8. Gladíolo

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Olho para a pequena multidão ao redor enquanto tenho a sensação que estou de pé sobre uma fogueira prestes a ser acesa. No momento seguinte as chamas consomem a minha pele e grito, tentando me desprender das cordas que me atam ao tronco, desesperada diante do meu iminente e violento fim.

A Xerife é uma das que seguram uma tocha na mão, enquanto os soldados e as outras prisioneiras berram: — Queime bruxa! Queime bruxa! Queime bruxa!

Quando olho novamente na direção de Emma, encontro-me no lugar onde ela estava antes, no meio das pessoas. Sem entender, observo a fogueira e, agora, é o corpo da Xerife que está amarrado ao tronco, mas, diferente de mim, Emma não grita, nem faz qualquer menção de escapar do seu destino. Ela simplesmente aceita a punição com resiliência, olhando para a tocha acesa na minha mão, enquanto uma expressão de alívio toma seu semblante ao ver que serei eu, a carrasca que acenderá a pira, colocando um fim na vida dela.

Banhada de suor, remexo-me na cama e acordo de repente. Para minha surpresa, observo que estou entre os braços dela.

O quarto permanece mergulhado na escuridão, embora uma lamparina ainda esteja acesa.

Levanto a cabeça e vejo que Emma continua dormindo, ou melhor, suponho que esteja, pois se tratando dela nunca se sabe, porque pode simplesmente está fingindo para vê o que farei, enquanto imagino que ela dorme pesadamente.

Mas não tenho intenção de fazer nada. Na realidade, desde ontem, quando a Xerife me salvou dos canibais, uma coisa mudou dentro de mim. Não sei o que foi, só nunca me senti tão segura como me sinto agora. Tenho uma certeza dentro de mim, que ela jamais permitirá que alguma coisa horrível aconteça comigo.

Sei que isso é um contrassenso, porém me sinto protegida pela minha algoz e tenho uma necessidade crescente de entendê-la. Preciso descobrir se por baixo de tanto sadismo e perversão, ainda há um vestígio de humanidade.

Passo a mão direita na lateral do rosto bonito dela que, neste momento, lembra o de um anjo, sem nenhum traço das expressões cínicas e frias que ela costuma mostrar.

Desço os dedos pelo seu pescoço e, quando chego nos seios, noto as várias cicatrizes, em diversos formatos, embora predomine os circulares, que ela tem nesta parte do corpo.

Sinto uma de suas mãos sobre as minhas costas e a outra está ao lado do seu corpo, descansando em cima do colchão.

No seu pulso esquerdo, observo outra cicatriz, mas está é diferente, parece com uma flor. É possível que ela tenha removido uma tatuagem que tinha no pulso.

Franzo o cenho, percebendo que o formato da cicatriz lembra o símbolo do meu bando. Os soldados que se juntam à nossa horda de humanos, tem a tradição de tatuar no pulso um "gladíolo", a flor que representa a luta e a lealdade.

— Encontrou algo interessante, Regina? — Ela fala e me assusto com sua pergunta inesperada.

Engulo em seco, mas logo questiono: — Você já foi do bando do meu marido?— Continuo espantada com minha possível descoberta.

Ela me encara com os olhos desprovidos de emoção.

— Sim... Anos atrás, quando eu era uma jovem ingênua, o bando do seu marido me abandonou nesta prisão — faz uma pausa e seu olhar fica ligeiramente melancólico — Aliás, a mim e a minha irmã, mas infelizmente ela não sobreviveu para poder presenciar o que farei com ele, caso Hook deixe de ser um covarde e apareça por aqui — pontua, girando o corpo sobre o meu para ficar por cima.

Sigo chocada com sua revelação e lembro que Whale me falou que Emma matou a própria irmã.

— Como assim, ele abandonou vocês?

Inimigas - SwanQueenOnde histórias criam vida. Descubra agora