1. Primeira

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— Hmm, Noelle... — O timbre de Asta era cauteloso, da maneira que só se tornava quando ele havia aprontado algo.

Normalmente, a garota da realeza já responderia perguntando aos berros o que ele havia feito. No entanto, ela ainda lutava para recuperar o fôlego, sua respiração acelerada e ofegante.

Então, a única coisa que conseguiu fazer, foi direcionar seus olhos róseos para o portador da antimagia, esforçando-se para transmitir exasperação pelo que quer que ele tivesse feito, e não os sentimentos que começavam a crescer novamente em seu interior, conforme seu olhar descia pelo peito musculoso e...

Mentalmente, a garota gritou para manter o foco. Ela ainda estava cansada e suada da última rodada, certamente poderia aproveitar algum descanso.

— As coisas meio que vazaram... Aqui em baixo — explicou Asta, e só então o olhar da garota seguiu em direção ao que a destra negra do rapaz segurava.

— Oh... — ela murmurou, languidamente, ainda entorpecida pelas atividades recentes, até que a gravidade da situação a atingiu como uma martelada, fazendo com que ela se sentasse num rompante. — Astúpido! Como foi deixar isso acontecer??? — acusou.

— Eu não sei, parece que simplesmente rompeu — tentou justificar. — Você, hmm, pode fazer algo quanto a isso? — indagou, preocupado.

— Não é o ideal, mas sim — respondeu, suspirando em seguida ao pensar no passeio mortificante que teria que fazer para resolver a situação. E eles ainda partiriam para uma missão no dia seguinte!  — Bem, é melhor eu voltar — decidiu a garota, começando a se vestir.

Asta soltou uma interjeição descontente.

— Por que não passa a noite? — indagou, jogando-se contra o colchão e agarrando-a no processo. Noelle riu, levemente, enquanto tentava se libertar da prisão que eram os braços musculosos.

— Finral provavelmente vai passar para te chamar para a missão de amanhã, e eu não quero ter que me esconder embaixo da cama de novo e depois esgueirar pelos corredores durante o dia, torcendo para não ser vista — respondeu.

Os dois sabiam que seria mais fácil se simplesmente revelassem seu relacionamento, mas eles não estavam prontos para isso ainda.

Porque tornar público que um membro da realeza e um camponês estavam em um relacionamento romântico, os forçaria a sair da bolha de felicidade que era só deles e enfrentar toda as críticas e julgamentos que certamente viriam, além de obrigá-los a pensar no futuro que queriam.

Algo para o qual ainda não estavam totalmente prontos.

E por mais que confiassem nos touros negros, eles sabiam que se o comportamento de seus colegas se alterassem, ou se qualquer um deles deixasse acidentalmente escapar o namoro, os boatos cresceriam. Além disso, também não estavam exatamente animados para encarar as zoações e piadinhas que certamente viriam quando os demais membros do esquadrão descobrissem.

Então sim, depois de alguns anos de paixão platônica de ambas as partes, seguidos de outros que foram pontuados por múltiplos amassos, Asta e Noelle finalmente haviam se estabelecido em algo próximo a um relacionamento comum.

Eles já se tratavam por namorados e até mesmo começavam a discutir o que esperavam da relação.

Claro, essas coisas eram visões distantes do futuro, mesmo que avançassem pela casa dos vinte.  No momento, suas maiores preocupações direcionadas ao aspecto físico do relacionamento.

O que os trazia de volta ao problema em questão.

— Eu preciso ir, Asta — a jovem de cabelos prateados declarou, em timbre suave que surpreenderia a maioria daqueles que convivem com ela, em regra acostumados com sua personalidade imponente.

Com um resmungo, Asta afrouxou o aperto, mas não sem antes estalar um beijo na bochecha da jovem.

Noelle suspirou feliz e retomou a atividade de se vestir, sendo imitada pelo outro.

— Eu te acompanho — declarou o rapaz. — Um banho antes de dormir não faria mal — acrescentou, balançando as sobrancelhas sugestivamente.

— O mesmo aqui — Noelle concordou. — Mas cada um no banheiro da sua ala — acrescentou, sem se comover pelo beicinho que o outro armou. — Eu também não quero ter que afundar na banheira para me esconder se alguém resolver entrar.

— Mas é madrugada! — Asta argumentou. — E além disso, sua magia lhe permite respirar debaixo da água —  acrescentou.

— Mas meu cabelo fica horrível depois. Então não — tornou a negar, para em seguida estalar um selinho na boca do rapaz.

— Ok... — concordou ele, desanimado, tomando a frente para abrir a porta e checar o corredor. — Droga, o Henry já mudou o formato do QG — lamentou, enquanto saía.

Noelle também praguejou baixinho. Não era o ideal se esgueirar sem querer ser vista, quando não tinha a menor ideia de em que ponto da base se encontrava. Nas noites que não podiam passar juntos, eles costumavam tomar o cuidado de não encerrarem seus encontros muito tarde, justamente para se anteciparem à mudança da ordem dos cômodos do QG. Mas não foram raras as vezes em que se atrasaram, seja pelo sono acidental, pelas conversas despreocupadas que mantinham ou, como naquela noite, pela disposição insana de Asta que o levava a querer repetir suas atividades de novo e de novo.

— Isso é culpa sua! — aos cochichos, alegou a garota da realeza, mas tudo o que conseguiu em retorno à sua acusação, foi um grande e presunçoso sorriso de Asta.

Pé ante pé, os dois seguiram pelo corredor. Eles haviam tido sorte nessas situações até agora, mas sabiam que arriscar não era o ideal, especialmente em um esquadrão em que parte dos membros possuía magias favorecidas pelo período noturno, e o resto gostava de vagabundear sem qualquer peso na consciência.

Eles estavam prestes a alcançar o fim do corredor, quando uma de suas inúmeras portas se abriu, revelando de imediato um Yami de olhos sonolentos e cabelos mais desgrenhados que o normal.

Os dos jovens lançaram uma exclamação de surpresa, mas foi Noelle quem primeiro se recuperou e pôs-se a falar:

— Oh, capitão! Asta e eu nos encontramos para discutir estratégias. — Mentira. — Porque faremos uma missão juntos amanhã — Bem, isso era verdade.

Yami fixou brevemente os olhos na garota, sua expressão deixando-os em dúvida se ele realmente se importava com o que quer que fizessem, ou se o sono o impedia de processar corretamente o que ela havia acabado de dizer, antes de dar de ombros e falar:

— Sumam da minha frente. Preciso cagar.

O jovem casal observou enquanto o homem mais velho seguia pelo corredor, o barulho dos passos arrastados competindo com os sons de murmúrios. Só então, notaram a figura de Gordon parada mais adiante, na mesma direção para a qual o líder ia.

Envergonhados, Asta e Noelle seguiram no sentido oposto, aliviados quando finalmente encontraram a divisão para a ala  feminina.

— Acha que convencemos ele? — a garota indagou, nervosa.

— Com aquela sua mentira horrível? — Asta criticou. — Agradeça que o sono e a pressa de atender o chamado da natureza tiraram a mente do capitão do jogo — completou.

— Cala a boca, Astrupício! — exclamou a jovem, sinceramente ofendida.

Vamos Agir como se Eles não Soubessem Onde histórias criam vida. Descubra agora