início

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Havia sido uma longa jornada até ali, porém ele estava determinado. Bem, se ele não estivesse ele não teria esperado bilhões de anos para realizar seu projeto.

Crawly puxou seu pergaminho para checar, pela última vez, suas escrituras. Sua mão doía depois de ter desenhado bilhões de pontos diferentes no plano vazio, porém o resultado final estava enfim nos seus membros doloridos.

Suspirou, por uma última vez, antes de torná-lo realidade.

E então fez o show começar.

Várias, várias, mas várias explosões ocorreram simultaneamente. Os curtos cabelos de Crawley voaram com o vento, mas isso não impedia o anjo de ver sua criação. Elas começaram a tomar diversas cores diferentes, logo diminuindo de tamanho. Quando percebeu, em um piscar de olhos, estava feito: seu trabalho estava feito.

Um grande sorriso abriu-se no seu rosto, seguidos de barulhos de felicidade vindos dele.

Todas as estrelas que ele mesmo criara que um dia nasceram e até mesmo nasceriam estavam naquele plano de massa escura planejado minuciosamente.

Como deu para perceber, as estrelas o atraíam. Ele não sabia de onde havia tirado a ideia desses corpos, porém estava feliz de ter conseguido fazê-los.

"Você que-"
"AH, CÉUS!"

A voz do anjo ruivo ecoou por sua criação. O loiro afastou-se como reflexo, com seus olhos grandes ainda mais esbugalhados.

"Perdão! Eu não queria assustá-lo assim, anjo..." O loiro disse em um baixo tom, com vergonha tomando sua voz "Eu só estava interessado em saber se essa era sua criação..."

"Ah... ah, sim, sim!" A alegria novamente voltou a Crawly "Eu que fiz, eu mesmo!" O outro sorriu em resposta

"Deve ter dado muito trabalho ao senhor..."

"Oh, se deu..." Olhou para sua favorita: a pequena azul, como gostava de chamar, a sua primeira. Seu brilho irradiava seus olhos castanhos "Crawly."

"Perdão?"

"Meu nome. Crawly. Não precisa me chamar de senhor." Desviou para encarar o anjo que conversava com ele: era um loiro de cabelos curtos cacheados e asas lindas. Crawly impressionou-se com sua beleza. A beleza das asas, obviamente

"Ah... claro. Aziraphale o meu, prazer." Sorriu, e voltou a olhar à criação do próximo "Esses pontinhos brilhantes são...?"

"Eu decidi chamá-las de estrelas."

"Estrelas?"

"É. Eu iria chamar elas de 'luzinhas', mas não iria ser original. Tentei 'iluminações divinas', mas isso não pareceu agradar o Todo Poderoso..." Aziraphale identificou certo desgosto na voz do ruivo, porém escolheu não comentar

"Estrelas é um bom nome. Bonito."

Crawly sorriu enquanto os barulhos do vazio e completo tomavam conta da conversa.

"Para o que elas servirão?"

O loiro escutou certo barulho de anseio sair do outro.

"Eu estava esperando para alguém perguntar isso!" Crawly saiu de seu lugar e posicionou-se na frente de Aziraphale "Elas farão parte de um conjunto de corpos celestiais, incluindo até mesmo planetas, e seus habitantes conseguirão vê-los mesmo estando anos-luz de distância deles! Assim, quando eles olharem para esses corpos celestiais - eu estava pensando que eles conseguiriam vê-las ao olhar para o céu - todos os cidadãos conseguiriam saber da existência externa a eles."

Aziraphale ficou olhando as constelações moverem-se, porém seus ouvidos apenas concentravam-se na voz doce do ruivo a sua frente.

"E... ah, ah, tem outra coisa! Dá pra ver que eles se mexem um pouco, né? Bem..." Crawley levou sua mão para cima e logo para baixo, o que fez sua estrela preferida mover-se rapidamente de um extremo a outro "Eu estava pensando em chamar isso daqui de 'estrela cadente'! Sabe, quando alguém olhasse para o céu e visse uma dessas, ele poderia fazer um pedido e um anjo viria para torná-lo realidade! Assim a gente estaria mais ligado aos habitantes do que nunca..."

Os olhos castanhos do ruivo brilhavam que nem pérolas ao falar de seu sonho mais desejado.

Crawly nunca foi um anjo nota 10. Não que ele fosse malvado: na verdade, era o contrário disso. O ruivo era o anjo mais gentil que já existiu. Ele não acreditava na maldade da sociedade que surgiu, surgia e surgiria.

Tanto era sua falta de conhecimento que nem reconhecia a malícia até do próprio céu. Gabriel o havia dito que ele não tinha futuro, porém logo soltou uma risada, o que fez Crawley acreditar que o arcanjo praticava a nova moda: 'ironia'.

Do Todo Poderoso ele havia escondido o projeto de sua vida. Acreditava que faria uma pequena surpresa agradável a Ele.

"Deus... isso...." Aziraphale desviou das cores castanhas para o profundo colorido "Isso é um ótimo trabalho, Crawly." Seus olhos esbugalharam-se.

"S-Sério!?" Sua voz ecoou pelo vazio coberto "Deus, eu... esse foi o primeiro comentário não irônico que eu recebi em tantos anos!"

"Não irônico?"

"Sim! Sabe... Gabriel, Miguel... eles fizeram... er... 'piadas' sobre o projeto."

"Ah..." Aziraphale abaixou seu olhar "...e você gosta dessas 'piadas'?"

"Dói." Crawly juntou-se novamente ao loiro. A palavra saiu instantaneamente quando escutou a perguntar, o que fez o outro olhá-lo "Mas eu só me importo com o que o Todo Poderoso vai falar."

"Você ainda não falou a Ele!?" Crawly, mordendo suas bochechas, negou com a cabeça "...olha, isso pode dar problema-"

"Eu sei que não vai. Ele não vai ter coragem de livrar-se dessa criação."

"É... você tem razão." Aziraphale suspirou antes de dizer

"Bem, eu a achei linda."

Crawly virou ao anjo ao seu lado. Seu rosto apresentava um rubor pelo comentário

"Eu amei as astrelas." O loiro disse olhando ao ruivo

"Ah..." Seu rosto apresentava uma vermelhidão mais forte ainda por conta da confusão que tinha feito, mas também pelo elogio que havia recebido "Oh, Deus, obrigado! Nossa..." Um sorriso até se abriu "Eu deveria ter chamado elas de astrelas..."

"Eu errei?"
"São 'estrelas'."
"Ah, perdão-" Seu rosto ficou vermelho

"Não, não, sem problemas! Na verdade..." Olhou pensativo "'Astros' poderia ser uma variável a seu nome..."

"Logo são estrelas e astros, ao mesmo tempo?" Crawly assentiu "Bem... aquele é meu astro favorito."

O loiro apontou à mais distante delas. A luz azul destacava-se entre as outras.

"Ah... a primeira. É a minha favorita, também."

"Sério?" Assentiu "Bem... qual seu nome?"

"Ainda não a nomeei."

"Como você não nomeou um astro tão bonito?"

"Eu não sei. Mas um dia um nome vai chegar na minha cabeça."

E assim eles permaneceram até Aziraphale ter coragem de parar de ver as constelações para voltar ao trabalho.

Crawly permaneceu observando suas filhas, principalmente a mais velha, com seu nome decidido desde a primeira vez que o loiro apontou a ausência de seu nome.

Em algumas hora ele estaria na sala do Todo Poderoso.

Ele tinha acertado no fato de que Ele não descartaria a criação, porém, infelizmente, esqueceu-se de considerar qual seria o destino do criador.

estrelas || aziracrowOnde histórias criam vida. Descubra agora