4. Quarta

555 53 2
                                    

Em razão da quantidade de membros que o esquadrão possuía, não era comum que todos saíssem da base ao mesmo tempo.

Aliás, considerando que Henry nunca saia da base, o local estar totalmente vazio era praticamente impossível, mas por algum milagre ou coincidência insana, além do dono da mansão, não havia mais ninguém no QG naquela noite.

Foi o que Asta e Noelle perceberam, assim que adentraram o local ao retornarem de uma missão breve nos arredores, a primeira notando a ausência da mana dos colegas, e o segundo, a falta do ki.

Noelle não perdeu o olhar de expectativa que Asta lançou sobre ela, certamente calculando as vantagens que a privacidade na base poderia oferecer, mas em resposta, balançou a cabeça antes de dizer:

— Não mesmo. Ainda estou cansada.

— Foi uma missão simples aqui perto. Você incapacitou os ladrões antes que eu pudesse puxar a espada do grimório — Asta lembrou, uma nota de insatisfação em seu tom, por ela ter ficado com toda a diversão.

— Isso é porque eu queria voltar logo para casa — argumentou ela, jogando-se sobre o sofá maior que ficava de frente para a mesinha e fechando os olhos.

Asta não contestou, reconhecendo uma batalha perdida quando via uma. Isso não queria dizer que ele não pretendia vencer a guerra.

Tão desinteressado quanto podia parecer, ele levantou as pernas da namorada para que pudesse se sentar no sofá, com os pés dela em seu colo. Em seguida, retirou as sandálias e as polainas da garota da realeza e passou a massagear-lhe os pés. Noelle  inicialmente abriu um dos olhos, espiando desconfiada, mas logo passou a murmurar em deleite.

— Tão bom — elogiou ela, relaxando ainda mais.

Percebendo o momento de seguir com seu plano, Asta passou a massagear com a mão esquerda, enquanto à direita subia pelas pernas nuas da jovem de cabelos prateados, até acima do joelho, de maneira que esperava parecer despretensiosa.

Ele sentiu a garota enrijecer e arrepiar com seu toque, mas a reprimenda que havia previsto não veio, o que significava que ela estava menos resistente do que previra.

Encorajado, o rapaz continuou com seu estratagema, revezando nos pés que massageava e as pernas que alisava, até que decidiu subir a mão de maneira mais ousada, estacionando-a na barra da saia da garota, com a qual começou a brincar.

Noelle abriu os olhos lentamente e Asta não pode conter o sentimento vitorioso que cresceu em seu interior no momento em que ele reconheceu desejo ardente nas íris róseas.

Com um sorriso predatório, se colocou acima dela.

— Eu odeio você — a garota da realeza resmungou.

Asta riu alegremente, antes de ser puxado  pela nuca para um beijo acalorado, que logo se tornou um amasso com mãos impróprias e ousadas, que certamente se tornaria algo mais, se ambos não tivessem captado que já não estavam sozinho na sala.

Assim que sentiu um pico de mana próximo, Noelle empurrou Asta de cima de si, de modo que o garoto mal teve tempo se processar o ki de três de seus amigos antes de aterrissar no chão com um baque e um gemido de dor.

O movimento, claro, chamou a atenção de Finral e Vanessa, que mal haviam chegado em um portal e se aproximaram rapidamente para conferir o que ocorria, Noelle mal conseguindo se sentar à tempo.

— Asta! Você está bem? — indagou o usuário de magia espacial.

— O que aconteceu? — Vanessa indagou, confusa.

— Ele caiu — em seu ritmo arrastado, Henry, que estava parado sob o batente de uma das portas laterais, respondeu. Aparentemente, ele havia chegado ao mesmo tempo que os outros dois, mas teve o cuidado de manter a distância para não afetá-los com sua maldição.

— Eu... Hmm... — desorientado, Asta não sabia realmente o que dizia, até que sua mente clareou com a percepção da situação em que estavam. — Noelle se deitou porque não estava se sentindo bem. Eu só queria ver como ela estava, mas ela me empurrou quando eu cheguei perto e eu me espatifei aqui — contou, com seu jeito irreverente, mal se sentindo culpado por lançar toda a culpa na namorada, que o encarou de modo assassino.

Mentalmente, Asta repassou os argumentos que teria que utilizar mais tarde para convencê-la que aquela era a melhor saída. Afinal, outrora não era incomum que a garota da realeza arremessasse o usuário da antimagia por simplesmente se aproximar dela, situação que foi testemunhada por seus colegas de esquadrão diversas vezes.

— Claro que empurrei! Como ousa se aproximar? Eu sou da realeza! — dramatizou Noelle, jogando um de seus rabos de cavalo gêmeos para trás.

— Oh, querida, você ainda está se sentindo mal? Pobrezinha! — disse Vanessa, empurrando a jovem de cabelos prateados para que se deitasse novamente no sofá.

— Ainda? — Asta indagou, surpreso, em sua preocupação, mal percebendo o arregalar de olhos da namorada.

— Você está vermelha! Talvez seja febre — ignorando-o, Finral comentou com Noelle, enquanto a bruxa colocava as mãos sobre a testa dela.

— Se é mal estar permanente, talvez  devêssemos fazer uma visita à capital e passar no hospital — Vanessa sugeriu, fazendo com que Asta e Noelle congelassem.

— Melhor se cuidar — mesmo da distância em que estava, Henry demonstrou preocupação com a colega de time, ao aconselhar pausadamente.

— I-isso n-não é necessário — a garota da realeza gaguejou. — E-eu estou bem. Juro! — garantiu.

A bruxa a encarou com um olhar de repreensão.

— Bom, se você não melhorar, aproveitamos que Finral está aqui e damos um pulo lá — decidiu, sem ignorar que a outra começou a suar em nervosismo. — Mas por enquanto, basta se cuidar. Você se sente bem para comer agora? — indagou.

— Sim!!! — a jovem de cabelos prateados exclamou com intensidade exagerada, ansiosa para despistar a outra.

— Ok! Não sou tão boa quanto Charmy, mas também posso preparar alguma coisa para você — Vanessa alegou, antes de partir na direção que acreditava estar a cozinha naquele dia.

— Eu ajudo — Finral se disponibilizou, seguindo-a.

— Eu vou voltar para o meu quarto. Melhor não estar muito perto para não correr o risco de prejudicar você, Noelle — Henry avisou, com sua fala arrastada. — Achei que não haveria ninguém na base hoje — murmurou para si mesmo, enquanto se afastava.

— Até mais, Henry-senpai! — Asta se despediu.

Noelle suspirou, o corpo ainda mole pela adrenalina, o que também julgou que acontecia com Asta, dada a maneira que ele despencou sentado, no braço do sofá.

— Os problemas que eu me meto por causa das suas ideias estúpidas! — reclamou ela, enquanto se sentava.

Asta estava prestes a retrucar, quando o ruído de murmúrios chamou a atenção de ambos, que se viraram para trás e repararam em Gordon, que se encontrava sentado no sofá de canto situado próximo à entrada.

Novamente, os dois enrijeceram e se entreolharam, questionando-se em uma conversa mental quando o colega havia entrado e o quanto havia visto, até que concluíram, quase ao mesmo tempo, que havia chegado em meio à confusão com Henry, Finral e Vanessa, já que Noelle não havia captado sua mana antes, ou Asta sentido seu ki.

— Eu me sinto realmente doente agora — comentou a garota da realeza, antes de deitar novamente no sofá, sentindo-se mais exausta que quando retornara ao QG.

— Sobre antes, quando você esteve doente? Eu não fiquei sabendo disso — Asta indagou, encarando-a com seriedade.

— Não se preocupe com isso, Vanessa estava exagerando — Noelle respondeu casualmente. — Eu apenas comi algo na semana passada que não me fez bem — acrescentou, satisfeita em ver o olhar desconfiado abandonar a expressão do namorado.

Vamos Agir como se Eles não Soubessem Onde histórias criam vida. Descubra agora