpos exalavam, podia nomear-se como lar.

Seu lar. Sua salvação.

— Gatinho, eu estou sentindo que você está acordado. — A voz rouquinha soou baixa. Mas, de alguma forma, mesmo sem estar olhando em seu rosto, Louis sabia que Harry estava sorrindo.

about you | l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora