Capítulo XII

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O pé de Sakura parecia muito pequeno em sua mão, a pele estava fria por influência da noite e ele o apertou brevemente após enrola-lo com gazes, notando como os dedinhos ficavam rosados instantaneamente.

Sasuke tinha uma ideia de quanto tempo demoraria até o corte estar completamente cicatrizado. Não era largo, mas fundo, por isso a perda de tantas gotas de sangue. Deduziu que estaria cicatrizado em menos de duas semanas, entretanto, isso implicava do quanto Sakura possuía em características humanas. 

Levantou ainda olhando para o pé enfaixado. O antibiótico que havia aplicado iria prevenir contra infecções, uma preocupação que ele nunca havia se prestado antes, algo que nunca aplicaria nele mesmo, que nunca precisaria... Mas o remédio estava lá, na verdade, muitas coisas que ele nem ao menos achava que ainda existiam estavam lá. Estiveram lá desde que começara a cogitar a ideia de trazer Sarada para casa. Nunca acreditou muito nessa aliança entre os clãs de vampiros, Sasuke sabia que um dia iria buscá-la. Mas não achou que demoraria tanto. 

Não tinha por costume lamentar decisões tomadas. Claro, ele pensava antes de fazê-las, ou pelo menos, na maioria delas e então só tinha que arcar com as consequências. Uma vez ou outra, elas só saindo pesadas demais. Duvidava que Sarada iria vê-lo como pai algum dia, contudo, ele o era, querendo ela ou não. 

Geralmente os corações param de bater quando levam um susto muito grande, ou assim era um dizer humano, e mesmo alguns vampiros ainda podem fazê-lo. Mas no dia da morte de Hanabi, Sasuke podia jurar que sentiu o seu que sempre fora imóvel, bater uma única vez. Era como se algo houvesse morrido dentro de si junto a mulher. Algum tempo depois ele percebeu que fora principalmente sua esperança, algo com a qual, apesar de não muitas pessoas pensarem à respeito, é quase impossível de se viver sem, quando se há uma grande diferença entre viver e apenas existir. Porque Sasuke sempre se sentira como um coelho em que a cenoura era posta próxima ao seu nariz apenas para ser tirada depois, porque aprendera que em sua vida as coisas vinham e então elas iam, elas nunca permaneciam. 

Não queria ter laços com ninguém. Porque o corte provacado era diferente. Não gostava de nada que ele não pudesse controlar. 

— Kiba, fique aqui enquanto dou um jeito nas coisas lá fora. — Falou ainda de frente para Sakura com o rosto virado para o lobisomem. 

— Quando você diz "dar um jeito nas coisas lá fora", você quer dizer que ficará lá até que a guerra acabe? 

— Eu voltarei pela manhã ou antes dela. 

— Certo. 

Quando ele voltou sua atenção para Sakura, notou como ela estava ansiosa. Suas mãos estavam postas sobre o colo com os punhos fechados. 

Sasuke que nunca teve problemas com as palavras, provavelmente por nunca precisar usá-las para tranquilizar alguém, ou, simplesmente nunca nem mesmo tenha se prestado ao ato, não sabia o que dizer. 

Procurou na memória momentos em que teve alguma conversa do gênero com Hanabi e não encontrou. Se fosse sua ex-mulher ali, quase certo ela estaria indo com ele ansiosa pela combate. Embora houvesse sido Hyuga, Hanabi não hesitaria em matar, pois já havia escolhido um lado quando casou com ele. Sempre foi uma mulher da guerra. 

— Você vai ficar aqui.— Disse ele e esperou por um protesto que não veio.— Estará segura até eu voltar. 

Sakura balançou a cabeça concordando. 

— Tudo bem.

Quando virou para caminhar até a porta notou que Sakura tirou a mão do colo para tocá-lo, mas então perdeu a coragem e a puxou de volta. Sasuke franziu as sobrancelhas e virou o rosto para olhar em seus olhos. Aquele mar verde onde ele podia ver pequeninos pontos amarelos. Conseguia ver a alma dela apenas olhando em seus olhos, pois eram totalmente expressivos, mostrando tudo que ela sentia, e ele descobriu que gostava disso mais do que achara gostar à princípio.  

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