Capítulo 4.

1.5K 276 4
                                    

O amor é como uma rosa: bonito, porém, repleto de espinhos. Embora saibamos que vamos nos machucar, ainda queremos conhecer o amor. Mesmo que saibamos que vamos ser perfurados pelos espinhos, ainda escolhemos as lindas rosas.

Fazia frio e nada se ouvia na floresta, exceto o barulho das botas do humano, encharcadas sobre a neve compacta. O silêncio era agonizante, terrível de tão anti-natural.

Devia haver grilos, corujas, o uivo distante do vento vindo do Norte. Mas não havia nada. Tudo era nítido e brilhante ao toque. Prístino como a primeira neve que caíra na terra em um tempo mais simples, quando apenas deuses e deusas vagavam e o primeiro lobo era apenas um vago pensamento.

O sereno do entardecer caía na zona vegetal, e a neve do auge do inverno cobria inteiramente o corpo da criatura brilhante e poderosa, porém, naquele instante, delicada. Estava indefesa, havia uma ferida aberta em seu torso. Suas duas cabeças descansavam sobre as patas, impossibilitadas de agir, enquanto a ferida consumia lentamente sua energia.

Suas escamas prateadas contrastavam maravilhosamente com  a neve. A criatura estava quase desistindo da vida, entregando-se por completo, se não fosse pelo gentil homem alfa que a havia encontrado.

Com um toque cauteloso, ele se aproximou da ferida. Os grandes olhos azuis da fêmea ômega não enxergavam medo ou nojo em suas expressões firmes, pelo contrário: ela percebeu que seu olhar brilhava perante seu ser.

— Vai ficar tudo bem. — Foi o que ele disse. Sua voz baixa e decidida deixou a fêmea tranquila, ainda que o homem fosse minúsculo perto de seu gigantesco corpo. — Consegue se levantar?

Um gemido grosso e doloroso escapou das bocas do Dragão quando se dedicou ao máximo para erguer o corpo. O homem a incentivava, apoiando-se nas escamas grossas e fazendo seu melhor para impulsionar a estrutura gelada.

Retirou o próprio agasalho de pele de urso polar para cobrir o ferimento, obtendo sucesso ao tentar impedir o  sangue  de escapar.

— Isso, está indo bem. Boa garota.

Ele sabia que ela era uma garota.
Acompanhou seus passos dolorosos e a guiou ao seu lado, com cuidado para não ser pisoteado pelas patas grandes e repletas de garras afiadas.

Mais algum tempo de caminhada se passou. Ela apenas seguia as instruções, não sabia para onde o homem bondoso a levava. Porém, pela primeira vez o Dragão confiava verdadeiramente em um humano, afinal, qualquer destino que não fosse morrer congelado parecia mais sensato e plausível de se considerar.

O homem a levou para uma espécie de celeiro, onde não havia cavalos, mas, ao menos, havia bastante feno. Como não conseguia se transformar novamente devido à lesão, por hora, teria de ser paciente e se conformar com vagar por aí naquela forma.

O Dragão Prateado não sabia quem era aquela pessoa, contudo, parecia ser alguém com muitos bens materiais, como os humanos julgavam.

A questão era que um confronto entre duas nações acontecia por perto, e por azar do destino, aquele dragão fêmea havia sido cercado por uma batalha e atacado por uma bola de canhão.

Pensou na possibilidade do homem ter se sentido culpado ao vê-la naquela lamentável situação.

— Fique aqui, ainda é perigoso sair — o homem advertiu. Sorriu ao vê-la se deitar de maneira comportada no feno. — Andrômeda está passando por momentos difíceis, entretanto, ainda não é uma guerra, não se preocupe.

O Dragão soltou um grunhido, descansando finalmente em um lugar aquecido e mais confortável que um chão de pedras. Fitou, descontente, o homem partir.

O ômega de Andrômeda 🐉Onde histórias criam vida. Descubra agora