Capítulo 01 - Murilo

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Bato na porta mais uma vez. Por que será que Marcelo está demorando tanto? Nem parece que foi avisado da minha chegada!

Quando ergo a mão para bater na porta pela terceira vez, vejo a porta se abrir. Marcelo me encara um pouco ofegante, parecendo cansado.

— Não te avisaram da minha chegada?

— Eu estava no quarto da Dona Rosana, não ouvi o interfone.

— Minha avó tem que parar com essa mania de manter as portas trancadas. Isso já resolveria esse problema, toda vez essa palhaçada de me fazer esperar.

— Desculpe, senhor.

— Tá, tá. Que seja!

Passo por Marcelo e vou em direção às escadas, estou quase pisando no primeiro degrau quando ouço a voz de rouca Marcelo mais uma vez.

— Dona Rosana está com acompanhada, senhor.

— De quem? — pergunto sem nem olhar para trás.

— Do Dr. Boher. — Paraliso ao ouvir o nome do médico.

Olho para trás, mas Marcelo já sumiu para não ter que me dar explicações. Volto a subir as escadas pensativo. Vovó me ligou do nada dizendo que precisava me ver e agora descubro que está acompanhada de seu médico?! Será que ela está doente outra vez?

Subo o último degrau e ando em direção ao quarto da vovó, poucos passos antes da porta. Vejo a porta abrir, mas ao invés de ser para minha entrada, é para a saída do Dr. que passa direto por mim, como o diabo foge da cruz.

— Boa tarde, Dr Boher. — cumprimento o homem na tentativa de pará-lo e obter informações.

— Deixe-o em paz, Murilo!— Ouço a voz de vovó.

— Eu só queria saber como ele está, vovó.

— Eu não te compraria, mesmo se não te conhecesse e estivesse em promoção, Murilo!

Eu rio! Entretido com a gritaria da Dona Rosana nem percebi a saída furtiva do Dr. medroso Boher. Reviro os olhos e entro no quarto da frágil e dócil idosa.

— Olá, vovó. Como a senhora está? — pergunto depois de me aproximar se sua cama e beijar sua testa.

— Estou bem, querido.

— Sei... Sua visita — indico a porta por onde o médico acabou de sair — não é uma visita comum para uma pessoa que está bem.

— Você anda muito curioso, Murilo. Eu e seu avô não te ensinamos nada?

— É claro que ensinaram, me ensinaram muitas coisas. Inclusive quando alguém está tentando me enrolar.

— Isso são maneiras de falar com uma pobre senhora?

— Vovó, diga logo o que está acontecendo!

— Não me irrite, Murilo! Se houvesse algo para te contar, eu contaria.

— Mas que mer... — sinto um tapa arder em minha mão.

— Olha essa boca! Eu posso estar de cama, mas ainda consigo te dar uma surra se for preciso!

De cama? Olho para ela desconfiado, mas antes que eu possa perguntar alguma coisa ouço a batida na porta de seu quarto. Olho na direção do som e vejo Marcelo acompanhado do advogado da família.

— Alguém vai me falar o que está acontecendo aqui ou não? — pergunto enxergando a situação ficando cada vez mais estranha.

— Murilo, saia!

Uma família por contratoOnde histórias criam vida. Descubra agora