THE JAM.

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06 de fevereiro de 2004;

Minjeong praticamente renasceu no ano de 2004. Foi uma recuperação lenta, mas constante, como uma flor que desabrocha pouco a pouco.

Nossa banda sumiu por dois anos inteiros, tempo suficiente para Minjeong se reerguer. Ela ficou um ano e alguns bons meses na clínica de reabilitação, até estar em condições de voltar.

Eu sabia que o único jeito de afastar Minjeong das drogas e trazê-la de volta à vida era cercá-la de trabalho, então foi o que fizemos. As meninas e eu acordamos que, daqui para frente, daríamos espaço para Minjeong compôr o que ela bem entendesse.

No finalzinho de 2003, Minjeong escreveu um álbum inteiro sozinha, grande parte das músicas foram dedicadas à Taehyung. Curiosamente, foi o álbum mais vendido que tivemos.

The Healing foi o melhor álbum de nossa carreira, e não somente porque nos rendeu milhares de discos vendidos e nossa primeira indicação ao Grammy, mas porque, pela primeira vez desde a morte de Taehyung, Joplin havia conseguido passar uma semana inteira limpa. Não conseguimos afastá-la das drogas completamente, mas ela ficava na linha quando escrevia.

Acho que, de alguma forma, Minjeong encontrava uma razão para viver na música. Aquele vazio desaparecia quando ela cantava. Eu sabia disso porque acontecia o mesmo comigo.

Uma semana antes de lançarmos o álbum, Minjeong finalmente pareceu disposta a tocar no assunto de seu irmão e explicar o porque de nunca ter falado sobre ele, embora eu não tivesse perguntado sobre.

Ela estava usando uma camiseta da Glace Slick que eu havia dado de Natal e uma calça jeans desbotada. Os cabelos loiros estavam presos num coque enquanto assava biscoitos para minha mãe. Eu me sentei na mesa da cozinha, admirando o quão linda ela ficava sem maquiagem, e o mais importante... Limpa.

Quando Minjeong estava longe da cocaína e da heroína, ela era outra pessoa.

- Não foi uma overdose. - disse de repente, virando-se para mim com os olhos repletos de lágrimas. - Taehyung não se envolvia com essas coisas.

- Minjeong-

- Não! É a verdade, Karina, eu não estou fantasiando. - limpou o rosto. - Taehyung detestava drogas porque era apaixonado por Kurt Cobain e só eu sei o quanto ele sofreu com a morte dele. Desde esse dia, jurou nunca usar nada que fosse ilegal, nem maconha.

- O que aconteceu, então? - perguntei paciente. - Você acha que alguém o drogou?

Ela sacudiu a cabeça, desviando o olhar de mim.

- Foi de propósito. Meu irmão se matou, Karina.

Eu fiquei quieta enquanto a encarava. Tentei passar tranquilidade, mas meu coração quase saiu pela boca ao ouvir aquela palavra. Me lembrei de meu pai. E lembrar do meu pai ainda machucava.

- Ele não aguentava mais viver e eu entendo ele.

- Minjeong, você-

- Meu pai o mandou para fora de casa quando Taehyung ainda era um menino. - respirou fundo. - Ele tinha quatorze anos quando minha mãe o pegou beijando outro garoto no quarto. Depois disso, tudo passou a desandar. Meu pai batia nele todos os dias na nossa frente, como um lembrete claro de que não deveríamos nunca seguir os passos de Taehyung. E quando Tae não apanhava, era minha mãe que levava a surra em seu lugar.

Soltei um suspiro horrorizado, meu peito doía só de imaginar o que se passava na cabeça de Minjeong, que ainda era uma menina na época.

- Ele gostava quando eu e meus irmãos assistíamos à cenas como essas. - deu de ombros, desviando o olhar. - Era como uma espécie de aviso para que não fizéssemos nenhuma merda, senão nossa mãe sofreria as consequências.

LITTLE GIRL BLUE (WINRINA) Onde histórias criam vida. Descubra agora