3."Demitida"

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Rebeca Mitchell

Hoje o dia passou voando, eu e Ana Maria não vimos o Collins uma vez sequer. Logo ficou de noite, coloquei Ana para dormir e depois fiz o mesmo.

03:11AM

Era 3:11 da manhã e eu tinha acordado com uma fome inexplicável. Eu estava com uma roupa de mendiga que utilizo como pijama. Eu saí do meu quarto e fui andando devagar até à cozinha.

É muito bom assaltar a geladeira, só é meio estranho fazer isso na casa do patrão, mas tudo bem. Comi um pedaço do pudim que estava na geladeira e depois saí da cozinha. Passei pela sala e vi o Henrique sentado no sofá olhando pro nada.

— Sem sono? — Perguntei.

— Pois é. E você? — Ele olhou para mim.

— Só assaltando a geladeira mesmo.

— Você está com cara de bandida mesmo, ainda mais com essa roupa. — Ele riu.

— Qual o problema? É pra dormir mesmo, pelo menos eu durmo bem confortável, tá? — Falei com a mão na cintura, debochada.

— Estou apenas brincando, você pode dormir com a roupa que você quiser. Você leva tudo pro coração. Eu hein, que chata.

— Eu também estava brincando. — Andei e me sentei ao lado dele no sofá. — Eu não sou tão chata assim.

— Não, mesmo? — Ele questionou e me encarou.

— Não. — Falo e olho de volta para ele.

Nossos olhares se encontraram.

— Por quê? — Eu perguntei ainda olhando em seus olhos. — Por que você esconde a sua filha da mídia? Você é mesmo um babaca? — Continuei.

— Você é muito intrometida, sabia? — Ele falou se levantando do sofá, cortando o clima.

— Eu sou "curiosa", é diferente. Agora me conta, eu mereço saber já que tomo conta dela, certo? — Levanto do sofá.

— Você vai achar besteira...

— Pode me falar, eu prometo que não vou rir, juro. — Falo tentando transparecer confiança.

Sentamos novamente no sofá.

— A verdade é que... eu não quero que ela passe pela mesma coisa que passei. Desde pequeno meu pai era super famoso, rico e cobiçado, sabe? Eu não tinha nenhum minuto de paz na escola, todos os meus amigos eram interesseiros e tentavam tirar alguma vantagem de mim. Era horrível como todos me tratavam bem só para agradar o meu pai, além de ser muita pressão. Todos sempre comparam o pai e filho e eu não quero que ela passe por isso também. Você... me entende? — Ele me fitou.

Eu pude ver sinceridade e preocupação nos olhos dele.

— Pelo menos não agora. — Henrique continuou. — Quando ela ficar maior eu deixo ela escolher, mas por enquanto eu acho melhor desse jeito.

— Nossa, estou impressionada.

— Com o que?

— Com esse seu lado sensível. Eu nunca tinha visto esse seulado. Você é totalmente diferente quando se trata da Ana Maria, isso é muito legal da sua parte. E não tem besteira nenhuma no que você falou. Na verdade, até me sinto mal por julgar você sem ter te ouvido antes. — Coloco a mão na nuca, me sentindo arrependida. — Me desculpa.

— Nossa! — Ele fingiu surpresa. — Você me pediu desculpa? Que grande mudança!

— Para! — Empurro ele de leve e rio. — Eu falei sério. Você não é tão babaca assim.

Seguindo o Coração [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora