Querido desconhecido

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A carta

Absorta em seus pensamentos, Briseis não percebeu a entrada tumultuada de sua prima em seu quarto. Somente quando a carta em suas mãos foi arrancada, sem a mínima gentileza, é que despertou para a presença de Andrômaca.

— O que é isso?! — gritou, próximo ao seu ouvido esquerdo.

— Merda! Não é da sua conta! Devolve!

Sua prima saiu correndo, saltando pela sala e parando em cima do sofá com a mão erguida para o alto, aproveitando-se da sua altura, que no caso era quase 1,80m, enquanto Briseis pulava tentando recuperar a carta.

— Que droga, Cacá! Porra, você não tem o direito de pegar o que não lhe pertence! Devolva agora!

— Cacá, tem certeza, Briseida?

— Não me chame assim!

— Ao contrário de você, Briseida, eu gosto do meu nome! Já disse que não gosto desse apelido. O meu nome é Andrômaca, querida, a esposa dedicada do gato do Heitor, ok? Respeita a minha história, minha filha. Não diminua o meu nome com esse apelido ridículo!

Briseis respirava rápido, mãos fechadas, controlando-se para não socar sua prima.

— Cacá, me dê essa carta, antes que eu perca o pouco de paciência que tenho e te acerte um murro na cara!

— Andrômaca! O que é isso, prima querida? Desde quando você é tão violenta?

Briseis ignorou-a e tentou pegar a carta novamente.

— Querido desconhecido? Afinal, quem é esse homem? Onde você o conheceu? Não me lembro de você me falando sobre esse tal desconhecido! — perguntou, visivelmente confusa.

— Não é da sua conta! Eu vou te dar um segundo para me devolvê-la, senão, arrume suas malas e vá morar embaixo da ponte!

— Sinto lhe informar, prima, que os terrenos embaixo da ponte já foram todos vendidos.

— Você sempre brinca com coisas sérias, Andrômaca. Não me mande ficar calma, porra! Você está invadindo a minha privacidade!

Andrômaca abaixou o braço e devolveu a carta.

— Nossa, prima, eu não queria te irritar. Não sabia que essa carta era tão importante. Eu... olha, essa carta... uau... é muito profunda, pelo menos até onde consegui ler, estou sem palavras.

— Sem palavras? Não me decepcione, Andrômaca! Peça pelo menos desculpas pelo seu mau comportamento!

Briseis deu as costas e entrou em seu quarto, batendo a porta com força. Andrômaca suspirou, chateada. Havia passado dos limites. Nunca tinha visto a prima tão nervosa. Sempre foi uma pessoa tranquila, mas agora parecia que de dentro de suas entranhas surgiu um demônio. E, olha, um baita demônio! Ela pensou por um instante e resolveu pedir desculpas. Pé ante pé, caminhou até a porta do quarto e bateu suavemente, não obtendo resposta.

— Briseis? Prima? Olha, me desculpe, eu fui realmente atrevida e insolente. Não devia ter pego a carta. Eu não sabia que era algo tão importante. Por favor, me perdoe.

Nada de resposta. Afastou-se sem entender o que estava acontecendo. A situação era nova e inusitada. Ver sua prima perder o controle era algo praticamente impossível. Estava separada há dois anos e, desde esse fato, não saía com ninguém. Para arrancá-la de casa e ir ao cinema ou à boate, era um verdadeiro inferno. A curiosidade se instalou, e quando isso acontecia, não parava enquanto não descobria o que queria. E tinha uma certeza: esse homem estranho tinha capturado toda sua atenção.

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