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Rubens 

Essa tarde está digna de um passeio maravilhoso, mas infelizmente estou aqui catando umas latinhas para que eu possa levar umas moedas para casa. A realidade se estalou novamente nessa terça-feira, passando pelo mercado uma placa me chama atenção, estão contratando de forma temporária. O meu coração se alegra, trato de vender as latinhas e passar em uma vendinha que faz impressão de currículo, por fim passo em casa para ver como está os meus pais, encontro apenas minha mãe aflita em seu mundo e assim que ela percebe minha presença "corre" para um abraço. 

— Filho, que bom que chegou. Conseguiu algo? — Minha mãe pergunta com sorriso no rosto — poderemos comprar comida? 

— Claro. — Sorrio — ainda vou dar muito orgulho a senhora mãe. — ela não sabe, mas se eu passar na entrevista nossa vida irá se transformar da noite para o dia. — Mãe, estava pensando em prestar para a faculdade pública, será que consigo? 

Minha mãe não me deu resposta, pelo contrário ficou calada como se estivesse pensando em algo, logo levantou e se encaminhou para fora e trouxe uma sacola amarrada. 

— Seu pai achou no lixo, cuide bem.Desamarrei com cuidado e era a Bíblia e pelo visto estava novinha, o livro está novinho e apenas um rasgado pequeno na lateral. Viro a capa dela como alguém que abre um baú atras de um tesouro e me deparo com uma linda mensagem. 

Eu cuido de ti, deixa eu te usar para salvar. Passei as mãos nessas palavras que estavam escritas de forma destacada. Tudo posso naquele que me fortalece. 

Aquilo me deu um pouco de esperança, sigo para o pequeno banheiro e tomo um banho rápido em seguida coloco uma roupa apresentável, uma calça jeans azul e uma camiseta que estava com o tecido desgastado devido o tempo e um tênis. Faço uma breve oração antes de sair de casa novamente, saio escondido para minha mãe não fazer perguntas e criar falsa esperança, consigo uma entrevista no mesmo horário e o recrutador me julga com o olhar, não tem como falar exatamente o que ele está pensando. 

— Para você? Temos de repositor. 

— Pode ser. 

Estou tão alegre que saio do local praticamente saltitando. Os meus ouvidos escuta algo derrapando, mas quando viro minha cabeça só enxergo uma luz forte eu fecho os meus olhos com o susto e sinto o meu corpo deitando-se contra o chão duro. Minhas vistas ficam turvas e meu coração acelera, em minha mente tenta me lembrar que não posso morrer, não hoje. 

 Abro os meus olhos e não vejo nada e ninguém. O local onde estou é como um paredão e tudo é na cor preta. Primeira coisa que penso é em chorar, minha revolta é enorme e me impede de reconhecer o local. 

 — Deus, por que fizeste isso? Começaria a trabalhar hoje e tu sabes como eu preciso desse emprego. — grito com todo o meu ser. 

 Procuro por uma saída ou até mesmo uma mínima luz, mas só encontro a solidão, a raiva me consome e caio de joelhos no lugar que deveria ser o chão, procuro sentido onde não há, pessoas que podem me ajudar, mas está vazio. Desse lugar só quem me faz companhia é o medo. 

— Rubens! — Ouço uma voz me chamando para si procuro o dono da voz, mas não encontro — não dou ponto sem nó. 

— Olha só tão pequenino, prometo que se me seguir eu te dou o mundo. —dessa vez quem fala é uma voz rouca e descompassada acompanhada de um riso seco, meu corpo começa a tremer de forma descontrolada. 

CatarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora