Querido Chuuya

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[alerta de gatilho: menção de suicídio]

Dazai segue o caminho de volta para sua casa, as lágrimas continuavam a cair por seu rosto, a situação foi pior que o esperado. Ok, talvez não tão pior assim.

Era mais que óbvio que Chuuya jamais iria perdoá-lo, mas não esperava que fosse levar um tapa na cara e ser mandado embora, aquilo foi uma reação inesperada.

Tudo o que sentia pelo ruivo, todos os momentos juntos, tudo foi jogado fora. Dazai nunca havia se sentido tão arrependido em toda sua vida, e agora não conseguiu resolver esse problema.

Sua mente foi tomada por pensamentos sobre o que fazer agora, sentia que não conseguia continuar vivendo sem Chuuya. Talvez a coisa que pensou fosse algo absurdo, mas para Dazai era uma ideia totalmente possível.

Decidiu que ia se matar. Uma decisão tomada completamente por impulso. Como já mencionado antes, o mesmo nunca soube lidar com certos sentimentos, e acaba sempre desligando seu lado racional.

Se analisar a ideia com calma, era péssima. Não estaria somente abrindo mão de sua vida, como também estaria, de certa forma, abandonando ainda mais pessoas, como Atsushi, por exemplo.

O garoto tigre provavelmente não iria superar aquilo tão fácil, Dazai era extremamente importante para ele, não saberia o que fazer sem sua presença.

Tinham mais pessoas as quais sofreriam com a morte do acastanhado, mas havia um problema, o de que ele nunca soube se colocar no lugar do outro. Então, todas essas coisas ruins que aconteceriam com eles nem sequer passaram em sua mente.

Finalmente abre a porta de sua casa, era totalmente contra aquela coisa de realmente se esforçar para finalmente encontrar seu fim, mas dessa vez sentiu necessidade de fazê-lo.

Pega uma folha de papel largada em um canto e uma caneta preta, se ajoelha em frente uma mesinha em seu quarto e começa a pensar em um jeito de escrever sua carta de suicídio.

Algumas horas depois, a ideia que surgiu foi a de dedicar a carta à Chuuya. Estava quase acabando de escrevê-la, e não sentiu remorso por ter tomado essa decisão em momento algum, muito pelo contrário, se sentiu aliviado por finalmente estar prestes a se livrar do sentimento de culpa.

A carta ficou maior que o esperado, mas isso não importava mais, se levanta com ela em mãos e sai de casa, determinado a acabar com o que começou.

                                        ✉

Andando sozinho naquela madrugada, sua mente era inundada com tudo de errado que já havia feito. É impossível não se recordar de momentos ruins quando se está prestes a se matar.

Minutos depois chega ao seu destino, o topo de um dos prédios mais altos de Yokohama. O caminho até lá era um borrão para ele, mas isso não importa.

Respira fundo, e anda até a beira do prédio, a visão era a de uma rua vazia, mas que durante o dia era bem movimentada. Olhar para baixo trás a ele uma sensação reconfortante.

Como posso explicar? O sentimento de ter sua própria vida em suas mãos, poder acabar com ela com apenas um passo, é algo maravilhoso.

Dazai sempre gostou de estar no controle de tudo, aquilo era perfeito para ele, estava prestes a acabar com sua vida e tudo que sentia era alegria. A felicidade por se livrar de tudo.

Se livrar dos pensamentos, das noites sem dormir, dos conflitos, das dificuldades, dos arrependimentos, e, acima de tudo, se livrar da culpa. A culpa que por tanto tempo o consumia por dentro iria embora no momento em que seu corpo tocasse o chão.

Ele dá um passo para trás. Antes de realizar seu maior sonho pega a carta de suicídio que escreveu, dedicada à Chuuya, e começa a lê-la uma última vez.

" Querido Chuuya ( Dear Chuuya )

... "

                                           ✉

Após ler a carta se sente ainda mais feliz, colocou toda sua verdade, todos os seus sentimentos nela. Esperava que o ruivo tivesse a oportunidade de lê-la primeiro que qualquer um. Então decide ligar para ele.

Na terceira tentativa finalmente tem sua ligação atendida.

"O que você quer agora Dazai?"

"Chuuya! Que bom que atendeu."

O outro lado da linha fica em silêncio.

"Então, eu só queria dizer que sinto muito por ter estragado sua vida, e que vou finalmente acabar com esse problema."

"Pera, o que você quer dizer com isso?"

A voz do ruivo mostrava certa preocupação.

"Não é óbvio Chuuya? Vou acabar com a vida da pessoa que mais te machucou... e essa pessoa sou eu."

"Ficou maluco! Você não vai fazer porra nenhuma!"

Dazai conseguia ouvir o som do ruivo destrancando a porta da casa e saindo de lá.

"Onde caralhos você está?"

"Isso não importa."

"Claro que importa seu idiota, eu ainda te amo, ok? Era isso que precisava ouvir?"

"Adeus, Chuuya."

"Não ouse desligar essa mer..."

A ligação foi encerrada por Dazai, pronto, agora tudo o que precisava fazer era se jogar. Essa seria a parte mais fácil de seu plano, definitivamente.

Sobe na beira do prédio, se vira contra a paisagem e fecha os olhos. A brisa da madrugada é realmente maravilhosa. Parece que, quando estamos prestes a morrer, finalmente damos atenção à certas coisas.

O acastanhado com um só impulso se joga, sente o vento bater contra seu corpo e a gravidade fazer o seu trabalho de mandá-lo para baixo.

Um estalo ressoa. Dazai não estava mais vivo.

                                          ✉

Poucos minutos se passam, e a primeira pessoa a encontrar o corpo aparece: Chuuya.

Desespero toma conta do ruivo quando encontra o corpo do acastanhado sem vida estirado no chão. Sangue estava presente na parte de trás da cabeça do mesmo.

A reação de Chuuya é de correr e abraçar o corpo sem vida de Dazai. Ele ainda estava quente, mas claramente não estava mais respirando.

"Me desculpa... eu deveria ter entendido sua situação, me desculpa."

O ruivo diz em meio a lágrimas. Prosseguiu pedindo desculpas por um bom tempo, mesmo que o acastanhado não pudesse escutá-lo.

Finalmente Chuuya percebe um papel na mão de Dazai, o pega com delicadeza e guarda em seu bolso. Já imaginava do que se tratava, e não estava pronto para lidar com isso.

Fica lá, abraçado ao corpo sem vida por longos minutos. Tudo o que conseguia pensar era: se tivesse perdoado Dazai, ele ainda estaria vivo.

O sentimento de culpa que um dia consumiu o acastanhado agora estava presente no ruivo. E com certeza não o deixaria tão cedo.

Dear ChuuyaOnde histórias criam vida. Descubra agora