Ariel estava quase adormecendo quando ouviu passos próximos mesmo com o som da chuva leve que caía, levando em contradição as nuvens carregadas que existiam alí há pouco. Se encolheu o máximo que pôde e tentou ouvir alguma voz que indicasse quem estava alí, tão perto.
- ARIEL?? - A voz de Aziraphale se fez presente brutalmente na cabeça do ser, causando uma leve dor. Tanto por terem gritado em seu ouvido quanto por estar feliz de serem os seus pais alí.
- VOCÊS ME ACHARAM - gritou juntamente aos urros de felicidade que Crowley dava enquanto se levantava rapidamente e abraçava seus protetores.
[...no inferno...]
Lúcifer se encontrava radiante naquele dia. Esperava com um sorriso em seu rosto, pois não via a hora de saber como estava sua cria, em contraponto de como tratava a criança na outra época. Hastur e Ligur passaram pelos portões como dois cachorros com o rabo entre as patas e de cabeça baixa. Passaram por entre os outros demônios que viviam lambendo as paredes daquele corredor e foram até a sala do chefe.
Antes mesmo de baterem na porta, a mesma foi escancarada por um Lúcifer que logo se pôs a olhar para todos os cantos procurando a cria.
- Onde está? - atordoado pelo baque da frustração, foi o que conseguiu dizer no momento.
A felicidade se dissipou em segundos dando lugar para a raiva - Onde. Está. A minha. Cria? - perguntou novamente. Assim que Hastur começaria a falar, foi interrompido - Não me digam que não conseguiram trazer uma criança pra mim - o demônio mais velho tentava a todo custo não gritar e matar aqueles dois, vendo que poderiam ser úteis no futuro, e enquanto massageava as têmporas adentrando novamente seu escritório, perguntou - Como não conseguiram trazer uma criança para mim? - e por fim, se sentou no sofá preto no canto escuro do cômodo.
- B-bom, é que... A criança é a criança era mais forte do que imaginávamos e... Aliás, a casa de Crowley estava pomposa demais, não acha, Ligur? - perguntou Hastur, a fim de mudar o assunto temendo a morte.
- Minha cria é mais forte que vocês, então? Pelo menos uma boa notícia. Voltem de onde vieram e tragam-a para mim. O treinamento precisa ser iniciado hoje para que dê tempo - Lúcifer pronunciou por fim e sumiu, deixando os outros dois demônios mais aliviados.
- Você não acha que ele estava calmo demais? - perguntou Ligur assim que saíram da sala.
- Talvez ele esteja achando que conseguiremos pegar a criança - ironizou Hastur.
- Você não acha que vamos conseguir? - Ligur questionou enquanto paravam no início do corredor central, se encarando.
- Claro que não vamos conseguir, Ligur! Porra, se liga cara. Aquele bicho não cai fácil - disse dando um peteleco leve na testa do outro.
- Mas não é só a gente jogar uma praga e pronto?
- Puta merda, Ligur. Você quer matar a cria do chefe ou o que? - Hastur se indignou - Vamos logo antes que ele encontre a gente ainda por aqui.
[...]
Já em casa, Ariel continuava com medo, assustade e tentando organizar todas as memórias que haviam sido difíceis de prender em um baú bem trancado. Estava devagar para raciocinar, sua mente estava lançando um turbilhão de emoções ao mesmo tempo, sendo a grande maioria, emoções ruins.
Foi lentamente até o banheiro para tomar um banho quente devido a chuva fraca que tomou. Já debaixo do chuveiro, se culpava. Pensava como pôde se deixar ir de maneira tão fácil, como pôde deixar seus pais preocupados... Mas principalmente, se questionava, com raiva, do porquê seu progenitor deixava Hastur fazer tais atos consigo.
Assim que terminou o banho, se enrolou na toalha e se olhou no espelho. Havia uma mancha vermelha em sua testa devido a queda que levou mais cedo.
"Idiota", murmurou para si, enquanto ainda se encarava no espelho.
No andar de baixo, Aziraphale e Crowley faziam milagres em todas as entradas possíveis da casa. O anjo pensou então que seu parceiro poderia não saber ainda das coisas que Hastur fazia com Ariel.
E estava certo.
Iniciou a conversa calmamente enquanto ainda colocavam milagres em volta do local. Crowley achou estranho, mas ouviu querendo saber onde aquilo iria chegar. Porém, assim que o loiro ditou o ápice da história, somente o estrondo de uma das janelas quebrando se fez presente. Um milagre demoníaco preenchido de ódio, raiva e contornado por tristeza acabara sendo lançado contra o objeto recém estilhaçado.
Crowley não conseguia dizer nada, nem Aziraphale.
O silêncio perturbador foi quebrado por Ariel, já com roupa, chegando correndo na sala.
- O que houve? Está todo mundo aqui? Está todo mundo bem? - lançou as perguntas ao léu.
Enquanto observava a janela quebrada e tentava entender o que havia acontecido, sentiu seu corpo seu embalado pelos braços longos de Crowley, que solicitava baixo com a bochecha encostada em sua cabeça.
- Me perdoa, Ariel - Crowley pediu com um ressentimento que nunca havia sido ouvido por Ariel. Uma dor quase palpável emanava do demônio - Me perdoa, por favor.
- Perdoar? Pelo que eu deveria te perdoar, pai?
- Eu não sabia que aquilo acontecia. Se eu soubesse, eu juro que não deixaria acontecer - Crowley disse apertando mais Ariel em seus braços.
O ruivo simplesmente não conseguia imaginar tais coisas acontecendo com a sua criança, nem queria. Se encontrasse Hastur naquele momento, com certeza o mataria em segundos por ódio. Tudo o que Crowley sentia pelo outro demônio era ódio.
- Meu amor, não é sua culpa - Aziraphale se aproximou, calmo, afagando levemente a nuca do ruivo - Como acabaste de dizer, você não sabia de nada, não se culpe por isso. E foi então que Ariel entendeu sobre o que Crowley estava falando.
- Pai, não acredito que está se culpando por isso - disse passando os braços fortemente pela cintura fina alheia - Não é e nunca vai ser sua culpa.
"Também não é minha culpa, eu era só uma criança..."
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100 Bad Days
ФанфикLúcifer estava a procurar algum demônio para cuidar de sua cria, pois ele é o fuck1ng Lúcifer e não pode parar por causa de uma criança. Pediu para Lorde Belzebub alguma sugestão; e Lorde, por sua vez (e por seu ódio), recomendou o demônio Crowley e...