OITO MESES DEPOIS
Eu me sentia invadindo propriedade alheia, embora fosse dona de metade dela.
Tudo continuava como havíamos deixado. A casa de praia estava gelada. Eu precisava ligar o aquecimento. Era meio de maio e ainda fazia muito frio na ilha. Eu não devia voltar antes do fim de junho, mas o prédio em que eu alugava um apartamento havia sido vendido, e eu tive que sair de lá. Sem alternativa, fui a Newport antes do previsto ou ficaria na rua. Já estava em licença-maternidade e não voltaria até o fim do ano letivo, por isso a solução fazia sentido.
Não conseguimos inquilinos para a baixa temporada, e a casa havia ficado vazia.
Senti uma saudade inesperada. Antes esse lugar me lembrava minha avó. Agora me lembrava Justin. Podia quase sentir o cheiro de seu perfume na cozinha. Era minha imaginação, mas parecia real. Também o imaginei parado ao lado da jarra da cafeteira, sorrindo enquanto misturava o café com a fusão de pós... as costas musculosas e nuas e os olhos voltados para o mar além da janela... o lambe, vira, chupa quando ele bebeu tequila. Olhei para a sala de estar e recordei a noite constrangedora antes de Jade voltar.
Fechei os olhos por um momento e imaginei o verão passado, quando a vida era simples. O gritinho no canguru preso ao meu peito me trouxe de volta à realidade.
Bea balançava a cabeça procurando meu peito.
— Espera... espera. Primeiro tenho que tirar você daí. — Enquanto a tirava do canguru, eu murmurava: — Você foi muito boazinha durante a viagem. Deve estar com fome, não é?
Merda. Minhas coisas ainda estavam no carro.
Levei minha filha de dois meses lá fora para pegar a almofada de amamentação no banco de trás. Tracy a havia comprado para mim e disse que eu precisaria muito dela, e era verdade. Cor-de-rosa com estampas de margaridas brancas, era um item de primeira necessidade para alimentar esse bebê constantemente faminto sem acabar com as minhas costas. Parei um instante para admirar o oceano antes de voltar para dentro da casa.
Bea era diminutivo de Beatrice, nome da minha avó. Minha menininha nasceu no meio de março, uma semana antes da data prevista. Adam preferiu não estar presente. Disse que queria prova de que a filha era dele e que, enquanto não a tivesse, não a reconheceria como tal. Por termos usado preservativos sempre, ele deduziu que era impossível ser o pai. Ele foi a única pessoa com quem eu havia dormido antes de engravidar, mas minha palavra não provava coisa nenhuma. Não queria o estresse de colher sangue de Bea agora, e ele não tinha pressa para nos amparar e apoiar. Decidi adiar o momento de lidar com Adam. A mulher dele, Ashlyn, certamente acompanhava e manipulava tudo dos bastidores, e eu tinha certeza de que ela o havia convencido de que eu mentia. Com coisas mais importantes para resolver, eu não precisava dessa merda agora. A vida já estava bem complicada sem eles.
Bea terminou de mamar e dormiu de novo. Eu a acomodei com cuidado na cadeirinha e usei o raro intervalo para buscar o resto das coisas que estavam no carro. Quase tudo o que eu tinha estava em um depósito em Providence, exceto por todas as nossas roupas e o cesto de Bea. Eu ainda teria que comprar um berço e descobrir como montá-lo.
Um homem de cabelos escuros e enrolados de uns trinta e poucos anos de idade se aproximou de mim. Seus grandes olhos castanhos brilhavam.
— Oi, vizinha. Vi seu carro. Já estava me perguntando quando ia conhecer os donos dessa linda casa.
Apontei para a casa à direita da minha.
— A sua é aquela?
— Sim. Em me mudei para lá no outono. Aparentemente, sou uma dessas pessoas raras que ficam aqui o ano inteiro.
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amor imenso.
RomanceDesde garoto, Justin amava Amelia, que odiava Justin desde que ele se mudou para a casa vizinha à da sua avó, em Rhode Island. Não, nada disso. Amelia também amava Justin, mas um mal-entendido o fez pensar que a garota mais incrível do mundo não cor...