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Catarina 

Desperto com um clarão me incomodando automaticamente esfrego os meus olhos para tentar ver melhor. Minha cabeça dói muito e vejo tudo ao meu redor girando. Tomo um susto ao ver o teto girando como um carrossel, espero um pouco para conseguir levantar o meu tronco que faço com muita dificuldade devido as dores. Olho ao redor tentando reconhecer o local e nada vem à mente, o quarto é verde e não tem piso, o guarda-roupa que um dia foi branco está caindo aos pedaços e manchado. Tento me lembrar com quem dormi na noite anterior e falho miseravelmente. 

Escancaro a porta do quarto e logo os cheiros de café e hortelã pairam no ar, decido explorar o local que estou e entro no banheiro que é apertado. Lavo o rosto e me amaldiçoo por não andar com escova de dentes. O local que considero cantinho da paz é bem simples, a pia de plástico fica abaixo de um espelho quebrado levemente arredondado, o meu reflexo nele me mostra uma menina que finalmente acabara de conhecer a ressaca. Depois de um tempo trancafiada na casa de banho decido ir para cozinha onde está bem movimentada, talvez lá eu lembre de algo que aconteceu. 

— Catarina, bom dia. — Me cumprimenta animada, enquanto coloca alguma coisa na mesa que é pequena — você melhorou? 

— Bom dia, sim obrigada! — Minto rapidamente pois estou com dor e não lembro de nada que me aconteceu e quem é essa mulher, tento manter a calma enquanto levo o assunto adiante — só precisava de dormir um pouco. 

— Imagino, olha não é querendo me intrometer na sua vida, mas aqui por essa região de madrugada é perigoso. — me alerta me dando uma xícara de café 

— Rubens te trouxe da balada antes que alguma coisa pior te acontecesse. Ele disse que você tinha um amigo, mas ele não estava com você. Coma um pouco, já o Rubens acorda, logo te explicará. 

Ah claro, o filho da puta do Leoncio me deixou sozinho a deriva de um perigo, me esforço para tentar trazer as lembranças e minha cabeça lateja fecho os olhos e alguns pedaços da madrugada me aparece. 

** 

— Sai de cima do meu homem sua vaca! — uma menina vem para cima de mim e me agarra pelos cabelos — isso é para você aprender a não mexer com homem casado.

Ela rasga minha blusa e me deixa apenas com o sutiã amostra como eu estou bêbada eu não conseguia reagir a nada.

*

Eu estava no banheiro minúsculo uma senhora tirou minha calça com cuidados que estava ainda manchada de sangue por conta da briga, pelo visto apanhei bonito da mulher. Culpa de um alecrim dourado idiota que veio falar comigo e se declarou como solteiro, e mais burra fui eu por ter caído no papo daquele sem-vergonha. A água quente se espalha pelo meu corpo trazendo uma sensação de relaxamento instantâneo de alguma forma me alegro em saber que alguém cuidou de mim mesmo sendo uma desconhecida.

— Obrigada. — dei um beijo na bochecha de Rubens... 

Claro o Rubens me trouxe para a casa dele enquanto eu estava bêbada, só quero o agradecer por tudo o que tens feito por mim se fosse qualquer outra pessoa teria me usado como já aconteceu outras vezes.Rubens entra pela cozinha se espreguiçando e senta ao meu lado, cumprimenta todos e logo me encara a minha vontade era de dar um beijão nele em agradecimento, os seus olhos me encararam e retribuo. 

— Dormiu bem? — pergunta cortando todo o clima e me deixando envergonhada. 

— Muito, queria te agradecer pelo que fez por mim mais cedo, se não fosse por você eu nem sei onde eu ia estar agora. 

— Me fala o que aconteceu? Você estava machucada, descalça e sem blusa. — falou num tom preocupado e pegou minhas mãos, senti um choque percorrer por meu corpo e é uma sensação que não senti por ninguém até agora.

— Eu estava bêbada, e um homem veio falar comigo. Eu não sabia que ele já tinha mulher, ele me disse que era solteiro ele foi um tremendo de um babaca tanto comigo quanto com a mulher dele. — meus olhos embaça e minha voz começa a falhar — eu juro eu não queria atrapalhar um casamento, nunca fiquei com pessoas casadas, a mulher veio para cima de mim e me bateu muito, e eu não tive forças para me defender, não dessa vez. 

Não aguentei e coloquei para fora todas as frustações que eu estava sentindo, não me importei com nada e nem ninguém. Um homem parecido com Rubens entrou no ambiente e lembro dele de algum lugar, ele deu um beijo nas mãos da mãe de meu amigo e sorriu. Os nossos olhos se cruzam e reconheço o marmanjo, o meu coração acelera e tento disfarçar o meu desprazer de encontrá-lo novamente, lembro do dia em que movida pela falta de carinho me deitei com ele e ele prometeu cuidar de mim até o fim de minha vida. Obviamente isso não aconteceu, ele já era casado e o safado não esconde o sorriso em me ver, preciso sair daqui não aguento ficar aqui sabendo o que aconteceu, assim que ele sai do ambiente a mulher dele me encara por alguns segundos.

— Desculpe, desde o dia que ele foi promovido ele não para mais em casa, mas Deus está no controle de tudo.

— Não se preocupe, enfim terei que ir também minha família deve estar preocupada comigo. — arranjo uma desculpa para ir embora, eu não podia ficar mais um segundo naquela casa, estou indignada pela família deles e sei bem onde é meu lugar.

— Não minta, eu sei que você não tem família e não precisar ir agora fique e almoce com a gente. — Rubens fala em meus ouvidos e arregalo os olhos, como ele sabe que moro sozinha que não tenho pai e nem mãe? 

Tento afastar esses pensamentos criando alguma justificativa dele ter falado isso, não respondo ao seu convite apenas me levanto e me retiro da casa. Bato o portão enferrujado atrás de mim e olho a rua movimentada e saio andando sentido minha casa, isso me causaria uma boa caminhada já que moro onde Judas perdeu as calças, e me xingo por ter deixado minhas coisas na casa do garoto que outrora me ajudava.Me lanço na calçada e me desabo no choro eu não aguento mais, talvez eu tenha merecido a surra na noite anterior. Ou a mãe do Rubens quaisquer dias desses acabe com o serviço que a mulher começou, sempre tomo os devidos cuidados para não pegar macho casado, mas nessa eu falhei e não vou me perdoar por isso.

*

O cheiro que exala em minha casa é maravilhoso, mas antes de me encontrar com o cozinheiro decido ir tomar um banho. Para descontar as frustações recentes, me sento abaixo do chuveiro e choro mais um pouco viajando em meus pensamentos que muita das vezes é desconexo, porém tem um sentido oculto. 

Me questiono se realmente esse Deus que todos falam existe, mas se a resposta for sim ele não aparenta ligar para os problemas alheios. Mesmo Rubens sendo religioso ele permitiu que algo de ruim naquela família e na minha acontecesse e isso me deixa puta, se bem que eu não o sigo e nem faço questão, pelo menos não agora.
Já recuperada entro na minha cozinha e encontro com o Leoncio, sua cara está péssima e posso sentir sua raiva de longe, se ele está com raiva estou mais ainda. 

 — Por onde se meteu ontem? — chamo sua atenção ainda irritada — você não tem noção do risco que corri.

— Jura que vai se fazer de vítima? Olha eu nem sei por que estou aqui ainda. Primeiro que foi você que me deixou sozinho para ficar com um homem que te avisei que era casado, dava para ver o caralho da marca do anel no dedo esquerdo dele.

— Isso é normal, se ele era casado e se divorciou recentemente é obvio que a marca ficaria, e isso não era motivo para me abandonar. — grito com toda minha força e me sento com raiva.

— Olha me desculpa, mas isso foi consequência dos seus atos.

Não falo mais nada apenas me sirvo e me sento a mesa, a tenção que está no ambiente é tão ruim que é horrível de aguentar, ele sai batendo a porta com a força que tenho quase certeza que o trinco quebraria, fico sozinha com os meus pensamentos e prometo a mim mesma deixa o Leoncio com as raparigas dele e esquecer que ele existe, assim também o Rubens. 

CatarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora