MORTE2002
— Eu me recuso! — O berro que expressava meu descontentamento ecoou pelo palácio mais majestoso de todo o universo.O Reino dos céus parecia mais iluminado para todos os anjos naquele fim de tarde, menos para mim. Nenhum brilho ali me faria sorrir e comemorar a decisão que Gabriel havia tomado em relação há meus recentes comportamentos.
— Você está rebelde, rebelde como ele! — Acusou Miguel lançando um olhar que me cortava, não tanto quanto suas palavras.
Estavam me comparando a Lúcifer, o anjo rebelde, o rei da mentira, odiado pela humanidade, no entanto perdoado por Deus. Afinal a guerra entre o céu e o inferno havia acabado quando o pai encontrou amor no lugar mais sombrio do universo.
O coração de Lúcifer.
Porque Deus é amor, porque Deus não passaria a eternidade julgando um filho, porque para ele há esperança até no poço mais fundo.
A questão é que naquela manhã eu havia dito algo que não se era ouvido a muitos e muitos anos no Reino dos céus.
— EU ABOMINO OS HUMANOS!
Foi o que gritei quando voltei de uma jornada onde precisei ceifar a alma de uma criança de oito anos que havia sido torturada e morta pelo próprio pai.
Ser a Morte é lidar com as piores atrocidades de perto, pois nem sempre há beleza em minha existência, nem sempre recebo idosos com sua missão na terra concluída em meus braços. Um humano pode ser tão cruel, tão monstruoso e abominável e eu estava tão cansado de tantos finais dolorosos que minha garganta gritou o que minha mente berrava a séculos em minha cabeça.
Meus irmãos não gostaram de meu tom, e me arrisco em dizer que meu pai também não. Minha fala causou revolta e pânico em solo sagrado, e no fim da tarde o céu inteiro se questionava.
"Há um novo Lúcifer entre nós?"
Houve uma reunião entre os arcanjos, e fui convocado a receber minha penitência. Eu não estava com medo, medo não fazia parte de minha personalidade, muitos me chamavam de anjo sem emoção, por eu ser o único a não demonstrar qualquer sentimento.
— Hoje nasce na terra um específico humano, e você será designado a ser anjo da guarda dele até o fim de sua vida. — A fala veio de Gabriel que era líder daquela espécie de julgamento onde meu comportamento que "exalava revolta" segundo eles, estava sendo analisado.
— Eu me recuso!
— Você está rebelde, rebelde como ele!
— BASTA! O que o pai acha disso Gabriel? — Questionou Rafael que assim como eu havia acabado de chegar.
— A idéia foi dele, não é uma penitência, mas sim um aprendizado. — A fala de Gabriel fez meu corpo enrijecer, afinal o que eu aprenderia sendo babá de um humano por no mínimo oitenta anos?
Minha função sempre foi ceifar as almas deles, cuidar de suas decisões pós morte, ouvir seus testemunhos hora cheios de felicidade, hora cheios de arrependimentos, treinar anjos que me ajudassem a fazer isso, visto que milhares de humanos morrem todos os dias.

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o que ele não viveu. | jikook
Roman d'amourO anjo da morte falha ao ser designado a uma missão muito importante e como punição é mandado a terra para viver uma vida no corpo físico de seu protegido. ⚠️ Contém gatilhos. ⚠️ Não é sad fic.