Extra 01

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Não havia batidas, não havia nada. Deitado de lado, às costas de Sakura encolhida na cama, Sasuke colocou a palma da mão sobre a barriga da esposa. Itsuki estava inquieto como nunca fora, ele era geralmente muito calmo, raramente chutava, e seu coração de certo não batia, Sasuke nunca o ouviu. Era quase como se o bebê sentisse que a hora de nascer estava muito próxima, provavelmente sentia. Sasuke apostava que estava, não tinha nada a ver com pressentindo, apenas com seus muitos anos de vida e com o fato da barriga de Sakura estar no máximo que poderia dilatar.

Nos últimos dias Sakura sentia uma fome absurda, quando não estava dormindo, estava comendo. A fome era principalmente de seu sangue, por isso Sasuke passou a embolsar seu próprio sangue e colocá-lo em uma área de refrigeração ao alcance de Sakura, a uma porta de distância. Pois ele, infelizmente, nem sempre estava por perto.

Por duas vezes chegou a encontrar Sakura dormindo dentro da área de refrigeração com a porta aberta e a boca suja de sangue, como se ela não conseguisse terminar de comer antes que o sono a imobilizasse. Itsuki era um garoto faminto.

Sasuke tentara convencer Sakura a ter o bebê antes das dores, mas ela não concordou. Não podia dizer que não dormia a espera que o bebê desse sinais de que queria vir ao mundo, mas ele com certeza poderia dizer, que a ideia de não ter o controle o assustava de uma maneira totalmente nova. E se Sakura sentisse as dores e ele não estivesse lá?

Ficar nervoso, ou apavorado era coisa de perdedor e ele com certeza não era um.

Sakura gemeu e abriu os olhos, a respiração dela aumentou e antes que ela pudesse pular para fora da cama sua bolsa já havia estourado.

Ela fez menção de levantar-se, seu peito subia e descia, mas Sasuke que já estava à sua frente fora da cama a empurrou gentilmente pelo ombros de volta para o colchão. Ele mesmo faria aquilo, ele não colocaria os principais motivos de sua existência nas mãos de ninguém.

- Vai ficar tudo bem - Ele tentou tranquiliza-la, mas ele sabia que aquilo doeria muito, Sakura também sabia. Ele poderia aplicar um sedativo que colocaria um elefante para dormir, claro se antes conseguisse um, e mesmo assim, provavelmente não faria o mínimo efeito no corpo de uma vampira.

A lâmina cirúrgica que ele usou para cortá-la era pequena, Sasuke sentiu como se estivesse cortando sua própria pele, embora fosse inevitável não cortá-la, os gemidos sofridos de Sakura estavam rasgando seu coração.

Suki não chorou ao nascer, mas ele gemeu e resmungou como só um bebê podia fazer. Ele também passou a devorar seus dedinhos pálidos como o ser faminto que já havia se mostrado ser antes mesmo de nascer.

Ao invés de por o bebê no colo de Sakura que olhava para eles parecendo meio glogue e sonolenta, mas com os olhos brilhando amor, Sasuke achou que ela já havia perdido sangue o suficiente.

Ele fez dois furos em seu dedo indicador e o colocou próximo a boca e consequentemente nariz do filho, que imediatamente achou seus dedinhos demasiadamente desinteressantes se comparados ao cheiro de sangue. Ele sugou o dedo do pai com gula.

Os lençóis e a camisola de Sakura estavam insopados de sangue, mas o corte no baixo ventre cicatrizaria totalmente em no máximo dois dias, com ela ingerindo seu sangue.

Sasuke franziu as sobrancelhas enquanto olhava para o filho, os olhos eram cinzas com pupilas espaçosas enquanto os cabelos eram tão negros quanto os seus, e sua pele tão pálida quanto a sua. Sasuke franziu a fronte mais profundamente, pois o bebê se assemelhava muito a Sarada, e consequentemente lembranças ruins o assolaram, embora a lembrança de Sarada recém nascida também lhe trouxesse um sentimento nostálgico bom.

Sarada e Suki se pareciam muito fisicamente até aquele momento, embora em outros aspectos já mostrassem profundas diferenças. Sarada era um bebê agitado no ventre da mãe, Sasuke podia ouvir seu pequeno coração batendo sempre que se aproximava de Hanabi e ela jamais pedira por seu sangue. Ao contrário de Itsuki, um bebê silencioso, faminto, de um coração morto.

Sasuke colocou o filho nos braços de uma Sakura quase adormecida e beijou-lhe na testa suada.

- Obrigado - Ele agradeceu olhando nos olhos confusos da Uchiha.

- Pelo quê me agradece? - Ela murmurou de volta.

- Por tudo - Respondeu ele. Então ficou muito sério - Nunca me deixe.

Sakura sorriu e devagar colocou a palma da mão sobre a face esquerda do Uchiha.

- Nunca vou deixar.

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