CAP I - O encontro

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Pintar sempre foi a minha maior habilidade, as cores, as formas, são coisas que me fascinavam, e além do mais, essa era a única coisa que eu consigo fazer, uniformizar sentimentos, sejam eles negativos ou positivos, nesse momento em que estou na minha vida, só consigo pintar coisas tristes, sinto falta da minha família, dos meus amigos.

Há 4 meses me mudei para o Japão, Tokyo, e caramba sempre foi meu sonho, só que chegar aqui, estar sozinha, é algo difícil, não fiz nenhum amigo e a única coisa que posso usar como conforto são meus quadros. No trabalho às pessoas não falam muito, são reservadas e sossegadas, e apesar de ser uma enorme extrovertida fica difícil socializar sem querer incomodar.

Agora estou aqui, nesse parque, olhando para as rosas de um canteiro, refletindo sobre a solidão, a morte, o vazio, um sentimento de incapacidade. Acho engraçado as flores, são lindas, e a beleza delas dura pouco tempo comparado a nossa vida, ou a vida de árvores, elas apenas nascem, e quando o solo não está favorável morrem de uma forma triste, imagine só, morrer definhando em um lugar, você estar preso a algo sem conseguir sair, sem poder correr buscar água, ou buscar ajuda, não ter voz. Me pergunto, será que as plantas tem sentimentos?

Pintava meu quadro de forma gentil, misturava as cores e observava os detalhes, mas logo que tirei o fone, uma sensação estranha preencheu meu corpo, eu senti pela primeira vez como se estivesse sendo observada, de alguma forma alguém me olhava, e foi apenas virar para o lado que meus olhos encontraram os de um garoto, ele estava focado em mim e conversava com outro ao lado, eles pareciam descutir sobre mim. Claro que muitas pessoas já me viram pintando, mostravam orgulhosas para os filhos, comentavam críticas, faziam elogios, só que dessa vez meu instinto me mandava sair dali o quanto antes, o sorriso que um deles dava, de certa forma me fez arrepiar.

Termino um último detalhe e então fecho minha palheta de tintas, coloco tudo em minha mochila e juntos os pequenos papéis de lixo que fiz, logo em seguida peguei meu copo com água limpa que não utilizei e coloquei delicadamente nas rosas, foi neste momento que vi que os garotos saíram do banco, suspirei em alívio, mas claro, era melhor ir para casa, afinal era fim de tarde.

Ao meu redor os pássaros davam seus últimos cantos antes do anoitecer, o sol brilhava fraco enquanto ia se pondo, aquilo deixava um rastro laranja pelo céu, era lindo.

Caminhava observando ao meu redor, logo acabei me perdendo em pensamentos e estava chegando próximo a minha casa, era noite, não havia um único som na rua, as qualquer barulho chamava minha atenção.

Faltavam poucos segundos para minha casa, e então minha chave cai no chão, eu me abaixo para pegar e quando subo novamente sou surpreendida por alguém me empurrando para trás e colocando um pano na minha boca, aquilo logo me fez desmaiar.

Acordei mal, sentia um sentimento negativo, o teto em que estava era o da minha casa, ao olhar para a janela vi o sol entrando, eu realmente estava em casa. Fui me levantar da cama, mas quando levantei um dos braços vi que estava acorrentada, confusa eu puxei fazendo barulho, um suave cheiro de ovos e carne me fez deitar novamente me encolhendo na cama, eu procurava com os olhos algo para tirar aquilo da mão.

— Hey! Ela acordou! — Um homem parado secando as mãos me olhou.

— A... — Ia dizer algo mas outro apareceu vindo na minha direção.

— Deixa eu ver uma coisa — Ele chega perto de mim e segura meu queixo com forca— Parada! Quero ver seus olhos.

Uma luz forte saiu de algo que ele apontava para minha visão, e após isso ele levantou e ficou em minha frente.

— Ela tá bem.

— Não eu não estou, quem são vocês? — Digo confusa me encolhendo na cama de novo.

Os dois dão um sorriso.

— Sou Ran Haitani. — O que segurou meu queixo disse isso.

— Esse é meu irmão Rindou. — Ele continua enquanto o outro apenas me observa.

Quando meus olhos melhora  bem de ter acordado me dou por si que esses dois, eram os garotos que me olhavam no parque. Senti meu coração começar a bater mais forte, a agonia de estar presa em minha própria cama, e que dois desconhecidos estavam no meu quarto, me deixou desconfortável e quase tendo um ataque de pânico.

— O... Oque vocês querem comigo? — Falo baixo.

— Você? Bom... De você nada. — Rindou largou o pano da mão e veio e se aproximou.

— Conhece esse homem? — Ran mostra a foto do meu pai.

— Sim... Esse é meu pai, Karino Wakunai.

— Exato, você está aqui justamente por que ele nos pediu. — Ran sorriu colocando uma mão na cintura.

— Esse homem quer que você volte para casa, e nós já arrumamos tudo... Só que...

A campainha toca e então Rindou vai até a porta, Ran se senta perto de mim.

— Escuta, posso abrir isso pra você... Mas só se não correr... — Ele dizia isso sorrindo, como se soubesse meus próximos passos.

Balanço minha cabeça e então ele tira uma pequena chave do bolso abrindo minha algema, eu seguro meu pulso que estava doendo, e na primeira oportunidade o empurro e corro até a porta, lá eu vejo uma senhora, ela era a dona do meu prédio, Shinari Minazuko.

— Oh! Senhorita S/n! Vejo que está acompanhada pelos dois irmãos Haitani!

A voz dela suava animada. Segurando a porta Rindou me deu um olhar sério.

— Ah senhora Minazuko, parece que minha amiga ainda não está bem, ela ainda está com dores de cabeça e alucinações. — Ele diz olhando para a senhora que fez cara de pena.

"Alucinações" repeti na minha mente, eu não estava tento alucinações, esses malucos doidos me sequestraram!

Sentia a necessidade de falar com ela, e pedir ajuda, mas eu via, era nitido que eles planejaram tudo para esse momento.

Meu pai, ele sempre foi um homem silencioso, pouco afetuoso, era completamente diferente da minha mãe, com certeza é o tipo de cara que você não iria querer entrar em uma discussão. Não sei nada sobre ele, afinal nunca fui íntima, mas, sei por parentes que ele teve um passado com envolvimento de gangues quando morava aqui ainda.

— Entendo, entendo... Bom se ela não melhorar vocês dois sabem... Podem me ligar, senhorita S/n é minha inquilina favorita. — Minazuko falava de forma triste.

— Vou melhorar sim, muito obrigada pela preocupação da senhora. — Digo sorrindo.

Rindou fecha a porta e Ran aparece por trás de mim apoiando o queixo no meu ombro.

— Acontece que você não vai melhorar, você vai sair do Japão... Entendeu? — Ele cheira meu pescoco— Docinho?

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