PRÓLOGO.

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Foi no outono de 92 que encontrei meu pai morto na banheira velha de casa. Ele havia tirado a própria vida com um cinto, apertando o pescoço e sucumbindo até a morte.

Não me lembro de derramar uma lágrima sequer em seu enterro, talvez porque, em minha cabeça fantasiosa de criança, ele voltaria logo. Eu tinha nove anos quando encontrei meu pai morto. Dez quando chorei por perceber que ele nunca mais voltaria para mim.

Então, no ano seguinte que conheci Giselle, minha melhor amiga. Nos conhecemos no jardim de infância, quando ela derrubou suco de uva no meu vestido novinho e, em retaliação, eu acabei quebrando seu lápis de colorir. Por alguma razão, ela achou que seria mesmo uma boa ideia sermos amigas. No final, acabou que deu certo. Nós somos inseparáveis desde o jardim. Acho que o nosso amor pela música meio que nos uniu.

E foi em 95 que isso se tornou ainda mais aparente, que foi quando Giselle conseguiu convencer os pais a vender para mim uma guitarra que ninguém comprava à preço de banana. Ela era velha e minha mãe dizia que iria me fazer passar raiva, mas eu me apaixonei por aquela belezinha desde o primeiro instante.

Como eu ainda não trabalhava na época, e muito menos Giselle, ficávamos tocando na garagem de sua casa depois da escola até escurecer. Ela com sua bateria e eu com minha guitarra. Nós tínhamos 16 na época.

No ano seguinte, a gente conheceu Ning Yizhuo na escola. Ela era novata, esquisita e alguns meses mais nova que a gente, pareceu se encaixar perfeitamente. Descobrimos que ela tocava o baixo quando Giselle teve a brilhante ideia de espalhar uns cartazes dizendo que precisávamos de gente na nossa banda.

Ninguém apareceu, com excessão de Ningning. Aos poucos, conseguimos ajustar nosso som para uma boa harmonização.

Nós tínhamos uma banda, só que sem vocalista. Os cartazes na escola não faziam diferença, porque todo mundo nos considerava um bando de fracassadas do caralho. Daí, Giselle decidiu colar o anúncio na loja de música de seus pais.

O anúncio nos trouxe Drew Caden.

O grande clichê é que, diferente de todos nós, ele não era um fracassado. Na verdade, Drew tinha um futuro e tanto pela frente.

Caden tinha uma família estável, seus pais não eram divorciados e ele tinha uma condição financeira muito boa, já que estudava numa das melhores escolas da região. Ainda assim, por alguma razão, ele decidiu se juntar a nossa banda.

Drew sempre foi bom demais para gente, e o problema de tudo é que ele sabia disso.

Nós o conhecemos no ano seguinte em que Yizhuo entrou na escola, em 97. Quando saímos da escola oficialmente, em 98, as coisas começaram a desandar um pouco.

Drew de repente não era mais o cara que conhecemos em 97. Caden se envolveu com as pessoas erradas e, por isso, passava a maior parte do tempo cheirando cocaína ou injetando.

Expus a situação para seus pais e no comecinho de 99 e eles tentaram interná-lo em uma clínica de reabilitação. Só que não deu muito certo, porque Drew se mandou da cidade.

- Eu quero ir embora.

Ao lado de Yizhuo em uma festa qualquer na parte bacana da cidade, assisto minha amiga beber sua cerveja numa golada só. Olhar para Ning Yizhuo era praticamente ver a capa do filme "As patricinhas de Beverly Hills" na minha frente. Ningning só não era a encarnação da própria Cher Horowitz por conta do cabelo castanho, o olho puxado e, claro, a total falta de grana.

- Karina, qual é! - ela limpou o canto dos lábios com o dedão esquerdo. - A gente acabou de chegar, relaxa um pouco.

Soltei um suspiro consternado.

LITTLE GIRL BLUE (WINRINA) Onde histórias criam vida. Descubra agora