Capítulo 9

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Beck

Na sexta-feira saí da cama bem cedo, mesmo que não tivesse pregado os olhos à noite. Não costumava deixar Annabeth dormir comigo, com exceção de alguns dias; quando ela estava doente, por exemplo. Não queria que se desacostumasse da sua própria cama e se sentisse preterida quando, eventualmente, tivesse que deixar a minha.

Mas naquela noite senti a necessidade de tê-la bem perto de mim, como se meu braço ao seu redor e o calor que produzíssemos durante a noite fosse uma bolha capaz de protegê-la de tudo que estava por vir, do resto do nosso mundo que estava prestes desabar.

Desci antes que ela acordasse e liguei a cafeteira. Em seguida, voltei para a sala e conferi a correspondência que a Sra. Clark tinha recolhido enquanto eu viajava e deixado sobre a mesinha de centro para que eu visse depois. Adiava esse momento sabendo o que encontraria, mais uma notificação do banco sobre os pagamentos atrasados da hipoteca.

Abri a correspondência e perdi até a fome, mas não podia me dar ao luxo de ficar sem me alimentar e adoecer, portanto voltei para a cozinha.

A geladeira vazia foi mais um triste lembrete da nossa situação. Eu relutava em ir às compras, segurando os últimos dólares que tinha, mas comida não era algo que pudesse esperar, então decidi que sairia logo depois do café da manhã. Poderia aproveitar a ida à cidade para procurar um emprego, qualquer coisa para fazer e nos sustentar enquanto não resolvesse minha situação com o conselho de medicina veterinária e pudesse fazer o que eu realmente fazia de melhor.

Preparei uns ovos mexidos na margarina com um pouco de espinafre, tomate e cebola da minha horta. Ficou gostoso, eu podia viver sem gordura animal tranquilamente, embora sentisse falta do cheirinho de bacon frito de manhã.

É mais saudável, Beck, tentei me animar.

Comi a última garfada e comecei a reunir os utensílios na pia para limpar e colocar na máquina, quando ouvi os resmungos de Annabeth. Deixei tudo sobre a bancada e subi para ver minha menininha.

— Bom dia, flor do dia! — cumprimentei com um amplo sorriso assim que abri a porta do quarto.

Por mais difícil que estivesse nossa situação, teria sempre um desses para ela. Annabeth era tão pequena, não era justo que eu roubasse sua inocência contaminando sua vida com as angústias do mundo adulto. Enquanto eu pudesse tornaria tudo uma grande aventura para minha filha, até que ela crescesse e tivesse as próprias batalhas para enfrentar.

Bundia fortia! — repetiu o que eu dizia do jeitinho especial que tinha de pronunciar as primeiras palavras, sentada na cama, abrindo os bracinhos num gesto receptivo.

Seu sorriso inocente trouxe lágrimas de gratidão aos meus olhos, porque minha pequena era feliz, apesar de tudo. Enquanto elevava um prece rápida e silenciosa, decidi que faria tudo que fosse necessário para conservar aquela alegria e boa-fé infantil que desconheciam as maldades do mundo.

— Dormiu bem? — Caminhei até a janela e abri as cortinas, deixando o sol entrar e aumentar o brilho de seus olhos acinzentados.

Depois me aproximei da cama, colocando as mãos e os joelhos sobre o colchão, engatinhando até ela. Enchi minha pequena de beijinhos e mordidinhas; ela riu gostoso, sentindo cócegas e deixando o pequeno torso cair sobre a cama.

Aproveitei que Annabeth estava deitada e tirei a fralda, que ela ainda usava durante a noite.

— Vamos ver isso... Nossa, está bem cheia, melhor evitar líquido à noite antes de dormir, mocinha, não quero ter que voltar a levantar de madrugada agora que já te desmamei, hum?

A esposa Comprada do Cowboy - Rocky Mountain StarsOnde histórias criam vida. Descubra agora