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Justin estava na minha frente, e juro que era como se o garoto que eu deixara para trás houvesse sido engolido por uma massa de músculos. Ele estava muito diferente de como eu me lembrava nove anos atrás. A raiva em seu rosto era transparente e, de alguma forma, tornava-o ainda mais atraente. Só seria muito melhor se eu não fosse o alvo de sua fúria.

Sua pele era bronzeada, um complemento perfeito para as mechas douradas no loiro escuro de seu cabelo. O rosto liso de que me lembrava agora era duro e não havia sido barbeado. Uma tatuagem de uma corda e um arame farpado envolvia-lhe o bíceps. Ele usava uma bermuda cargo camuflada e uma regata branca que marcava o peito esculpido.

Não sei quanto tempo fiquei ali olhando para ele. Estava atordoada demais para dizer qualquer coisa, mas meu coração gritava. No fundo, eu sabia que minha reação não era só por causa da atração física que sentia por ele. Era porque, apesar de todas as mudanças, uma coisa continuava exatamente igual: seus olhos. Eles refletiam a mesma dor da última vez que o vi.
Finalmente consegui dizer seu nome.

— Justin...

— Amélia. — O som rouco e profundo de sua voz reverberou em mim.

— Não sabia se você ia aparecer.

— Por que eu não viria? — perguntou, exibindo um sorriso desdenhoso.

— Talvez para me evitar.

— Você superestimou sua importância para mim. É claro que eu viria. Esta casa também é minha.

As palavras de Justin me atingiram em cheio.

— Eu não disse que não é. Só que... não tive nenhuma notícia de você.

— Interessante como isso acontece.

Claramente incomodada com o confronto, Jade pigarreou.

— Eu tinha acabado de perguntar a Amélia se ela não queria jantar com a gente hoje. Talvez vocês pudessem pôr a conversa em dia.

— Parece que ela já tem outros planos.

Olhei para ele.

— Por que diz isso?

— Ah, sei lá... porque você está segurando essa sacola fedida, talvez?

— São frutos do mar frescos.

— O cheiro não é de coisa muito fresca.

— Caramba. A gente não se vê há nove anos, e é assim que você se comporta? — Olhei para Jade.

— Ele é sempre grosso desse jeito?

Antes que ela pudesse responder, Justin se manifestou:

— Acho que você desperta isso em mim.

— Acha que minha vó ficaria feliz com essa sua atitude? Algo me diz que ela não deixou a casa para nós dois brigarmos.

— Ela nos deixou a casa porque nós dois éramos importantes para ela. Isso não significa que temos que ser importantes um para o outro. E, se a opinião da senhora H. tem tanto valor, talvez você não devesse ter fugido.

— Isso é golpe baixo.

— Acho que a verdade dói.

— Eu tentei entrar em contato com você, Justin. Eu...

— Não vou falar sobre isso agora, Amélia — ele me interrompeu, falando por entre os dentes. — Esse assunto é velho.

Era irritante ouvir Justin me chamar por meu nome. Com exceção do dia em que nos conhecemos, ele sempre me chamou de Tapa-Olho ou de Tapa. Ouvir meu nome saindo de sua boca era como levar uma bofetada na cara, como se ele quisesse enfatizar quanto nos afastamos.
Justin passou da ebulição para o gelo quando se calou e saiu para buscar as compras do carro, batendo a porta ao passar por ela.

amor imenso.Where stories live. Discover now