Capítulo 14

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FRANCESCA CECCON

O bullying começou quando eu tinha sete anos. É doloroso ouvir comentários maldosos sobre a sua aparência. É dilacerante. Ainda mais quando o alvo é uma criança indefesa que só desejava ter amigos, e colecionar memórias de uma infância feliz na escola. Eu estava absolutamente sozinha ao redor de crianças malvadas que puxavam o meu cabelo e gritavam que parecia a vassoura que tinham em casa. Era desumano.

Minha mãe me dizia que o meu cabelo era lindo. Que era o cabelo mais deslumbrante de toda a Itália! Porém, não eram essas palavras que eu ouvia quando chegava na escola. Eu ouvia palavras esdruxulas e dolorosas. Talvez, contando hoje para as pessoas, algumas dêem risada e digam que sou dramática. Que mal faz, ouvir palavras como: "seu cabelo é igual à vassoura da minha casa", "se você passar o seu cabelo na mesa, vai limpar como uma esponja", "seu cabelo é muito fácil de ter piolho", "credo, que ninho é esse na sua cabeça?".

Experimente ouvir essas frases todos os dias. É bom? Não, não é.

Enrico, Pietro e Ryan, estudavam na mesma escola que eu, mas não na mesma sala. No ano que começou o bullying, todos estudávamos em salas separadas, exceto Enrico e Ryan, que nunca eram separados. Caterina é um ano mais velha que eu, então, sua sala era no andar diferente ao nosso.

Na sala de aula, eu ficava sozinha. É engraçado como a realidade imita os filmes e seriados, onde tem um grupo de amigas que são populares, como se fosse uma pirâmide social. Sim, isso existia quando eu tinha sete anos. Na verdade, é algo que sempre existiu, e vai continuar existindo por um longo tempo.

Dois anos! Sofri bullying calada por dois anos. Eu tinha medo de contar para os meus pais ou para os meninos, o que acontecia comigo dentro da sala de aula. Era humilhante. Às vezes, as minhas colegas me empurravam. Não podia contar essas coisas para ninguém, eu tinha medo. Quando os meninos, ou a Caterina se aproximavam de mim no horário da saída, ou no horário do lanche, as crianças que realizavam o bullying comigo, não olhavam nem para mim. Assim, se eu contasse o que acontecia, as pessoas não acreditariam em mim.

Mas, Pietro descobriu o que estava acontecendo comigo, e contou para os nossos amigos.

Enrico, Pietro e Ryan, bateram nos meninos.

Caterina bateu nas meninas.

Os quatro foram suspensos da escola por duas semanas. Injusto, eu sei. Parece que praticar bullying com os colegas, está liberado. Mas brigar para defender quem sofre essas humilhações, não está liberado.

O mundo sempre foi injusto.

Nossos pais tomaram conhecimento do que acontecia comigo. Os pais dos meninos ficaram bravos com a suspensão e avisaram que a violência nunca é a solução. Mas, ficaram orgulhosos por eles me defenderem com tanta garra.

Tia Giovanna, sorriu para Caterina e disse que estava orgulhosa pela filha agredir todas àquelas inúteis. Palavras dela. Até ficamos surpresos com a sua reação.

E, hoje, ao ouvir o Pedri dizer que eu não passo de uma menina que tem problemas com a aparência, foi doloroso. Parecia que eu tinha sete anos novamente. Foi pesado e humilhante.

Eu não entendo porque ele explodiu daquela forma comigo. Entendo que ele estava nervoso devido à derrota para o maior rival, mas, eu não tenho culpa.

— Fran, espera. — é o Valverde.

Estou procurando a saída desse maldito estádio e não encontro. Valverde está se aproximando de mim, e franze a testa quando percebe que estou chorando.

— O que aconteceu?

— O Pedri... — não completo a frase, pois, sinto um bolo na minha garganta.

NOW OR NEVEROnde histórias criam vida. Descubra agora