Capitulo 1

20 1 1
                                    

O tempo estava nublado aquele dia em Nervídea. Era o fim do outono, as árvores já se desfaziam de suas folhagens e os ventos sopravam gélidos, anunciando a chegada do inverno. Já não se ouvia mais os pássaros e o fim da tarde tornava-se ainda mais triste.
Era hora de voltar para casa, a noite já ia se aproximando e os sons da floresta tornavam-se cada vez mais atiçados.
Atlas, meu cavalo, começava a ficar impaciente.

Embora a caçada não tivesse sido tão boa quanto esperava, já garantiria um dinheiro a mais.
Ao me aproximar, vejo Atlas encarar fixamente a floresta fechada ao seu lado com as orelhas em pé, sinal de que algo não estava certo.

- Ei, garoto, acho que já está na hora de irmos. - falo, vestindo minha capa.

Penduro a caça e o arco no arreio e monto.
Começo a galopar para fora da floresta meio depressa, na intenção de chegar em casa antes do anoitecer.

Adentro o vilarejo após o pôr do sol. Prendo Atlas no pequeno lugar que chamamos de estábulo e começo a desmontá-lo.
Ouço atrás de mim um barulho de passos se aproximando, olho para trás e nada vejo. Semicerro os olhos, mas volto-me novamente para frente.
Sinto então mãos em meus ombros, agarro a adaga que está na minha cintura e viro-me depressa apontando-a para o pescoço de quem me espreitava.

- Ei, maninha, calma! Sou eu! - Brian, meu irmão gêmeo, diz em risadas.

- Droga, Brian! Uma hora você fica sem pescoço com essas brincadeiras!

- Ah, que isso, Emily! Com esse golpezinho? Teve sorte de que era eu! - Ele diz, debochado. - Como foi a caçada? Vejo que só conseguiu dois coelhos hoje.

- Sim... com o inverno chegando, começa a ficar mais difícil caçar. Tenho sorte de ter encontrado esses dois ainda. - termino de desarrear Atlas.

- Porque você ainda insiste nisso, Emily? Sabe que é perigoso e, se não está dando lucro, qual o sentido de se arriscar assim? - Brian diz, enquanto caminha ao meu lado.

- A caçada é mais que um mero trabalho, Brian! Mas você não entenderia... - desvio o olhar - Vamos entrar, mamãe deve estar esperando.

Penduro minha capa ao entrar e sou surpreendida com um abraço no meio das pernas.

- Emy!!!

- Oi, pequena! - Beijo o topo de sua cabeça. Anne é minha irmãzinha mais nova, 6 anos.

- Emy, sabia que meu aniversário está chegando?

- Sério? Mas você já não fez aniversário? - faço cara de confusa. -Eu me lembro, foi no ano passado!

- Sim, Emy! Mas aniversários são todo ano! - ela sacode meus braços.

- É claro que sei, pequena! Como acha que eu poderia esquecer o dia mais feliz da minha vida? - falo, bagunçando seu cabelo e apertando seu nariz minúsculo.

- Emy? - ouço da cozinha. O cheiro do jantar exalava por toda a casa, fazendo meu estômago roncar.

- Sim, mamãe?

- Que bom que chegou! Já estava ficando preocupada. - ela se achega e beija minha testa. - Agora vá se lavar e tire essas botas, estão sujando a casa inteira!

- E eu estou morto de fome! - diz Brian, entrando na cozinha atrás de mim.

- E você, vá se lavar também! - diz minha mãe.

Subo ao quarto, tiro minhas botas e sinto um alívio tomar conta de mim.
Depois de me preparar, desço para o jantar. O cheiro estava realmente delicioso!

Minha mãe cozinhava muito bem! Ela tinha uma barraca de sopas na feira, mas quando engravidou de Anne, devido aos riscos da gravidez, teve que dar um tempo nos trabalhos e, por isso, perdeu o ponto.
Agora sua idade já estava avançada e não podia mais trabalhar na feira, apenas costurava e fazia remendos nas roupas de algumas pessoas na vila e isso lhe servia de renda.

Reinado de EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora