Capítulo XII

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Ariel se sentia em uma explosão de felicidade. Já estava com uma animação imensa por ser seu aniversário, e agora está com uma ainda maior (se possível) porque seus pais planejaram uma festa para si, na melhor época do ano.

Estava tudo tão perfeito...

Aziraphale e Ariel rindo por causa de Crowley que fazia birra por não querer sair da casa quentinha... O ruivo forçando uma feição emburrada para ouvir mais das risadas tímidas de seu anjo...

Mas certas coisas boas não duram muito tempo por lei do universo ou de alguém por aí.

Depois de Ariel ter estourado todos os balões, voltaram para dentro da casa e se sentaram em frente à lareira que havia sido acesa por Crowley, com um pratinho com mais bolo, conversando e rindo.
Por volta de cinco minutos depois, ouviram batidas frenéticas na porta. Os três se entreolharam e se perguntaram se algum dali estava esperando alguém. Como todas as respostas foram negativas, Ariel se levantou e foi atender à porta.

"Preciso me lembrar de pedir desculpas à porta depois disso, ela está apanhando feio", pensou e riu consigo antes de por fim girar a maçaneta.

Assim que abriu, uma chuva de perguntas foi jogada na cara de Ariel, vinda de uma vizinha enfurecida por causa do barulho feito anteriormente pelos balões estourados.

- Você está achando que a vizinhança é só sua? An? Você acordou meu filho, agora ele quer um balão também - a senhora disse cruzando os braços em frente ao peito.

- É... Me desculpe, mas eu não tenho mais balões - Ariel explicou coçando a nuca.

- Mas tem que ter! Você acordou meu filho! Agora me dê uma desculpa senão ele vai chorar!!

- Senhora, não tem mais nenhum balão aqui. Sinceramente, não tem! - Ari tenta explicar mas recebe uma onda de xingamentos vindos da senhora e dizendo que é para Ariel ir comprar mais balões e dar para o filho dela.

Após conseguir finalmente se livrar da mulher dizendo que ficará devendo um balão para o filho dela, o ser fechou a porta e deu um longo suspiro. Voltou para a sala e encontrou seus pais aos beijos.

- Opa, que isso gente? Tem criança em casa! - brincou, se sentando e assustando os pombinhos.

Aziraphale corou dos pés à cabeça e Crowley só riu e perguntou quem era na porta. Ariel explicou o que houve e se deitou no carpete.
As coisas estavam quase entrando nos eixos quando ouviram mais batidas na porta. O ser soltou um xingamento quase inaudível e se levantou novamente, praguejando e indo até a porta novamente, já começando a dizer que logo compraria um balão, pensando ser a vizinha chata. Mas assim que abriu a porta, tudo escureceu. Ariel apagou por um milésimo de segundo, sentiu seu corpo mole e fraco ser carregado por dois seres. Após várias e várias placas que foram passando enquanto seu corpo era carregado, Ariel sentiu suas forças voltarem com toda a violência fazendo um urro de dor sair por sua garganta.
Os dois seres se espantaram e como por hábito, deixaram o corpo alheio ser derrubado contra o chão de uma rua qualquer e abandonada, porém, não se afastaram. Ficaram encarando Ariel se levantando com uma lágrima solitária correndo pelo canto de seu olho por causa da pancada, e começaram a discutir.

- Por que você não usou um milagre mais forte? - uma voz grossa e parecida com a de um fumante de séculos ecoou no cérebro do ser que ainda se encontrava no chão, um pouco atordoado.

- Eu não sabia que esse era um osso duro de roer! - outra voz mais grossa ecoou.

- Mas que merda, Ligur! Você não serve pra nada! - a primeira voz soou novamente, em tom irritadiço.

"Ligur...", o ser pensou.

Ariel se recordava desse nome, mas nem se preocupou em pensar muito nisso. Só se concentrou em arrumar mais forças para fugir dalí.

- Vai se foder, eu não tive toda a culpa, Hastur!

"Hastur... MERDA! Hastur está aqui! Eu preciso fugir", pensou novamente com uma onda de memórias ruins atacando seus neurônios e com forças sabe-se lá de onde, Ariel se arrastou com cuidado para não chamar a atenção dos dois demônios que brigavam.
Quando virou a esquina, Ari encontrou um arbusto onde poderia facilmente se esconder até recuperar o resto das forças. Se infiltrou no meio dos galhos baixos e respirou fundo. Conseguia ouvir a voz dos dois seres ainda brigando mas logo parando e aparentemente notando que Ariel já não se encontrava mais alí. O ser apenas olhou para cima e viu o céu do fim de tarde indicando que uma tempestade estava prestes a aparecer.
Enquanto os dois demônios procuravam em todo canto por Ariel, Crowley e Aziraphale se perguntavam o que havia acontecido por Ari estar demorando tanto para voltar. Decidiram ir até a porta para ver se o ser estava bem, porém, só encontraram um pouco de neve entrando pela porta que se encontrava aberta. Na hora, Crowley notou que tinha acontecido.

Aquilo tinha acontecido. Aquilo que ele esperava que nunca acontecesse, aconteceu bem embaixo de seu nariz. E ele nem fez nada.

Aziraphale compartilhava dos pensamentos de seu ruivo. Se sentia culpado. Mas não iria se abalar tão fácil como o demônio, ele iria atrás de Ariel até o inferno (literalmente).

- Crowley, querido, sei o que está pensando, mas talvez Ariel tenha se livrado deles. Você sabe o quanto aquele serzinho é forte. Vamos atrás de Ariel? Hm? - Azi tentou encorajar o outro, o que deu certo.

O ruivo, que se encontrava estático encarando a porta aberta, desviou o olhar para o seu loiro e determinado, fechou seu casaco e partiu para fora da casa sem pestanejar, sendo seguido por Aziraphale.

Algumas gotas já estavam caindo e Ariel continuava na moita, da forma mais encolhida possível. Hastur e Ligur já tinham desistido de procurar pelo ser, tendo em visão que já estavam procurando por horas e preferiram voltar para o inferno e levar uma bela bronca do que continuar andando de forma patética e sem rumo por aí.

Ariel teve tempo o suficiente para se lembrar do quanto Hastur é nojento.

[...14 anos atrás, no inferno]

O pequeno serzinho com seus quatro anos, mas ainda sem nome, bateu fraco na porta do escritório de seu pai, adentrando o local escuro e sombrio após ouvir um "entre".
Foi até Lúcifer que tinha uma feição estressada e pediu colo, ato que foi rapidamente recusado.

- Papai, dá colo? - tentou novamente esticando seus bracinhos para cima, abrindo e fechando as mãozinhas.

- Agora não, porra! - Lúcifer esbravejou assustando a pequena criança, mas logo notou seu ato - Foi mal, não queria te assustar. Olha, eu não posso me distrair muito agora, vá com o tio Hastur - explicou e logo o demônio citado adentrou o local e pegou o serzinho no colo e levando-o para fora.

"Mas o tio Hastur não sabe brincar...", pensou a pequena criança.

O demônio inventava maneiras e mais maneiras de tocar o corpo da criança da forma mais nojenta existente, tal que não entendia a gravidade daquilo na época, mas após contar tais fatos para Aziraphale soube o quão horrível aquele demônio era.

100 Bad DaysOnde histórias criam vida. Descubra agora