Amada e Desajustada Família

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O pequeno Kurt, protegido dos Chapéus de Palha, assistia do convés a ilha para a qual navegavam parecer cada vez mais conforme se aproximavam. O destino era Cocoyashi, a vila de origem de Nami.

Pelo canto do olho, o menino ruivo pôde notar como Shaia, perigosamente próxima da proa, parecia empolgada para chegar. Seu sorriso é tão grande que faz o garoto bufar. Irritante.

Não era que ele não gostasse dela, embora fosse exatamente o que responderia se alguém perguntasse, Shaia apenas era uma adição inesperada em sua vida.

Anteriormente, antes de ser acolhido pelos Chapéus de Palha, Kurt tinha uma irmã, uma irmã gêmea idêntica a ele, apenas alguns minutos mais nova. Seu nome era Bel.

Após a morte de seus pais, os irmãos se separaram após uma briga, um desentendimento em relação ao futuro e o que desejavam fazer com o pirata que atacou sua ilha. Bel queria a justiça da Marinha, mas Kurt preferia a vingança a ser encontrada na pirataria.

Ele não a viu desde então, fazendo com que seus dias fossem cheios de pensamentos sobre ela. Estava bem? Viva? Ela tinha uma nova família, como ele?

Não muito depois, ele conheceu os Chapéus de Palha, mais especificamente Nami. Ela foi a primeira em muito tempo em olhar para ele e sentir empatia, levando-o para o navio de seus companheiros e tornando-o parte da família. As pessoas poderiam chamar de solidariedade entre órfãos, se quisessem.

Após embarcar, ele conheceu Kai. Mais novo e menor do que ele, tímido Roronoa Kai, e foi como se algo dentro dele estivesse vivo novamente. Se ele não pôde ser um bom irmão mais velho para Bel, então talvez… houvesse uma chance de ser um para Kai.

Desde então, eles haviam sido inseparáveis, os dois contra o mundo. Então Shaia surgiu, e as coisas mudaram.

Ele e Kai ainda eram unidos, mas agora havia uma nova criança junto a eles e Kurt não sabia como lidar com ela. Ele foi frio e rude a princípio, e sabia que não deveria. Entretanto, Shaia era uma garota da mesma idade de Bel, e talvez Kurt temesse se aproximar de alguém que o lembrava de sua irmã. 

Foi inevitável, porém, considerando o quanto Kai gostava dos dois — claro, o ruivo também não era cego para o brilho nos olhos do pequeno Roronoa quando fitava a amiga —, além do fato de que Shaia era tão travessa quanto Kurt, fazendo deles uma caótica dupla. Eles se xingavam e empurravam, mas eram, sim, bons amigos.

No entanto, o mundo parecia continuar jogando a fraternidade na cara dele. Afinal, Nami aparentemente era a mãe adotiva de Shaia. Assim como era de Kurt.

Diferente da garota, ele jamais verbalizou, sem estar pronto para chamar outra mulher de mãe, mas estava ali. No cuidado dela e no carinho dele.

O que isso deveria significar? Kurt e Shaia eram irmãos? Ele deveria cuidar dela, abaixar as defesas e correr o risco de se machucar novamente?

"Absolutamente não!", ele pensa, apesar de, no momento seguinte, estar correndo para junto da loira quando ela e Kai se juntam para brincar.

[...]

Marco nunca pensou que passaria tanto tempo em um navio pirata novamente, nem mesmo que estaria tão feliz por isso.

Pisar em um convés o levava de volta aos tempos de Piratas do Barba Branca. Anteriormente, teria sido apenas uma fonte de desgosto e tristeza, uma lembrança de tudo que perdeu, mas, vendo a filha de Ace correr pelo piso de madeira e rir alto com seus amigos, havia um motivo para sorrir.

Céus, Ace, ela se parece tanto com você, pensou com carinho. O instinto aventureiro, a determinação e a animação radiante eram características tão evidentes em ambos.

Shaia adorava histórias também, para a completa alegria de seu tio, que estava mais do que disposto em contar a ela todas as aventuras de sua família. A pequena escrevia em seu pequeno caderno tudo que ouvia dele sobre seus tios, uma página para cada um.

Shaia estava muito ansiosa para visitar a ilha natal de sua mãe adotiva e conhecer sua tia, Nojiko. Sim, a loira amava cada parte da sua grande e desajustada família.

Naquela mesma, no entanto, a menina fez a ele uma pergunta inusitada:

— Tio Marco, você acha que o vovô gostaria de mim?

Um sorriso nostálgico abriu-se no rosto do médico, ao se recordar de seu pai.

— Ele te amaria, pequena, tanto quanto eu — respondeu com um sorriso, tomando em seus braços — Quer ouvir outra história?

[...]

— Você parece animada, Nami-san — A ruiva ouviu a voz de Sanji soar por detrás dela.

O loiro tinha um sorriso gentil em seus lábios e uma bandeja equilibrada perfeitamente em mãos — ovos mexidos e suco de laranja claramente destinados à ela.

— Faz tanto tempo que não visito Cocoyashi e estou ansiosa para apresentar Shaia à minha irmã.

— Nojiko-san a adorará, certamente — Deixando a bandeja de lado, o cozinheiro sentou-se ao lado dela — Gostaria de poder apresentá-la a Reiju. Quando eu era criança e minha mãe se foi, ela era a única que se importava… 

Dizer que Nami ficou surpresa teria sido um eufemismo, pois o Vinsmoke jamais falava de seus familiares.

— Sua irmã parecia ser boa… talvez vocês se encontrem novamente um dia. 

O olhar de Sanji parecia distante, mas um claro vislumbre de descrença e diversão passou por ele.

— Acho que não… mas agradeço por me ouvir falar disso — Ele voltou-se para a navegadora — Sinto que, após tanto tempo, Reiju é a única mulher em minha vida que ainda amo. Quero dizer, a única além de… — Ambos compartilharam um pequeno olhar, e Nami não pôde deixar de se inclinar para o loiro aguardando por suas próximas palavras.

— TERRA À VISTA! VAMOS LOGO, QUERO VER O TIO DO CATA-VENTO! — Rir da animação de Luffy foi inevitável para todo o bando.

— É melhor irmos… Antes que aquele idiota desembarque sozinho — a ruiva comentou, voltando sua atenção de volta ao cozinheiro.

— Sim, você está certa, como sempre — Sanji pareceu constrangido ao desviar o olhar — Vou buscar a Shaia.

— Oh, sim, a Shaia, claro — Nami concordou, assistindo o Vinsmoke se afastar.

Ela não pôde deixar de se questionar o que ele teria dito se tivesse tido a chance. 

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⏰ Última atualização: Jul 12, 2023 ⏰

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