Capítulo 01 - O Instituto

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Era mais um amanhecer ensolarado no Instituto São Gabriel Arcanjo, um internato para meninas localizado na pacata cidade de Serra Verde, em Santa Catarina.

O instituto foi fundado em 1880 como um mosteiro, mas foi em meados da década de 1940 que se tornou um internato para meninas de famílias abastadas. Ele é administrado por Rose Bäumer, neta de um dos fundadores do colégio.

O antigo mosteiro foi construído em uma colina cercada por bosques, não muito longe do centro da cidade. Suas altas paredes de pedra acinzentada davam a ele uma aparência sombria para quem olhasse de fora. Após os altos portões de ferro, há jardins bem cuidados com hortênsias, rosas de todas as cores, lírios e flores-do-campo. Entre os canteiros de flores há várias estátuas de pedra de diversos santos, filósofos e artistas. Além de bancos de pedra dispostos sob árvores frondosas e frutíferas, que oferecem uma sombra generosa.

O imponente prédio de pedra cinza erguia-se orgulhosamente no horizonte com sua arquitetura gótica, exalando um ar de solenidade e respeito, refletindo a seriedade da educação oferecida ali. Ele era dividido em três andares: O porão, o andar principal e o segundo andar. No andar principal ficavam as salas de aula, o refeitório, a biblioteca, a sala de vídeo, a sala de música e uma sala comum onde as alunas se reuniam após as aulas.

Portas de madeira maciça se abrem para o saguão principal, reformado para receber madeira em todas as paredes. Isso deu ao amplo espaço uma sensação mais aconchegante e quente. Uma espécie de área de recepção foi montada para receber alunas e visitantes. Nas paredes, pinturas de vários artistas adornavam o local, dando-lhe um aspecto mais austero.

Depois do saguão, havia um corredor que levava à biblioteca, também reformada com madeira em todas as paredes, com inúmeras prateleiras cheias de livros em vários idiomas. Havia também mesas para estudo e um espaço com poltronas confortáveis em frente a uma lareira, acesa durante os meses mais frios do inverno.

Bem em frente à biblioteca ficava a sala comum, onde as alunas costumavam passar as horas após o término das aulas. Ali, muitos deles costumavam se sentar para conversar, assistir à televisão e jogar xadrez ou damas.

Seguindo o corredor, aparecia um pequeno saguão com uma passagem que levava às salas de aula e duas enormes escadas de madeira que levavam ao segundo andar, onde ficavam os dormitórios.

No início do novo corredor, havia as salas de vídeo, onde as alunas assistiam a filmes e documentários selecionados, e a sala de música, do outro lado do corredor da sala de vídeo, onde eram ministradas aulas de instrumentos clássicos, como piano e violino.

No final do corredor, ficava o refeitório, onde as alunas faziam suas refeições diárias. Com suas mesas de madeira, o local era espaçoso o suficiente para acomodar todo o corpo discente, os funcionários e os diversos professores.

As antigas "celas" foram reformadas para dar lugar aos quartos no segundo andar. Cada quarto tinha um banheiro e acomodava duas alunas. As camas eram colocadas uma de cada lado do quarto, encostadas nas paredes, com comprimento suficiente para acomodar um armário de cada lado. No centro, abaixo de uma grande janela, havia uma longa escrivaninha com duas cadeiras e algumas prateleiras, uma de cada lado da janela, para as alunas guardarem seus livros e materiais de estudo.

Cada aluna decorava sua parede, que tinha painéis, como achava melhor. Muitas colocavam fotos pessoais, outras mantinham o local vazio.

As alunas tinham permissão para ter um laptop, mas o acesso era restrito a alguns sites e só podia ser usado até um determinado horário após a aula. Muitos o usavam para conversar com parentes e amigos fora do instituto, enquanto outros faziam pesquisas ou escreviam diários digitais.

A rotina era muito rígida e as alunas tinham de ser pontuais. As atividades no instituto começavam exatamente às seis horas da manhã, quando era possível ouvir os sinos tocando no alto das torres da antiga igreja que costumava pertencer ao monastério, mas foi desvinculada quando o local foi comprado.

A primeira tarefa era arrumar as camas com precisão militar. O uniforme, impecavelmente limpo e passado, tinha de ser colocado e as alunas iam direto para o refeitório, onde o café da manhã era servido às sete horas em ponto.

Às oito horas da manhã, começava o horário das aulas. Os professores, alguns dos quais eram muito rigorosos, ensinavam uma grande variedade de matérias. O currículo era abrangente, abrangendo desde as matérias básicas até o foco especial em ciências, artes, literatura e filosofia.

A hora do almoço, precisamente ao meio-dia, era um momento de descontração. Era nesse horário que o local ficava um pouco mais barulhento, pois as meninas, de todas as idades, paravam para conversar um pouco mais, já que estavam com muito sono pela manhã.

Após a refeição, elas tinham uma hora para descansar, retornando às três horas para atividades extracurriculares, como aulas de música, artes visuais e idiomas.

Às seis horas, as atividades escolares terminavam e as alunas voltavam ao dormitório para se preparar para o jantar, que era servido às sete horas da noite. Quando terminavam de jantar, muitas iam para o grande salão ou para a biblioteca, onde ficavam até o toque de recolher.

Às nove horas da noite, todos tinham de ir para seus quartos para dormir. Nesse horário, a rede de Internet era cortada, mas muitos ficavam acordados até tarde escrevendo em seus laptops ou simplesmente conversando e contando histórias.

Os fins de semana eram dedicados ao descanso, com as meninas sendo mandadas para casa e retornando no domingo à noite. Havia aquelas que ficavam, como Isabella Andrada, uma aluna inteligente e muito popular. Seus pais eram ricos, mas muito ausentes, e ela passava quase todos os fins de semana no internato.

Isabella adorava explorar o instituto, graças ao ar de mistério que ele proporcionava. Ela costumava andar pelos corredores, indo aos mais diversos lugares proibidos. Seu fascínio girava em torno de duas das mais diversas histórias contadas por professores mais antigos ou alunas que pesquisavam o local na Internet: o porão e um suposto túnel.

O porão, um espaço proibido ao qual poucos tinham acesso, ficava logo abaixo do instituto e abrigava a lavanderia. A diretora dizia que não era um lugar seguro para entrar sem permissão, pois pouco do espaço havia sido reformado. Havia vários baús empoeirados, ainda contendo objetos do antigo mosteiro. Isso despertou o interesse de Isabella, pois ela imaginava que havia pedras preciosas datadas de tempos antigos dentro deles.

Mas a história favorita de todos, não só de Isabella, era a de que havia um túnel secreto que, segundo a lenda, conectava o antigo mosteiro à antiga igreja. Alguns quilômetros de terra haviam sido escavados para transportar ouro clandestinamente pela igreja, misturado aos baús contendo doações.

Esses mistérios, reais ou imaginários, acrescentavam um grau extra de fascínio ao internato. Era como se cada sombra, cada ruído e cada olhar tivesse uma história para contar, deixando um rastro de curiosidade e apreensão. No final, tudo não passava de lenda.

Á sombra de um desejo - Coleção Á meia-noite - Livro 01 (Em Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora