Distância

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Depois de minha participação involuntária na reunião da revista, voltei para a casa esgotada. Não por trabalhar, mas principalmente por ouvir tantas besteiras. Eu me demitiria se pudesse. Quando cheguei em casa eram seis horas e meus pais ainda não haviam chegado. Vicky e o irmão estavam na sala e assim que eu abri a porta, Miguel levantou. Eu já estava cansada daquilo, mas dessa vez não iria deixar passar.

- Miguel - eu o chamei e ele parou. Eu não sabia o que falar. "O que está acontecendo" parecia muito usado e "Bateu a cabeça a caminho de casa?" não muito apropriado para o momento. Preferi ficar com a primeira opção.

- Como assim? - indagou aparentando estar confuso. Mas ele sabia do que eu estava falando, eu tinha certeza. Mas se ele não iria facilitar, eu também não iria.

- Olha, porque você disse a Sue onde eu estava? Sabe que eu não estou nem um pouco ligando para aquela revista. - reclamei.

- Só achei que você deveria cumprir suas obrigações pelo menos uma vez. - ele disse e minha boca se abriu de choque. Ele pareceu ponderar um segundo o que dissera - Me desculpe por isso. Eu... Não estou me sentindo muito bem. Vou subir.

Eu continuei parada onde estava observando ele subir as escadas e entrar no quarto. Olhei para Vicky que me olhava esperando uma reação. Limitei-me a balançar a cabeça e fui à cozinha comer algo. Se Miguel estava com raiva de mim por alguma razão, era problema dele. Eu não iria me culpar por algo que eu nem sabia o que era.


****


Eu não vi Miguel pelo resto do dia, nem saberia dizer se ele estava em seu quarto ou se saíra. Quando no dia seguinte desci a sala para o café da manhã, ele também não estava lá. Por outro lado, meus pais estavam sentados a mesa, um de frente para o outro conversando.

- Bom dia. - saudei desanimada.

- Bom dia, filhota. Dormiu bem? - meu pai perguntou, me passando os pães.

- Bem - menti.

- A Victória me contou que você está trabalhando em um projeto da escola, não é? - perguntou meu pai. Eu olhei para Vicky que deu de ombros.

- Infelizmente - respondi a ele monotonamente, e como viu que eu não responderia mais nada, continuou a conversar com Alessandra algo sobre o Banco V. Agostini e a Bahia.

Victória estava estranhamente radiante, e mais inquieta do que o habitual. Ás vezes sorria para si mesma parecendo estar em outro lugar e quando alguém se dirigia a ela, demorava alguns segundos para responder. Quando meu olhar recaiu sobre sua mão direita, percebi exatamente porque e sorri sozinha. Ela não percebeu meu olhar, pois continuava a olhar sonhadoramente para a xícara de café.

- Vicky, é melhor irmos - chamei a ela que se sobressaltou. - vamos Vicky?

- Vamos - se levantou ainda sorrindo.

- Bom dia, garotas - disse Rafael que estava recostado em frente ao portão de casa, nos esperando. Os olhos de Vicky brilharam.

- Bom dia, Rafa. - respondemos.

- Onde está o Miguel? - indagou Rafael. Eu fiz que não ouvi.

- Já foi para o colégio - respondeu Vicky simplesmente. Ela suspirou. - Ele está me preocupando. Não responde quando falam com ele, à noite mal dorme, e quando o faz fica tão inquieto...

- Vai ver ele está preocupado com as avaliações - palpitou Rafael. Vicky balançou a cabeça.

- Ele está adiantado no colégio anos-luz. Não, eu conheço meu irmão, é algo bem maior. - disse Vicky.

O irmão de minha irmãOnde histórias criam vida. Descubra agora