002 | VIDAS PARECIDAS

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TOM KAULITZ
CAPÍTULO DOIS

Hoje faz um mês que eu terminei com minha ex-namorada. Ela me traiu, eu acabei pegando ela e o outro cara no meu apartamento. Até hoje não me esqueço da imagem que passou diante de meus olhos naquele dia. Nós estávamos namorando a dois anos, estava planejando em pedir ela em casamento, quando nos formássemos no final do ano, mas isso nunca irá acontecer.
Eu tinha apego emocional nela, acredito que ela sabia, mas não ligava. Como não ligou em me trair. Eu a amava muito. Sempre que me apaixono por alguém, por mais difícil que seja, eu sempre acabo precisando muito mais da pessoa, como se ela fizesse parte de mim. E quando meus relacionamentos acabam eu me sinto incompleto, como se uma parte de mim tivesse morrido.
Ontem eu conheci uma garota chamada Amie. Ela parece ser alguém muito legal. É bonita e amigável. Ela também teve seu primeiro dia de aula ontem. Não sei o motivo dela ter trocado de escola.
Quando terminei com Wanny mês passado, eu decidi trocar de escola. Bill também estava sofrendo bullying lá, então acabou se tornado uma ótima decisão a que nós tomamos.

—— Bill, acorda! Vamos nos atrasar desse jeito. —— Acordo o garoto, o chacoalhando sobre a cama.

—— Já vou, Tom. Só mais cinco minutinhos. —— O mais novo fala, sem nem ao menos abrir os olhos.

—— Não, Bill! Anda! —— Falo, e saio do quarto seguindo para a cozinha, onde Gustav e Georg estão tomando café. —— Bom dia!

—— Bom dia! —— Gustav fala, sem olhar para mim.

—— Bom dia. —— Georg fala, me olhando durante todo o meu percurso até a geladeira.

Gustav e Georg já terminaram a escola. Agora só cuidam das coisas da banda, enquanto eu e Bill estamos na escola. Felizmente ano que vem a escola acaba, então eu finalmente irei fazer o que eu gosto. Ou seja, tocar guitarra.
Fecho a geladeira e me sento na banqueta ao lado da bancada. Preparo um café para mim e o tomo.

—— Bill! Acorda. Estamos atrasados. —— Grito, mentindo que estamos atrasados.

—— Estou indo, Tom. —— Ouso a voz de Bill, e vejo que o mesmo está descendo as escadas.

[...]

—— Bom dia, alunos. —— O professor fala, mas é interrompido por alguém abrindo a porta bruscamente. —— Atrasada, Amie.
A garota revira os olhos e anda até sua mesa, se sentando ao meu lado.

—— Oi, Amie. —— Falo, tentando ser amigável, mas pelo jeito ela não parece estar de bom humor.

—— Oi, Tom. —— Ela força um sorriso de canto, e leva sua atenção para o quadro.
Faço o mesmo que Amie. Ela realmente não está de bom humor, mas como ela mesma disse, tudo nessa vida tem um motivo. Então se ela está brava tem um motivo.

Fico com minha atenção no quadro até a aula acabar, quando finalmente ela chega ao fim, eu levo minha atenção para Amie, que está com a cabeça deitada em seus braços e com os olhos fechados.

—— Teve uma noite ruim? —— Pergunto para a mesma, que abre seus olhos devagar. —— Espero não ter te acordado. —— Forço um sorriso.

—— Você não me acordou. Só tive uma tarde e uma noite ruim, Tom. —— Ela respondo com o olhar distante.

—— Quer conversar sobre isso? —— Pergunto de uma forma amigável.

—— Eu só não entendo porque meu pai faz questão de me ver, sendo que ele não me ama. —— Ela conta, fazendo eu sentir um aperto no coração. —— Ele sabe que eu não faço questão de ter ele em minha vida. E sabe que eu sei que ele não me quer na vida dele. Então eu realmente não entendo ele.

—— Eu também não tenho um pai presente, mas diferente do seu ele não faz questão nenhuma de me ver e de ver meu irmão. Acho que não somos nada para ele. —— Suspiro me lembrando de meu pai. —— Acredito que seu pai queira você na vida dele. Se não te quisesse ele não iria dizer que quer te ver. Ele pode ser o pior cara do mundo, mas ele te ama. —— Falo, tentando me convencer que meu pai também me ama, mas sei que isso não acontece e que nunca vai acontecer.

—— Ele se separou de minha mãe quando eu tinha três anos, e desde então foram poucas as vezes que ele me viu. Nunca ajudou com uma coisa lá em casa, e agora depois de eu ser mais velha ele quer começar a me ver. Como se fosse muito difícil me ver uma vez ao mês quando eu era pequena. Eu nunca tive uma figura paterna, e sempre sonhei com isso. Não intendo o porque os homens acham tão difícil ser pai. É tão simples dizer um “eu te amo” para uma criança que só precisa de amor.

—— Eu não acho difícil dar amor para uma criança. Bem pelo contrário, o meu maior sonho é construir uma família com a mulher da minha vida, e me tornar o melhor pai do mundo, para poder fazer diferente de como o meu pai fez.

—— Minha mãe, pelo o contrário de meu pai, sempre me deu o mundo. Todos os dias ela faz questão de reforçar o quanto me ama. Então ela faz com que aquela pequena falta que eu sinto de meu pai, não exista. Ela me completa. —— A garota fala, com seus olhos brilhando.

—— Minha mãe também é assim. Mas ela infelizmente mora em outra cidade. Todos os dias eu ligo para ela. —— Conto.

—— Quando eu passei por um momento difícil alguns meses atrás, foi ela que me ajudou. E meu pai, até hoje não sabe disso. —— Amie conta e posso ver uma lágrima se formar em seu olho. Fico mais intrigado em saber o que aconteceu com Amie.

—— Não precisa chorar. —— Falo e seco a lágrima que rola sobre sua bochecha. —— Sempre que você quiser desabafar pode vir até mim. Estarei de coração aberto. Afinal, as coisas sempre acontecem por um motivo. —— Falo, fazendo a garota sorrir de canto.

[...]

Adentro meu quarto e jogo minha mochila no chão. Ando até minha cama e me deito, começando a encarar o teto.

Não sai de minha cabeça o momento em que Amie chorou quando falou sobre o momento difícil que passou. Eu realmente estou curioso para saber, mas não será eu que irá forçar ela a me contar. Se ela ainda não me contou é porque tem um motivo.
Não posso acreditar que até eu estou começando a acreditar que tudo na vida tem um motivo. Pelo jeito Amie tem o poder de mudar as pessoas.

Sorrio de meu próprio pensamento, mas sou interrompido por alguém batendo na porta e logo sendo aberta.

—— Tom. —— Ouço a voz de Bill, então me sento na cama. —— Você está falando bastante com a Amie, né? Parecem ser grandes amigos.

—— Não somos amigos. Eu acho. Apenas conversamos sobre as nossas vidas. Ela conta sobre seus problemas e eu conto sobre os meus. Não sei se posso nos considerar amigos, pois não sei se ela nos considera isso. Mas te garanto que ela é alguém muito legal. —— Falo.

—— Tom, você está se apaixonando? —— Bill fala com um sorriso de canto.

—— Não, Bill. Não estou. Eu apenas gosto da pessoa que Amie é. Ela é alguém legal. E não é porque eu falo com ela, que eu gosto dela como algo mais do que uma amiga. Não quero me apaixonar por alguém agora. Ainda é muito recente o que Wanny fez. —— Explico para Bill.

—— Tá né. —— O mais novo revira os olhos e sai do quarto.

Volto a encarar o teto e pensar no que Amie falou hoje de manhã para mim. As duas vezes em que eu vi Amie, percebi que seu olhar é triste, frio. É tão azul quanto o mar, quanto o gelo, e quanto ao céu em um dia quente de verão. Todas as vezes em que fala sobre seu passado, seu olhar passa a demonstrar medo.

Amie esconde algo que não quer que eu saiba. Amie esconde algo que sabe que algum dia irá me contar. 

𝐒𝐈𝐍𝐓𝐎 𝐒𝐔𝐀 𝐅𝐀𝐋𝐓𝐀 || 𝐓𝐎𝐌 𝐊𝐀𝐔𝐋𝐈𝐓𝐙Onde histórias criam vida. Descubra agora