Balancei a cabeça para constatar que não estava em outro sonho. Eu me sentia péssima.
- Você dormiu por horas. Acho que não teve muito tempo para sonecas nesse ultimo dia. - ele comentou. Eu confirmei. Ainda desorientada, lembrei da tipóia em meu braço ao tentar me espreguiçar.
- Ah, feliz aniversário, Eliza. Achou que eu ia esquecer?
- Nossa. - me surpreendi. - Eu que esqueci... Não dá nem para acreditar que chegou tão rápido.
- Está ficando uma jovem senil. - disse em um mal disfarçado tom de brincadeira.
- Engraçadíssimo. - disse. Em seguida, soltei uma exclamação de dor ao apoiar de mau jeito o braço.
- Está doendo? - perguntou preocupado.
- Só incomodando um pouco. Vou tomar um banho, pai, estou terrível.
- Vou preparar um lanche, enquanto isso. - disse.
Ao ficar sozinha no quarto me encarei no espelho. Contei duas ou três manchas vermelhas no ombro e lembrei aquelas caixas por cima de mim. Lembrei depois da exclamação de Miguel logo depois de ter gritado por socorro. E o sangue em seu rosto. Pensei no que poderia ter acontecido e em seguida balancei a cabeça espantando o pensamento. Agradeci fervorosamente aos céus por estarmos bem.
Fui até a cômoda e tirei de lá pulseira que Vicky tinha guardado dias antes. Agradeci também por ela ter estado certa, e por não ter me deixado desmantelar a pulseirinha toda. Sorri ao perceber o quanto eu me apegara àquela irmã viciada em jujubas, antes desconhecida.
Peguei uma roupa qualquer no armário e fui para o banheiro, ficando longos minutos debaixo do chuveiro. A sensação era tão boa que era impossível pensar que horas antes estava o mais longe possível de relaxar assim. Ao sair, vesti a roupa e puxei o cabelo para trás em uma trança.
Do lado de fora, meu pai já esperava com uma bandeja que parecia conter a despensa da casa.
- Comer tudo - disse ele ao ver minha expressão.
Sentei na cama e ao dar a primeira mordina no sanduíche (que continha mais folhas juntas do que eu pensava ser ossível) percebi que estava realmente com muita fome.
- Pensei que iria te perder, Liza. - disse meu pai. Afaguei sua mão. - Eu sei que tudo acabou bem, mas é difícil pensar o que poderia ter acontecido. O estado em que sua mãe ficou...
Eu abaixei a cabeça.
- Eu sei que você pode não querer ouvir isso agora, mas... Dê uma chance a ela. Sua mãe te ama muito, Eliza.
- Eu sei - disse. - eu também a amo muito.
- Então diga a ela. - falou simplesmente. - Ela sempre cuidou de você, mesmo quando parecia que não. Quando chega do trabalho e você já está dormindo, eu a vejo indo ao seu quarto para lhe ver. Às vezes lhe dá um beijo e sai sorrateira. Todos os dias ela levanta religiosamente às cinco da manhã só para preparar aquele seu suco de acerola. Esses anos foram muito duro para ela, Eliza.
Eu baixei a cabeça ainda mais envergonhada.
- Eu não estou dizendo que foi sua culpa... Somente... Fale com ela. - disse ele. Ficamos em silêncio.
Dei um gole em minha vitamina e fiz uma careta.
- Acho que exagerei. - ele comentou.
Eu ri. - está ótima. - menti.
Uma lembrança me chamou a atenção para um detalhe.
- Pai, como eles souberam onde nós estávamos? Quer dizer, eles não saíram batendo de porta em porta...
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O irmão de minha irmã
Ficção AdolescenteEliza é surpreendida quando seus pais lhe avisam da chegada de sua mais nova irmã. Entretanto, a notícia não exatamente o que Eliza esperava e a "nova" irmã tem só um ano a menos que ela. A parte ruim é que ela vai se mudar para sua casa. A parte bo...