Capítulo 6

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Rafe

Depois que Beck deixou o rancho, tive um dia cheio. Ajudei Jesse e Clint com a limpeza dos estábulos, arrebanhamos o gado e, mais tarde, fui a Bozeman tentar encontrar um veterinário especialista em equinos para dar uma olhada no potro recém-nascido que, apesar de se comportar mais como deveria, ainda inspirava cuidados.

Mesmo que à noite eu estivesse só o trapo, não consegui pregar os olhos pensando no que a Beck havia dito. Não era possível que meu tio pensasse em doar o rancho em vida para alguma seita maluca depois de ver o trabalho que eu e Finn havíamos feito no Bear Mountain Trail. Ele não podia fazer isso comigo.

Quando amanheceu o dia, fiquei aliviado ao notar que minha equipe já estava restabelecida, mas havia tanto trabalho acumulado, que precisei adiar a visita que pretendia fazer no rancho vizinho, deixando para o dia seguinte.

Na quarta-feira de manhã bem cedo, selei Black Soul, meu mais valioso garanhão, e cavalguei até o Back to the Mountain para ver o tio Jack. Tinha que esclarecer aquela história de seita logo de uma vez, antes que perdesse os cabelos da cabeça, que fervia com tantos pensamentos.

— Bom dia — cumprimentei um funcionário que me recebeu logo na entrada, quando apeei, e segurou as rédeas da minha montaria. Era um dos meus espiões, parte do pessoal que eu havia contratado para cuidar do meu tio e não deixar que o rancho ficasse ao deus-dará. — Meu tio? — indaguei.

— Lá na sala lendo o jornal, senhor.

Depois de subir um pequeno lance de escadas, passei pela porta de tela, encontrando o dono do rancho sentado em sua velha poltrona.

— Bom dia, tio — cumprimentei ao mesmo tempo que atirava o chapéu no mancebo.

— Bom dia... — resmungou sem tirar os olhos do jornal. — O que é que você quer aqui tão cedo?

— Vim ver como o senhor está... — Andei até o bar antigo de pinho no canto da sala. — Isso são modos de receber seu sobrinho? — perguntei servindo-me de uma dose do conhaque que ele guardava para as visitas especiais. — Servido? — Ergui o copo antes de entornar a bebida me preparando para a dura prova de ver meu tio testar minha paciência nos próximos minutos.

Pisquei sentindo o sabor rascante da bebida, enquanto ele resmungava algo parecido com um "não se pode ler um jornal em paz hoje em dia".

Que eu ignorei, naturalmente.

— Já falei que não preciso de nada, as coisas aqui vão de vento em popa, não preciso de um moleque enxerido metendo o nariz nas minhas coisas.

— Hum... Tem certeza? — Pressentindo que precisaria, entornei mais uma dose, servi outra para degustar devagar e caminhei para a poltrona em frente a ele. — O senhor deveria deixar logo esse orgulho de lado e aceitar fazer sociedade comigo, seus estábulos estão em petição de miséria... Para dizer o mínimo — falei e me sentei, provando o sabor frutado e intenso da bebida.

— Isso nunca! — Dobrou o jornal e o bateu no colo, fixando o olhar cheio de ira em mim. — O Bison Mountain morreu junto com a traição do desgraçado do seu pai e só vai ressurgir em cima das minhas cinzas!

— Justamente, o senhor aceita a sociedade agora, mas os dois ranchos continuam sendo independentes. — Girei a taça apreciando a tonalidade ambarina do líquido que ela continha, dissimulando o estado dos meus nervos. — Depois que o senhor bater as botas, eu faço a coisa toda que jurei no túmulo do meu avô; por quem, aliás —apontei-lhe o dedo da mão que segurava a taça — o senhor não tem um pingo de consideração — e virei o resto.

— E quem foi que disse que você vai colocar esses cascos em cima das minhas terras depois que eu morrer, seu moleque atrevido? — perguntou me olhando com desdém.

A esposa Comprada do Cowboy - Rocky Mountain Stars (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora