Rindou olhava para o relógio e então para mim que estava na mesa, os dois conversavam sobre coisas aleatórias o tempo todo, mesmo assim eu não conseguia me concentrar direito, me lembrei que a única pessoa que era contra eu me mudar sempre foi meu pai, ele disse que se eu viesse morar aqui estaria sozinha, sem ajuda financeira, sem ajuda familiar, e bom minha mãe, ela não disse nada, e por esse motivo sumir daquele lugar foi a melhor opção para mim.
— Poisé, te disse cara, aquela garota era gostosa demais, se eu pegasse... — Ran falava sorrindo.
— Pelo amor de Deus... — Rindou revirava os olhos.
— Vocês... Vocês dois... Sabem quando vou embora? — Perguntei cortando o assunto deles.
Os dois me encararam e depois olharam um no rosto do outro de forma confusa.
— Se está perguntando da sua partida... É, você vai daqui uns 2 meses.— Disse Rindou.
— 2 meses? Por que tanto tempo!? — Falo horrizada.
Acontece que não faria nenhum sentido meu pai querer que eu fosse sequestrada por dois moleques se é pra tanto tempo assim!
— Uhum — Falou o garoto de tranças.
— E eu vou ficar com vocês!? Mas que droga tá acontecendo!?
Rindou para de comer e então me olha.
— Arg! Como você fala garota, cala essa boca.
— Escuta princesa, o mesmo tanto que você sabe, é o que nós sabemos, afinal seu velho nos pagou, deu a data e depois não manteve mais contato. — Ran se deitou sobre a mesa com um sorriso me olhando.
Fiquei quieta, Rindou parecia estressado, e eu não estava com a cabeça boa para entrar em uma discussão, até porque como que eu vou saber do que esses dois são capazes?
O dia passou, eles mal falavam comigo, durante a noite fui acorrentada de novo, eles faziam questão de ficar na sala ouvindo a televisão e conversando, mas não era um problema, eu não iria dormir de nenhum jeito.
Da janela eu conseguia ver o céu, as estrelas brilhavam de forma sutil, meu olhar para elas, eu tinha tantas perguntas, perguntas que talvez nunca fossem respondidas.
Eu cresci em uma família cheia de mistérios, meu pai sumido, minha mãe quieta e até meus parentes nunca mantinham contato, eu pensei que se viesse embora tudo chegaria a um fim, eu seria feliz, mas não foi o que aconteceu, por que bom, sinto saudades dos abraços da minha mãe, do meu pai sorrindo quando sentia orgulho de mim, e por esse motivo eu estou confusa, como entender? Entender que eu seria sequestrada, tudo para voltar para aquela casa.
Noto que tudo ficou silencioso, Ran aparece no meu quarto e se senta no chão na minha frente.
— Acordada ainda?
— Sim...
Eu olho para ele, sentia um medo inexplicável, porém ao mesmo tempo o garoto estava com um semblante triste.
— Seu pai quer você em casa, tem muita coisa ruim acontecendo.
— Eu só queria ser feliz, mesmo sozinha...
—Droga garota! Não minta! Não para mim! — O semblante de raiva dele me fez sentar na cama.
— Não entendo...
— Não entende o que? — Ele questiona de modo bruto.
— Por que vão ficar comigo por tanto tempo, se fosse um sequestro mesmo iriam querer que eu fosse logo embora.
— Muito dinheiro foi investido em você por parte dele, não temos detalhes, mas... Ele não parecia nada bem quando nos pediu o trabalho, se quer saber somos mais como sua escolta.
Ran se levanta indo até a minha cama e passando a mão pelo meu cabelo. Um silêncio gentil tomou o quarto escuro, o cabelo solto do garoto brilhava com a luz fraca que invadia o quarto.
— Mas por outro lado... Não me sinto nenhum pouco culpado de te sequestrar e te manter aqui.
— Ahn?
Perguntei confusa, mas antes que pudesse falar algo ele coloca a mão no meu rosto e começa a se aproximar, eu com medo vou me deitando, o corpo dele por cima do meu, lentamente os olhos do garoto vagavam pelos meus e pela minha boca.
— Só talvez, se fosse em outra ocasião... — Diz ele quase encostando os lábios nos meus.
Um barulho alto de coisas quebrando faz com que ele se afaste e vá até a cozinha, minhas sombrancelhas arqueadas de confusão, e vendo que ninguém dizia uma palavra eu tentava tirar o braço da algema, sem sucesso no meio do escuro um homem de capuz invade meu quarto.
— Quem... É... Você? — Falei pausada.
O homem mascarado veio em minha direção e tentou a todo custo tirar as algemas, e com medo tentei sair de perto dele, falava e me mexia, por esse motivo ele me deu um soco com força no meu rosto que me fez tombar para o lado, tonta. Ao passar a mão no nariz, ele sangrava, foi então que Rindou entrou no quarto, a cabeça dele sangrava, mas mesmo assim o mais novo foi para cima do homem de capuz, uma luta corpo a corpo com muitos socos, mas só quando Ran entrou que acabou, afinal juntos, eles desmairam o cara, ou pelo menos foi o que aconteceu. Minha visão foi ficando embaçada, Ran veio com preocupação na minha direção e tirou a algema me colocando confortavelmente na cama.
— Você tá bem? — O garoto pergunta.
— Sim — Digo com dificuldade.
— Ran eu acho que ele... — Rindou falou baixo.
— Tá zoando? — Disse o mais velho indo até o cara no chão.
— Pode deixar que vou dar um jeito nisso... Já volto. — Ran pegou o corpo do homem com dificuldade e levou para fora.
— Eu cuido dela. — Rindou disse e logo se sentou na cama.
Não demorou até que Ran saísse do quarto, eu liguei o abajur, a luz dele iluminou um pouco mais o quarto, eu conseguia ver um olhar triste, doloroso e que parecia cansado, em Rindou, então coloquei a mão nas costas dele.
— Você... Tá bem?
Ele me olha com uma expressão de quem desmaiaria.
— Sim, o desgracado... Só... Quebrou a merda da cadeira em...
Rindou caiu na cama e o puxo preocupada, ele estava consciente mas sem se mexer, em um pulo você sai da cama e vai até a cozinha, nota a porta de entrada aberta, seu pensamento vagueia entre sair correndo, ou ajudar o garoto, mas então com leves tapas na bochecha você recobra sua humanidade e pega um pano com água molhada e um kit de primeiro socorros. Ao voltar para o quarto você vê ele tentando se levantar.
— Hey hey hey, calma aí bonitão. — O escoro na parede.
— Eu achei que tinha fugido— A fala de Rindou era tão fraquinha que mal escutou.
— Sou humana demais pra isso. — Digo com um sorriso.
Após isso acendi a luz e comecei a preparar alguns paninhos de curativo, limpei o machucado na cabeça e e então coloquei bandagens, depois entreguei um analgésico.
— Bebe, você vai ficar bem.
Com essas palavras vejo um olhar gentil de agradecimento, eu não esperava um obrigada, mas o olhar dele dizia tudo. Me deito ao seu lado e então após uns 10 minutos o remédio faz efeito e o garoto tomba no meu colo, faço um suave carinho ainda desconfiada, e então Ran aparece, o semblante dele ficou surpreso ao me ver com Rindou daquele jeito.
— Ele se machucou... Não poderia deixá-lo sozinho.
Ran sorriu e se aproximou.
— Deixa eu levar ele para o sofá.
Eu deixei e então após isso ele fechou a porta e não voltou mais,tomei um remédio, mesmo assim dormi com dificuldade.
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Duplo Sentido
FanfictionS/n é uma garota que ama artes, pintora, a garota veio diretamente do Brasil para o Japão, pensou que teria uma vida melhor, mas muito pelo contrário encontrou diversas dificuldades. Pouco contato com familiares ela se sente sozinha e em uma busca i...