Capítulo 44

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Beck

Desci as escadas desorientada. As lágrimas nublavam minha visão, enquanto eu apressava os passos indefinidamente para a frente, sem saber para onde meus pés me levavam e sem me importar com isso também.

Quando dei por mim, eu me encontrava na trilha que rodeava a extensa floresta de abetos, onde costumava caminhar. Estava tão absorta em minha dor que nem me dava conta da neve fofa sob meus pés, no dia seguinte o exercício inesperado cobraria seu preço. Cansada, olhei no relógio de pulso e notei que tinha caminhado mais de uma hora e meia sem parar, passava de uma da tarde.

Encontrei um tronco e me sentei para descansar um pouco.

O corpo entorpecido pelo frio, os pensamentos, pela angústia. Um soluço rompeu o silêncio daquele finzinho da tarde e desabei, deixando a tristeza sair em um choro convulsivo que eu apenas deixei sair.

Quando pareciam ter se esgotado as lágrimas, percebi que estava nevando de novo. Preocupada, eu me ergui e voltei em direção à sede do rancho. Duas horas e meia sentada ali? Não tinha notado o tempo correr, passava das dezesseis e, pela primeira vez desde que tinha saído de casa, pensei que já deviam estar preocupados comigo. Tinha esquecido o celular em casa, nem tinha como me comunicar com eles.

Apressei os passos. Os estábulos já estavam vazios quando passei por eles, os funcionários do rancho já haviam encerrado o expediente. Ouvi um bufido sôfrego vindo lá de dentro, o que desviou meus caminhos.

Desci a pequena escada e andei entre as baias até alcançar a última e maior, que funcionava como maternidade no inverno, já totalmente no modo veterinária.

Antes de abrir a porta, notei a presença da única égua presente no recinto. Storm era uma quarto de milha jovem e muito valiosa. Apesar do nome, era bem dócil, filha de um dos melhores reprodutores da raça no mundo. Sua pelagem tinha aquela tonalidade acinzentada que Rafe dizia ser a mesma de meus olhos e de um céu tormentoso, por isso seu nome.

Ao me aproximar, percebi sua agitação e procurei manter distância, sabendo o que estava por vir. Sabia que ela estava prestes a parir, os obres cheios, o abdômen dilatado já desde o início daquela semana.

A égua se encolhia com as primeiras contrações e eu conferi as horas no relógio, quase dezessete, sentando-me em um canto afastado da ampla baia para observar sem interferir ou incomodá-la com a minha presença. A princípio, ela não precisaria da minha intervenção, a natureza se encarregaria, mas não era todo dia que conseguíamos ver o espetáculo que estava prestes a acontecer diante de meus olhos e a possibilidade colocou um sorriso em meus lábios que eu não pensava ser capaz de esboçar naquele momento tão difícil da minha vida.

Nem sempre conseguíamos acompanhar o parto de uma égua, podiam acontecer a qualquer momento, geralmente à noite e muito rápido. Aquele, no entanto, demorou mais do que eu imaginava, o que me manteve de sobreaviso. Com uma ponta de preocupação, acendi uma luz fraca e continuei observando até ver a bolsa se romper, a égua se deitar e finalmente parir seu filhote. Sabia que estava demorando demais ali e que poderiam estar preocupados, mas não sosseguei enquanto ela não liberou a placenta e o potro ficou de pé, o que deve ter levado cerca de uma hora e meia. Quando ele finalmente mamou, tive certeza de que estava tudo bem, e resolvi voltar para casa.

No corredor entre as baias levei um susto ao notar que estava muito escuro lá fora, apesar das luzes artificiais que iluminavam o caminho. O ar agitado e embaciado fez alarde da verdadeira nevasca em que tinha se transformado a pequena queda de neve da tarde. Uma lufada de vento gelado me recebeu congelando meu rosto e voltei a conferir as horas. Passava das oito, constatei com um susto, puxei o capuz do casaco e apressei os passos, agradecendo o fato de que Annabeth estava com a Sra. Graham no Back to the Mountain. Eu tinha saído de casa por volta de meio-dia e meia, quando podia imaginar que tinha passado tanto tempo fora?

A esposa Comprada do Cowboy - Rocky Mountain StarsOnde histórias criam vida. Descubra agora