KISS.

672 80 524
                                    

21 de maio de 1999;

A Black Ivy se tornou fixa todas as sextas à noite no barzinho universitário desde a nossa apresentação. Essa foi a primeira coisa que ficamos sabendo depois do show, a notícia escorrendo de uma Somi tomada pela alegria.

Era completamente estranho o fato de estarmos sendo a atração da noite de um bar famosinho no meio universitário, o que significa que estávamos, finalmente, começando a sair do anonimato. O cachê era surreal de bom, mas nada se comparava a energia do pessoal toda vez que subíamos no palco.

Contei exatos dez dias desde nosso último show com a banda. Dez dias desde que Minjeong tem me ignorado de forma explícita. Sua proximidade com Yizhuo deixava claro nosso afastamento repentino, o que, claro, gerou dúvidas nas garotas.

Não disse para as meninas que Minjeong tinha me beijado na festa de sua prima e, por consequência, estava me mantendo longe. Quando perguntada sobre o assunto, eu sempre conseguia desviá-lo e focar em algo mais importante.

Eu fingia não me importar com o tratamento frio que passei a receber de Joplin, mas a verdade é que a cada olhar evitado, postura rígida e tentativas de não ficarmos sozinhas... Isso estava acabando comigo. Era cruel e eu não conseguia evitar de pensar no quão egoísta ela estava sendo.

Se existia alguém que poderia muito bem entender a confusão de Minjeong, esse alguém era eu. Quando aconteceu comigo, foi difícil aceitar e eu tentei negar à todo custo. Eu pensei que aconteceria o mesmo com Minjeong, estava preparada para trazê-la de volta para a realidade caso fosse preciso.

Eu só não pensei que teria que lidar com tanto desprezo.

Costumava dizer que os olhos de Minjeong eram a minha parte favorita. Eu adorava olhar dentro de seus olhos, enxergar aquele brilho que só ela tinha. Ultimamente, porém, eles tem sido o meu grande mártir.

Ainda assim, eu queria voltar a me aproximar dela. Eu queria beijá-la de novo, sentir seu toque gentil queimar minha pele, os selares molhados em minha pinta. Naquele momento, eu queria qualquer coisa que Minjeong pudesse vir a me oferecer.

Fiquei me perguntando se aquilo era estar apaixonada por alguém.

Enquanto Joplin se alternava entre me evitar e esconder a banda de seus pais, eu me dedicava ainda mais na escrita de minhas músicas. Eu coloquei meu sangue e suor nas letras, embora soubesse que ninguém as veria por enquanto.

Então, depois de um certo tempo, eu tentei parar de me importar. Não parar de me importar realmente, mas focar em alguma coisa que valesse a pena, sabe? Algo que realmente fosse me levar em algum lugar.

Sabendo que Minjeong não me deixaria atravessar aquela parede de concreto que criara em volta de si, eu resolvi deixar para lá. Eu tenho muito mais coisas para me preocupar.

Só que tudo pareceu mudar de figura na quarta feira. Depois que saí do Gary, fui direto para a casa de Giselle. Estávamos prontas para o ensaio da apresentação que teríamos entre sexta e sábado, no mesmo bar da primeira vez.

Eu havia levado uma música para as garotas, queria que elas escutassem e dessem seu veredito para que pudéssemos tocar nas próximas apresentações. Elas pareciam animadas por saber que eu mostraria algo meu pela primeira vez.

- Você poderia tocar para gente. - sugeriu Ningning com um curto sorriso. - Quero dizer, você já tem a melodia?

Balancei a cabeça que sim, meio retraída por mostrar uma música feita por mim.

- Eu quero dizer, não está totalmente acabada. Ainda falta alguns retoques, mas eu consigo mostrar uma parte para vocês. Topam?

Elas fizeram que sim, eufóricas pelo resultado que teriam. Eu olhei para Minjeong, que desviou o olhar do meu quase que instantaneamente. Segurei o suspiro. Giselle percebeu.

LITTLE GIRL BLUE (WINRINA) Onde histórias criam vida. Descubra agora