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Bea teve alta no dia de Natal. Estávamos muito felizes quando a levamos para casa depois de os médicos eliminarem oficialmente qualquer possibilidade de dano cerebral.

No caminho de Providence para Newport, a neve que começou a cair fez daquele um Natal de verdade. Justin passaria dois dias conosco antes de se juntar à banda em Londres e continuar a turnê no trecho europeu. Eu me recusava a ficar triste desde já com sua partida, pois não era nem para ele estar em casa.

Na noite de Natal, sentamos em volta da árvore e ajudamos Bea a abrir os presentes. Deixei por último o presente que Justin tinha mandado pelo correio.

Quando finalmente a pegamos, Justin olhou ansioso enquanto eu rasgava a fita adesiva e retirava do pacote uma quantidade generosa de plástico bolha.

Na caixa, havia um pequeno violão de madeira em pé sobre uma base cilíndrica.

A parte de baixo era aberta, e dava para guardar objetos dentro dela. Em cima do violão, havia uma abelha pintada à mão. A intenção era parecer que a abelha pousara no instrumento. Justin pegou o presente e girou a corda na base.
O instrumento começou a girar tocando uma canção que eu não reconheci.

— Tenho um amigo em Nova York que faz caixas de música personalizadas. Encomendei uma para a Bea. A abelha é para mostrar que ela sempre está comigo, não importe onde estou.

Emocionada, prestei atenção na música, embora ainda não a reconhecesse.

— Que música é essa? É linda.

— É a melodia de uma canção que estou compondo. Deu para programar na caixinha, mas ainda estou trabalhando na letra.

— Incrível. É o melhor presente que poderia ter dado a ela.

— É só para ela sentir minha presença quando eu não estiver perto. — Justin olhou para Bea, que estava hipnotizada com o violão girando e girando. Depois de um tempo, ele disse: — O que você dá para alguém que nunca vai poder recompensar... por tudo o que ela te ensinou, tudo o que te deu?

— Acho que assumir a responsabilidade de ser o pai dela é um presente bem grande.

Ele beijou a cabeça de Bea.

— Eu que ganhei esse presente.

Sorrindo para os dois, fiz uma pergunta que rodava na minha cabeça desde que ele chegou.

— O que mudou?

— Como assim?

— Antes de começar a turnê, você parecia não ter certeza de qual seria seu papel na vida dela. O que mudou?

Ele olhou para a caixinha de música por um tempo, depois para mim.

— Minhas dúvidas nunca tiveram a ver com ela. Eu só não sabia se seria digno do amor da Bea. Não queria desapontar alguém tão importante para mim. Mas ficar longe me fez perceber que ela já havia se tornado parte da minha vida. Deixando de lado meu medo de inadequação, ela já era minha filha de todas as maneiras que realmente importavam. Ficar longe me ajudou a enxergar tudo isso com mais clareza.

Mais cedo, eu havia explicado minha constatação sobre a hora em que ele mandou a mensagem. Justin se recusou a assumir a responsabilidade por ter salvado a vida de Bea, insistindo que eu era a única responsável por isso. Eu ainda não havia abordado o assunto da mensagem.
Deitei a cabeça em seu ombro, grata por tê-lo em casa conosco, mesmo que só por dois dias.

— Eu te amo, Justin. Sabe, eu estava obcecada pelo fato de você ainda não ter falado que me amava. Coloquei importância demais no fato de você dizer isso. E, quando finalmente disse naquela mensagem, não me surpreendeu porque, bem no fundo, eu já sabia. Você me ensinou que amor não tem a ver com palavras. É uma série de atitudes. Você mostrou seu amor por mim no jeito de olhar, em como me trata e, acima de tudo, em como ama minha filha como se fosse sua.

amor imenso.Where stories live. Discover now