remoendo

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Devido a um bondoso e considerativo milagre do querido Aziraphale, 'por algum motivo', a preta, rápida e antiga Bentley não recebia multas desde a primeira vez que suas rodas tocaram as estradas de Londres. Essa provavelmente era a ação poderosa melhor para a sua rotina na cidade. Tantos problemas e estresses evitados...

Entretanto, naquele momento, Crowley perguntou-se se existia uma mínima chance daquele milagre dissolver-se, porque o tanto de pessoas que gritaram ao serem quase atropeladas pelo Bentley praticamente o faziam como o inimigo número 1 da polícia rodoviária naquele momento.

Era óbvio que ele estava ficando lelé da cuca: seu pé pisava fortemente no acelerador, ambas mãos seguravam o volante como se sua existência dependesse disso, e, por Deus, até a música ele tinha conectado nos seus fones de ouvido bluetooth para escutar na altura máxima.

Se pudesse, ele ficaria assim pelo resto da existência, apenas remoendo sua angústia e ódio...

...da situação. Angústia e ódio pela situação. Nunca que ele poderia odiar Aziraphale.

Isso, para ele, era tanto uma bênção quanto uma maldição.

Mas enfim, ele não poderia continuar nesse trajeto para sempre.

Não porque a gasolina iria acabar ou ele se cansaria eventualmente.

Não, ele tinha um destino.

꒰ა☆໒꒱

Aziraphale era o indivíduo que mais amava as coisas terrâneas.

Seu amor explodiu ao experimentar o primeiro rodízio de comida japonesa ao qual compareceu, mais ou menos em 750. Obviamente a comida tradicional sofreu severas alterações desde sua primeira invenção, mas o seu encantamento por ela não havia mudado nem um tiquinho.

A partir daí, vieram os livros, os museus, as igrejas (suas estruturas, principalmente) e tudo. Literalmente tudo. Menos uma coisa.

Na verdade, uma invenção francesa. Ele gostava dela no geral, menos no país que mais amava ficar: a Inglaterra.

Essa invenção era o metrô. O metrô inglês, especialmente o de Londres.

E não era pelos motivos habituais que ele não gostava de se locomover pela cidade com ele. Ele amava, na verdade, as pessoas que encontrava nele, as variedades de atividades que elas realizavam em um só espaço.

Tinha apenas uma razão. Boba para outros, mas significantissíssima a Aziraphale.

Por que os metrôs sempre deviam ter um barulho tão insuportável!?

Desde o início de sua existência (e olha que já faz muito tempo), o anjo ficou incomodado com barulhos altos, porém ele sempre encontrava jeitos de apreciá-los.

Os fogos de artifício eram um clássico exemplo: quando Aziraphale os escutou pela primeira vez, Crowley o viu tremer, porém quando viu sua beleza logo um grande sorriso apareceu no seu rosto.

Porém não havia desculpa para os gritos sofredores que os trilhos às vezes faziam ao terem contato com o trem. Toda vez que ele passava de uma estação para outra, o anjo desesperadamente colocava ambas mãos em seu ouvido.

Era óbvio o porquê de ele estar pensando sobre sua angústia logo agora: o anjo encontrava-se sentado, ao lado de um bebê chorando em seu carrinho por conta do barulho ensurdecedor.

Aziraphale suspirou ao sentir o movimento contínuo parar, o que era sinal para ele afastar suas mãos de suas orelhas.

Só havia duas razões para Aziraphale pegar o metrô:

1. A Bentley estava de mal com o loiro por motivos banais logo não o deixava dirigí-la.

2. Crowley estava chateado com Azi por algo também banal, logo não o levava para os lugares que queria.

Entretanto, o loiro sentiu um peso em sua consciência ao perceber que devia adicionar um novo motivo:

3. Aziraphale deveria encontrar Crowley o mais rápido possível para explicar a situação em que havia se metido.

Aziraphale começou a remexer sua perna ao sentir novamente seu corpo ser jogada ao lado.

Ele também sentiu que deveria ir a certo lugar para encontrar seu amigo tão antigo.

Um certo lugar tão querido para ambos.

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⏰ Última atualização: Sep 30, 2023 ⏰

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