Capítulo 10 - O peso da evidência

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Augusto caminhava de um lado para o outro de sua sala, avaliando as últimas informações recebidas. Ele pediu a Simone que fizesse um levantamento sobre o internato São Gabriel Arcanjo, incluindo todas as ações da instituição nos últimos anos. Ele também enviou a fotografia que tirou da sola da pantufa que encontrou no quarto de Isabella para uma análise comparativa com a pegada e aguardava o resultado.

Sabendo que precisava ouvir Isabella novamente, Augusto se preparava psicologicamente para estar em um mesmo ambiente que a jovem que o enfeitiçou com um simples olhar.

Fazia dias que ele não dormia direito, com noites intercaladas entre sonhos eróticos com Isabella e seu instinto dizendo que ele deveria protegê-la. De que ou quem, ele precisava descobrir.

Augusto sabia que seu interesse, tanto sexual, quanto emocional por Isabella atrapalharia a investigação, além de ser errado. Afinal de contas, ela tinha idade para ser sua irmã mais nova. Além disso, não estava em si seduzir uma adolescente frágil emocionalmente, embora bastante inteligente. Aliás, inteligente até demais em seu ponto de vista.

As coisas que ouviu de Isabella, encarcerada em seu quarto, nos últimos dois dias, deixaram Augusto intrigado com as coisas que aconteciam naquele internato. Em vista disso, ele pediu que fosse aberta uma investigação sobre todos os funcionários do lugar, incluindo a diretora Rose Bömer, essa era a personagem que mais o intrigava.

— Chegaram os dados preliminares da autopsia de Laura.

Simone entrou na sala, carregando um monte de pastas em seu braço e os costumeiros copos de café. Augusto suspirou ao sentir o aroma revigorante da cafeína, quase tendo um orgasmo de tanto prazer que sentiu.

Com tantas atribulações dadas a ele nos últimos dias, um copo de café bem quente, era tudo o que ele tinha para estimular sua mente sagaz. Isso ou o vislumbre de Isabella vestida em seda vermelha.

— Qual foi o resultado? – Ele perguntou, sorvendo um pouco do líquido quente.

— Inconclusivo. – Simone respondeu sem rodeios, fazendo uma careta.

— Como "inconclusivo"?

— O legista disse que não foi possível determinar, pelos ferimentos no corpo, qual tipo de animal atacou Laura. – Ela cruzou os braços. – Infelizmente, as garras não batem com nada que ele já tenha visto na vida.

— Que merda!

Augusto deu um soco na mesa de madeira, frustrado com aquela informação. Ele contava com algo encontrado no corpo de Laura que pudesse corroborar com a declaração histérica de Isabella.

— Calma, que não é apenas isso! Também consegui algumas informações sobre a tal aluna, Meredith, que Isabella mencionou e... bem... – Disse Simone, abrindo uma pasta. Ela retirou alguns documentos e fotos. – Conheça Meredith Jensen, filhas de Richard e Irma Jensen. Inteligente, popular, carismática, bastante extrovertida. A aluna mais brilhante do internato São Gabriel Arcanjo.

Gabriel pegou a foto de Meredith e franziu a testa com surpresa.

— Que porra é essa? – Ele puxou outra fotografia onde continham os dados de Laura. – Mas ela se parece com Laura!

— Exatamente! – Simone sorriu para ele, piscando. – Ela foi morta aos dezessete anos ao ser atacada por um animal selvagem durante um final de semana de recesso. O laudo deu inconclusivo.

Simone puxou os documentos e apresentou a Augusto, que encarou o papel com perplexidade. Ele notou que o legista que assinou o laudo era o mesmo que havia assinado o laudo do corpo de Isabella.

— Ótimo trabalho, Simone! – Augusto disse, olhando os demais documentos. – Peça uma exumação do corpo de Meredith, fale com os pais se necessário. Também preciso de um novo laudo no corpo de Laura. Peça que outro legista avalie. Informe aos pais sobre o procedimento e os coloque a par da situação.

Simone ergueu a sobrancelha.

— Desde quando virei sua secretária?

Augusto sorriu para ela, debochadamente.

— Desde que aceitou ser minha parceira. – Ele respondeu, mantendo o deboche em seu sorriso. – Tente conseguir contato com os pais de Isabella Andrada pedindo uma autorização para que ela seja ouvida.

Simone franziu a testa.

— Pensei que tivesse conversado com ela dois dias atrás.

— Sim, mas foi um depoimento informal. Preciso entrevistá-la aqui, pois não confio nas paredes daquele instituto. – Augusto fez uma pausa. – Tudo me leva a acreditar que aquela garota sabe bem mais do que aparenta e estão tentando esconder.

Simone assentiu.

— Tentarei meus contatos na Polícia Federal. Se são empresários, será mais fácil levantar informações por lá.

— Faça isso.

Simone saiu da sala, debochando de Augusto ao chamá-lo de chefe. Apesar de ser líder da equipe destinada a investigar casos como aquele, Augusto respondia a um delegado prestes a se aposentar.

Augusto aproveitou a saída de Simone para levar ao seu chefe as análises feitas do caso e tudo o que apurou até o momento. Ele Aproveitou para pedir um mandato para recolher todas as pantufas de formato oval das alunas do internato para perícia.

Uma sombra pairava sobre a mente de Augusto e, se estivesse certo, havia uma testemunha do que ocorreu com Laura, entre as alunas internadas no instituto. E ele já tinha um palpite pessoal de quem poderia ser e temia estar correto.

Á sombra de um desejo - Coleção Á meia-noite - Livro 01 (Em Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora