MEU FIM.

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19 de março de 2020.

          Hoje, pela primeira vez desde que comecei a escrever este diário de desabafo, não tenho nada de ruim para relatar. Parece estranho, não é? Mas acredito que é graças às mudanças que tenho feito em minha vida. Estou aprendendo que a mudança é uma constante, e que evoluir é importante para nossa própria felicidade. Não vou me aprofundar nesse assunto, pois não quero tornar as coisas chatas. A verdade é que decidi mudar quem eu sou, eliminando os traços da minha personalidade que não agradam as pessoas ao meu redor. Quero deixar de ser estranha.
          Acredito que com todas as mudanças que fiz, a situação melhorou significativamente. Posso dizer que houve uma grande evolução, como se tivesse havido uma transformação completa. Por isso, sinto que não tenho mais razões para continuar escrevendo neste diário, especialmente porque não tenho muita habilidade nisso. Aprendi que, para evitar situações embaraçosas, é melhor deixar de lado atividades que não se tem muita prática.
          Dessa forma, estou encerrando este diário. A razão específica para isso é que, infelizmente, alguns rascunhos acabaram caindo nas mãos de alguns colegas de sala. Eles zombaram de mim por não ter muita prática em escrever poemas, mas percebi que isso não é um problema, mas sim um sinal de que não devo me dedicar mais a essa habilidade.

20 de dezembro de 2017.

         Quando me descrevo no passado, posso dizer que era uma pessoa animada, mas não daquelas que sorriem o tempo todo. No entanto, raramente tiravam o sorriso do meu rosto, mesmo quando as lágrimas eram uma presença constante na minha vida. Eu tinha uma necessidade inexplicável de aparentar que tudo estava bem, embora às vezes fosse difícil explicar o motivo das minhas lágrimas.
         Eu costumava pensar: "As coisas não estão bem? Mas o que exatamente está errado?" Eu tinha amigos que gostavam de mim, não é mesmo? Eu tinha pessoas que se importavam comigo, não é? Então, por que eu me sentia tão sozinha agora? Era uma sensação confusa e difícil de entender.

19 de março de 2020.

        Eu não me lembrava claramente do meu fim. Em minhas memórias, parecia um caminho muito mais longo. Acho que quando enfrentamos situações difíceis, as objeções parecem arrastar-se ainda mais. No entanto, essa não é a maneira que eu gostaria de encerrar esse desabafo. Cabe a mim assumir a responsabilidade de encerrar o que Olivia não conseguiu e encerrar definitivamente minha conexão com o corpo que evitei por anos. É hora de encarar as lembranças de uma versão anterior, mas perdida de mim mesmo.
        Não tenho certeza sobre quando Olívia morreu. Houve um período em que sua presença diminuiu, mas ela ainda não havia percebido que havia partido. Não me recordo muito bem dessa época e prefiro não me afundar em informações irrelevantes. Meu foco é narrar o momento em que ela finalmente percebeu que estava morta e que não era mais a mesma Olívia.
A data não é relevante, uma vez que o dia não pode afetar esse fato. As duas perguntas que ativaram o alarme na minha mente indicando que Olívia havia morrido foram: "O que eu gosto?" e "Quem sou eu?". Não havia mais nada que eu gostasse ou fizesse por interesse próprio. Quanto à minha identidade, olhando-me no espelho, eu não me reconhecia mais. A pessoa que me olhava de volta não era mais quem eu era, restava apenas uma casca vazia sem qualquer emoção.
         Era aterrorizante como ouvir uma lenda urbana ou um conto fantasmagórico. As pessoas estavam ao meu redor e diziam gostar de mim, mas quem era o "eu" que eles gostavam? Tudo o que eles viam ali não tinha raízes em mim, era apenas uma versão que eles gostavam.No final, será que eles realmente gostam de mim?
      A mulher refletida no espelho não era mais quem eu reconhecia como eu mesma. Eu não queria ser ela, mas parecia que não havia mais volta. O caminho que me levava de volta ao início estava bloqueado por velhos traumas, que eu sabia que jamais seria capaz de superar. Então, ali estava eu, no fim. Eu me sentia morta e ninguém parecia capaz de me ajudar.    Ninguém havia percebido que Olivia não estava mais ali. Até agora, minhas palavras não foram tão extensas, então espero que todos tenham prestado atenção ao meu último desabafo. Mesmo assim, agradeço a todos que dedicaram um pouco do seu tempo para me ouvir.
          Para encerrar, não quero me demorar demais, pois não quero gastar muito do seu tempo. Eu gostaria de contar como está o meu pós-vida, mas diga-se de passagem, não é tão incrível como eu pensava que seria. Não há todo aquele papo de paz ou sei lá o que. Na verdade, é bastante torturante. A sensação de olhar no espelho e não reconhecer a figura do outro lado do vidro. Não reconhecer o olhar vazio que encara firmemente. Se eu pudesse dar um conselho a quem me acompanhou até aqui, seria este: não se permitam chegar ao ponto em que eu cheguei. Não se deixe morrer.
           As pessoas sempre tentarão mudá-lo e fazê-lo pensar que o seu modo de agir ou o seu jeito de ser estão errados, mas não deixe que elas o convençam disso. Sei que não é fácil (e acredite em mim, já passei por isso), mas tente não dar muita atenção às críticas, ninguém é perfeito em tudo e eu gostaria de ter aprendido isso antes.
        Na verdade, a perfeição existe, mas as pessoas a buscam da maneira errada. Infelizmente, descobri isso tarde demais, apenas após a minha morte. No entanto, isso não me impede de compartilhar a fórmula correta para evitar que outros cometam o mesmo erro.
       Portanto, para aqueles que chegaram até aqui, apresento a fórmula para a perfeição: reconheça seus defeitos e preste atenção em cada um deles. Agora, pergunte a si mesmo: "por que isso é um defeito?" Quem disse que isso é um defeito? Algo sobre você só é ruim se você permitir que seja. "Ah, mas eu sou magra demais ou gorda demais." Quem disse isso? Só porque alguém afirma que algo é ruim.

"

Here lies Olivia Market."

Desconectada de si mesma. (FINALIZADA.)Onde histórias criam vida. Descubra agora